São Paulo, quarta-feira, 22 de março de 2006

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LIVRO/CRÍTICA

Jornalista lança jornada turística pela economia chinesa

GILSON SCHWARTZ
ESPECIAL PARA A FOLHA

Se os economistas fossem mais viajantes e os viajantes, mais economistas, o mundo seria melhor. Ou pelo menos os livros, tanto de economia quanto de turismo, seriam mais interessantes (o que não seria feito menor). Cláudia Trevisan, jornalista de economia com passagens pela Folha, "Valor", "Gazeta Mercantil" e "Estado", consegue a proeza, com agilidade e humor, em "China - O Renascimento do Império".
A orelha do livro é assinada por Clóvis Rossi, colunista da Folha e jornalista igualmente viajado nos temas da economia. O mestre, aliás, escreveu o texto quando em viagem, "no exato momento em que estava cobrindo o Fórum Econômico Mundial". E adverte: para os brasileiros, ler este livro "é uma obrigação, quase um dever cívico", desde que a corretora Goldman Sachs inventou a "buzzword" BRIC (Brasil, Rússia, Índia e China) para designar os mercados emergentes mais promissores do mundo.
Para não perder o trocadilho, o livro apresenta ao leitor um "bric-à-brac" da realidade chinesa, composto pela jornalista com base na vivência de um ano como correspondente da Folha, em 2004. Mas, como boa jornalista, Cláudia Trevisan apresenta dados de dezembro de 2005. Ou seja, o livro sai do forno com informações atualizadíssimas.
Alguns trechos foram publicados anteriormente na Folha Online, como o divertido relato da ida a um banheiro na China, de abril de 2005. O texto flui bem, num ritmo de "corta e cola", muito próximo da linguagem mais contemporânea do zapping ou videoclipe -imagens e informações sucedem-se em ritmo frenético, viajamos entre temas, lugares, situações. Tudo muito impressionante, ficamos ainda mais perplexos (e, às vezes, indignados) com a enormidade chinesa.
O bric-à-brac coleciona curiosidades de valor que, no conjunto, dão vontade de saber mais. Essa é a qualidade dos bons guias introdutórios: esclarecem, mas não suspendem a misteriosa curiosidade do viajante potencial, seja ele um turista, seja um empresário interessado, mas inseguro, sobretudo diante da barreira lingüística. A autora oferece dicas preciosas para quem pretende se aventurar sem saber mandarim.
Felizmente, Cláudia Trevisan evita a futurologia, o maior vício dos economistas e principalmente dos especialistas em China, incansáveis arautos da potência emergente que em breve (para quem pensa na escala do tempo chinês isso significa "em poucas décadas") viria a superar os Estados Unidos como potência hegemônica global. O livro não deixa de fora nenhum dos principais desequilíbrios sociais, econômicos, políticos e culturais da China contemporânea. Reconhece a potência do século 21 sem perder o senso crítico tão raro em boletins financeiros e guias de turismo.
Para o leitor brasileiro, especialista em economia ou apenas "cidadão comum", a obra é uma oportunidade rara de viajar sem tirar os pés do chão.


Gilson Schwartz, 46, é professor da Escola de Comunicações e Artes da USP e diretor da Cidade do Conhecimento

China - O Renascimento do Império
    
Autora: Cláudia Trevisan
Editora: Planeta
Lançamento: hoje, a partir das 18h30 na Livraria Cultura do Conjunto Nacional (av. Paulista, 2.073, São Paulo, tel. 0/xx/11/3170-4033)
Quanto: R$ 32,50 (240 págs.)


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