São Paulo, domingo, 22 de março de 2009

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Mônica Bergamo

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Super fêmea

Aos 57, Vera Fischer lança sua segunda autobiografia, diz que não faz sexo há dois anos e que, agora, só quer dormir sozinha. Por Audrey Furlaneto

Rafael Andrade/Folha Imagem
Vera em sua cobertura no Alto Leblon: "Envelheci, mas não embagulhei"

"Eu era canastrona, eu era burra, eu era loura, eu era miss, eu era pornochanchadeira. Eu precisava sobreviver, eu tinha que ter dinheiro", dizia uma acelerada Vera Fischer, quase sem pontuação, na tarde da última terça, em sua cobertura no Alto Leblon, no Rio. Quase uma hora depois, sem perder o ritmo acelerado das falas, ela se aprofunda no aspecto, digamos, "sexual".

 

"Eu nunca fui muito sexual. Eu sou o contrário de toda essa imagem que eles passaram. Tanto que me elegeram símbolo sexual de uma época. Eu nunca fui. Eu, por dentro, nunca fui. Sou uma pessoa de amar." Vera hoje não ama ninguém. "Tô solteira desde o Marcos Paulo. Não sinto falta de sexo, não sinto. Eu quero amar. Há dois anos eu tô sem sexo." O assunto, no entanto, ocupa boa parte das mais de 250 páginas de sua segunda (isso mesmo, segunda!) autobiografia, "Um Leão por Dia".

 

No novo livro, que ela lança amanhã, no Rio, Vera fala da primeira transa -na areia da praia, feito um "bife à milanesa"-, dos concursos de miss, das pornochanchadas. E encerra com um capítulo destinado aos "homens da minha vida". "Eu vivi bem com todos eles. Eu não amava todos eles. Mas em cada um eu gostava de uma coisa. Alguns duraram menos tempo porque a gente vai crescendo e vendo que termina. Eu não fico com uma pessoa só por ficar. Eu sou o tipo que não precisa ter ninguém ao lado."

 

"Eu não tô esperando um homem, na verdade", diz Vera. "Eu acho assim: eu já tive dois grandes amores na minha vida, que foram [os ex-maridos] Perry [Salles] e o Felipe [Camargo]. Tive filhos com eles. Só se pode ter um filho com o homem que se ama. Eu fiquei casada dos 19 anos até os 44. Então, passei metade da minha vida casada. É normal que eu passe o resto da minha vida solteira. Não quero morar junto nunca mais, com ninguém. A esta altura do campeonato, eu quero dormir sozinha." Mas... "se eventualmente eu namorar um rapazinho, é gostoso. Faz bem pro ego, sabe? Mas não saio pra procurar. Não preciso disso".

 

Um novo amor, de verdade, diz ela, só quando estiver "mais velha, mais preparada". Vera tem 57 anos.

 

"Se existir uma pessoa, um homem que é igual a mim, esteja ele onde estiver, ele deve estar procurando uma mulher como eu. Então, talvez nós dois nos encontremos, talvez sejamos duas peças raras no mundo. Se ele existir, a gente vai se encontrar. Seja lá quantos anos eu tenha, 60, 70..."

 

Vera diz que quer morrer com cem anos, "saudável, lúcida". "Só tenho medo de ficar doente, como meu pai, que morreu de câncer, e minha mãe, de Alzheimer. As pessoas têm que cuidar da gente, e isso eu não quero. Eu movimento muito a minha mente pra não ter esse tipo de problema." No livro, ela relata a perda do único irmão, Werner. "Liguei para minha mãe e qual não foi o meu choque quando ela me disse que meu irmão tinha morrido. Aquele menino louro, de 20 anos, sem ter tido tempo de viver a vida, amoroso, quietinho, estava morto", escreve. O pai de Vera cortava grama no jardim quando Werner chegou molhado da praia e pisou num fio desencapado. "Ficou grudado, gritando. Que cena dantesca!", escreve a atriz.

 

"Eu soube sofrer na hora que tinha que sofrer e soube amar na hora que tinha que amar. Então, é assim: do ano 2000 pra cá, eu tô quase zen. Eu não consigo mais... ehhh... [para e masca o chiclete rapidamente] ...é difícil eu achar alguma coisa chata. Não odeio mais ninguém, não tenho mais raiva de ninguém, tô quase zen", diz.

 

Vera não quer mais ser a "azeitona da empada" das festas nem "um pedaço de carne pendurado no açougue". "É porque é assim: eu dancei muito na minha vida, fui a muita festa na minha vida. Desde miss, desde garota, eu ia a boate, festa, dançava, dançava, dançava... Eu acho que esgotei isso. O máximo que eu vou agora é na festa de aniversário na casa da pessoa, posso dançar um pouquinho e tal. É como eu me sinto mais protegida. Eu fui muito, dancei muito, muito, muito na minha vida. Eu cansei. Tem muitas coisas que eu fazia na minha vida que eu não faço mais. Quando vai envelhecendo, a gente muda os gostos, muda os valores, entendeu? Comigo foi assim."

 

Para sua sorte, diz, envelheceu, mas não "embagulhou". "Tem muita gente que embagulha. Eu não. Eu não quero e não vou deixar", diz ela, que garante não ter feito plásticas, exceto duas: próteses de silicone, que ela justifica por ter amamentado Gabriel quando já tinha 42 anos, e uma no nariz, após um atropelamento. "Meu nariz era mais bonitinho", lamenta. A barriga "tanquinho" que exibe seria, portanto, um verdadeiro milagre da natureza.

 

Talvez para não "embagulhar", ou até mesmo para se distanciar dos vícios -a atriz já assumiu ter usado cocaína-, Vera conta que deixou de beber uísque. Toma vinho tinto, champanhe e Campari, que, segundo ela, "é um remédio; é ruim, mas eu gosto". "Antigamente, eu bebia tudo quanto é bebida. Agora, eu só bebo essas três, porque, assim, eu não fico bêbada. São gostosas, têm gosto de alguma coisa. É uma coisa refinada", avalia.

 

Da juventude, mantém o hábito de trocar o dia pela noite. Dorme tarde para aproveitar o silêncio da rua para ler, ver filmes, escrever e pintar. "Quero mais novidades, coisas que não fiz e posso vir a fazer. Deve ter muita coisa que eu sei fazer, que vou inventar. Eu tô plena, plena, plena." E mais: "Eu tô cheia de amor pra dar. Tudo o que tinha antes, preconceito, medos, coisa de traição, essas pequenezas que a sociedade ensina pra gente, eu joguei tudo fora", diz ela, enrolando mais uma vez o seu chiclete.


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