|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
TV pirata
Responsável por site que põe na internet episódios das séries mais procuradas diz que nunca teve processo e negócio da TV é obsoleto
LÚCIA VALENTIM RODRIGUES
DA REPORTAGEM LOCAL
O maior pirata da internet
mora em algum lugar entre a
Itália e a Suécia. Nunca foi processado. Mas nem por isso divulga seu nome verdadeiro.
Atende pelo pseudônimo de
NovaKing e é responsável pelo
site EZTV, que coloca no ar 120
episódios de séries por semana
(incluindo na conta as versões
normais e em alta definição).
O endereço funciona no limite da legalidade dos países onde
está hospedado, mas não deixa
de fazer pirataria ao liberar os
programas, de que não detém
os direitos autorais, para fora
do território americano.
O site Torrent Freak, especializado em cobrir assuntos
como a troca de arquivos, estima que atualmente o EZTV seja responsável por 90% dos
downloads de seriados.
A popularidade do site vem
da confiança na qualidade do
conteúdo, com porcentagem
muito baixa de arquivos falsos
ou com vírus -principal temor
de quem baixa arquivos na web.
NovaKing acha esse tamanho exagerado. Mas percebe o
crescimento da procura, que
para ele está ligado "à sólida base de voluntários ajudando a
espalhar cada novo seriado".
O trabalho não é remunerado, e eles não aceitam doações.
Funcionam com dinheiro próprio. "Seria ir contra o motivo
pelo qual começamos o site.
Todo mundo que participa concorda com a natureza não lucrativa do que fazemos."
O site começou há quatro
anos e oferecia links para encontrar os programas via chats.
Agora ele alimenta fontes como o PirateBay e Torrentz, fazendo o milagre da multiplicação dos arquivos, que ficam disponíveis mesmo se o provedor
estiver fora do ar. A assinatura
de origem aparece entre colchetes ou em outra cor quando
se procura os episódios.
NovaKing diz que isso só
aconteceu algumas vezes e
nunca propositalmente. "O site
falhou por problemas técnicos,
azar e ocasiões esporádicas,
porque, com o dinheiro que investimos, há momentos que temos dificuldades com os servidores. Seriam necessários mais
servidores, mas, por enquanto,
é o que podemos manter."
"O modelo de distribuição de
hoje é obsoleto. Vemos uma
grande lacuna entre o que a TV
mostra e o que o público quer.
Simplesmente estamos tapando esse buraco enquanto a
ideologia mercadológica não
alcança o futuro."
Ele defende que as grandes
corporações têm de melhorar a
tecnologia para fornecer conteúdo. O iTunes mostra que há
formas de fazer isso e gerar retorno financeiro. "Tem de haver novos jeitos de permitir ao
usuário escolher como e se ele
vai pagar por algo. Isso pode ser
alcançado com bônus, assinaturas, anúncios nos sites e sistema para pagar por episódio
assistido. Os torrents são só
mais uma dessas alternativas.
Se a indústria quer ser competitiva, não deveria trancar para
fora as mudanças tecnológicas.
Deveria explorar como usá-las
a seu favor."
Sem contar muito como o
EZTV funciona, diz que normalmente os programas vão ao
ar na medida em que são exibidos na TV americana. "Mas,
quando tem seriados fortes
-"24 Horas" e "Lost'-, outros
que tenham menos procura sofrem atraso. A demanda determina o que sai primeiro."
Conta que o site também tem
conteúdo autorizado: "Muitas
empresas nos procuraram para
poder levar conteúdo para um
público alvo grande. Poder
acessar séries em alta qualidade quando e onde quiser significa que mais pessoas vão migrar para a internet para ver
TV". Isso já é realidade.
Outro lado
Enquanto isso, as grandes
emissoras tentam diminuir o
impacto da internet nos negócios. Rusell Kline, vice-presidente de operações da Sony para a América Latina, diz que o
canal luta contra a pirataria
"para aumentar a qualidade
dos programas disponíveis".
Ele nega que "Lost" tenha estreado com o menor atraso da
história em relação aos EUA
por causa dos downloads. "Foi
apenas nosso compromisso de
oferecer o melhor conteúdo o
mais rápido possível."
Kline diz que a internet pode
ser complementar à TV e que
"estão desenvolvendo modelos
para os parceiros e afiliadas".
O problema é que se as TVs
demorarem muito para se mexer, vão acabar sofrendo tanto
quanto a indústria fonográfica.
Para Ernesto, codinome de
um dos maiores especialistas
em troca de arquivos, do Torrent Freak, "os downloads deixam claro que ninguém mais
precisa perder um episódio de
um programa". "Isso cria uma
base de fãs muito mais devotada. Barreiras geográficas são
coisa do passado. Estúdios deveriam lançar seus programas
no mundo todo de uma vez ao
invés de atrasar a transmissão
fora dos Estados Unidos."
É isso ou sofrer com as consequências da pirataria.
Texto Anterior: Mônica Bergamo Próximo Texto: Análise: EZTV vive de demoras na distribuição Índice
|