São Paulo, sábado, 22 de março de 2008

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Taunay foi melhor pintor que Debret, diz especialista

Autora do catálogo raisonné de Taunay, Jouve discorda, no entanto, da tese de inexistência de uma missão francesa

Especialista diz que dificilmente os franceses teriam vindo ao Brasil sem autorização de d. João e que Taunay foi "pintor-filósofo"

DA REPORTAGEM LOCAL

É possível que a polêmica sobre a "lenda" da missão francesa continue e que "O Sol do Brasil", de Lilia Schwarcz, não encerre o assunto. Mas sobre a superioridade de Taunay há pouca dúvida. Ao menos se depender da francesa Claudine Lebrun Jouve, autora do catálogo raisonné "Nicolas-Antoine Taunay (1755-1830)". Ela foi integrante da "comissão de autenticação" que analisou trabalhos de Debret no recém-lançado "Debret e o Brasil: Obra Completa -1816-1831".
Em entrevista, a pesquisadora diz que o papel de Debret foi importante como documentarista do Brasil, por meio de suas aquarelas. E afirma que dificilmente os franceses teriam vindo ao Brasil sem autorização de dom João 6º. (MARCOS STRECKER)

 

FOLHA - Qual foi o papel de Taunay na colônia de artistas franceses que vieram ao Brasil?
CLAUDINE LEBRUN JOUVE -
Taunay não se submetia, como fez Debret, às exigências da corte. Debret obteve encomendas dos quadros oficiais. Taunay recebeu poucas encomendas, de retratos. Taunay pintava para si aquilo que o agradava: a natureza, da forma como ele a havia imaginado, como leitor devotado de Jean-Jacques Rousseau. Ele descreve em suas cartas o quanto ficava desolado (ele se sentia transportado a um período anterior à Revolução Francesa, 30 anos atrás), com o que encontrava nas bibliotecas do Brasil, repletas de livros religiosos. Sentia falta de Paris, dos salões, do espírito democrático.

FOLHA - Como se pode comparar a obra de Debret e a de Taunay?
JOUVE -
Debret é muito conhecido por suas aquarelas, que são documentos preciosos sobre a vida no Rio no começo do século 19. Mas seus quadros são irregulares, e Taunay foi um pintor melhor. Taunay foi um "pintor-filósofo", que introduzia algumas fábulas morais em suas obras, que sempre davam um significado a elas. Ele não podia se permitir críticas, mas pintava com eqüidade índios, brancos e negros.

FOLHA - Quem é mais reputado atualmente?
JOUVE -
É difícil dizer. Na França, Taunay. Mas no Brasil é Debret, porque ele proporciona um testemunho maravilhoso, que foi difundido pela gravura, sobre a vida do Brasil nos anos 1816-1830. Pena que Taunay tenha morrido tão jovem. As suas aquarelas tinham uma maravilhosa qualidade documental e grande talento artístico.

FOLHA - Lilia Schwarcz demonstra em seu livro que não houve uma "missão oficial" de artistas franceses. A senhora concorda?
JOUVE -
Acho difícil imaginar, naquela época, que ministros tenham tomado sozinhos uma decisão tão importante. É impossível em uma corte tão tradicional que a decisão tenha sido tomada sem o acordo do rei. Há uma hierarquia que cada um devia respeitar.

FOLHA - Qual é a importância da viagem ao Brasil para Taunay?
JOUVE -
Foi uma necessidade de exílio político. A morte precoce do protetor da missão [o conde da Barca] e a do diretor da missão [Joachim Lebreton] permitiram ao partido português [sob influência inglesa] retomar a direção da Academia. Taunay, decepcionado, retornou à França. Ele não mudou seu estilo ao trabalhar no Brasil. Mas, de volta à França, suas paisagens européias se tornaram mais exuberantes, invadidas por uma vegetação viva.


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