São Paulo, sábado, 22 de março de 2008

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Ex-mulher nega fase "deprê" de Lennon

May Pang, que viveu com o Beatle entre 1973 e 1975, publica imagens para acabar com o mito do "fim de semana perdido"

"Instamatic Karma", lançado no exterior, mostra Lennon descontraído e feliz, ao lado do filho Julian e com amigos como McCartney e Ringo

ALLAN KOZINN
DO "NEW YORK TIMES"

Se existe uma coisa que May Pang vem combatendo há 28 anos é a idéia de que John Lennon estava deprimido, isolado ou fora de controle durante os 18 meses em que ela viveu com ele, de meados de 1973 até o início de 1975, quando ele se reconciliou com sua segunda mulher, Yoko Ono.
O próprio Lennon fomentou essa percepção ao referir-se a esse período como seu "fim de semana perdido" em entrevistas que concedeu em 1980, quando lançou "Double Fantasy", álbum criado em conjunto com Yoko Ono que representou sua volta à criação musical, após cinco anos de silêncio.
E as histórias escabrosas, repetidas com freqüência, sobre Lennon, bêbado, sendo expulso do Troubadour, uma boate em Los Angeles, pareciam confirmar essa imagem.
Mas para May Pang, que hoje tem 57 anos, o "fim de semana perdido" foi uma fase de grande produtividade durante a qual Lennon completou três álbuns -"Mind Games", "Walls and Bridges" e "Rock'n'Roll"-, produziu álbuns para Ringo Starr e Harry Nilsson e gravou com Bowie, Jagger e Elton John.
Já tendo detalhado essas experiências (além de outros momentos sombrios) em seu livro de memórias "Loving John" (1983), Pang volta à tona com as provas fotográficas do que contou. Sua nova obra, "Instamatic Karma" (St. Martin's Press, disponível na Amazon.com), é uma coletânea de 140 páginas de fotos casuais feitas durante seu tempo com Lennon.

Caixa de sapatos
Com a exceção de algumas poucas delas publicadas em "Loving John" -reduzidas e em preto-e-branco, mas, no livro atual, em sua maioria impressas em cores encorpadas-, ela até agora as mantivera guardadas numa caixa de sapatos dentro de seu guarda-roupa, apenas ocasionalmente tirando-as do lugar para mostrar a seus amigos.
"Comecei a pensar em publicá-las apenas nos últimos dois anos", disse Pang, no escritório de seu publisher, no edifício Flatiron. "Uma amiga minha me dizia: "Você conta essas histórias sobre John e fala "espere aí, tenho uma foto que acompanha isso!". Mas por que nunca vimos essas fotos num livro?". Então achei que talvez fosse hora de divulgá-las. Com isso, as pessoas poderiam ver John naquele mundo, através dos meus olhos. E isso acabaria com aquela coisa toda do "fim de semana perdido", em que todo o mundo diz que ele estava sempre deprimido e com a cara péssima. Acho que essas fotos não passam essa impressão."
É verdade. Nas páginas de "Instamatic Karma" -o título é um trocadilho com o da canção "Instant Karma", de Lennon-, Lennon aparece descontraído e feliz, passando tempo com seu primeiro filho, Julian, e também com alguns amigos famosos, entre eles Paul McCartney, Ringo Starr e Keith Moon.
Ele é mostrado trabalhando no estúdio de gravação, nadando no estreito de Long Island, brincando no Central Park e visitando o Disneyworld.
Pang organizou seu livro por tema, em vez de ordem cronológica, com quatro capítulos intitulados "Em Casa", "Brincando", "Trabalhando" e "Longe".
Infelizmente, como ela própria lamenta, Pang deixou de registrar alguns momentos famosos -por exemplo, a jam session de 28 de março de 1974 em Los Angeles, que incluiu Lennon, Nilsson, McCartney e Stevie Wonder.


Tradução de Clara Allain


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