São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 2005

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Andrógino, com voz angelical e letras melancólicas, o cantor inglês Antony desponta com o disco "I Am a Bird Now"

Pássaros feridos

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

Ele canta como Nina Simone, veste-se como Boy George, as letras remetem a Bob Dylan e é o novo protegido de Lou Reed.
Este é Antony, um inglês de 34 anos criado em Amsterdã e na Califórnia, morador de Nova York e, de acordo com uma das mais contidas descrições das imprensas européia e norte-americana, dono de "voz angelical que leva o pop ao sublime". Sem falar da artista multimídia americana Laurie Anderson, para quem "descobrir Antony é como ouvir Elvis pela primeira vez".
E é bem por aí. Andrógino, de aparência indefinível, Antony tem voz que ecoa em vibrato e já foi comparada à de Billie Holiday e de Marc Almond (Soft Cell), um de seus ídolos de infância.
Filho de um engenheiro e de uma fotógrafa, no início dos anos 90 ele foi viver em Nova York e formou o Blacklips, grupo que unia performances artísticas bizarras a shows experimentais de rock -tinha como parceiro um japonês albino hermafrodita...
Há poucos anos, passou a se apresentar como Antony and the Johnsons (os Johnsons são um guitarrista, um baixista, dois violinistas e um celista). Em 2000, lançou o CD de estréia, homônimo.
O disco chegou até Lou Reed, que, diz a lenda, chorou ao ouvir a voz do rapaz. O ex-Velvet Underground convocou Antony para participar do álbum que estava produzindo -seu último, "The Raven", que saiu em 2003.
Em seguida, Reed saiu em turnê e chamou o pupilo. A partir dali, Antony apareceu para o mundo. Nos shows, tomava para si as atenções quando, no bis, era chamado ao palco para a emocionante balada "Candy Says", um clássico do Velvet Underground.
A música havia sido escrita por Reed para a drag Candy Darling, morta em 1974, aos 29 anos, vítima de leucemia. Reed nunca conseguiu cantar a canção (incluída no disco "The Velvet Underground", de 68, cantada pelo baixista da banda, Doug Yule) e não hesitou em passá-la para Antony.
No mês passado, o cantor retribuiu o empurrão de Reed ao estampar, na capa de seu segundo disco, "I Am a Bird Now", lançado na Europa pelo selo Rough Trade (Strokes, Belle & Sebastian), uma foto de Candy Darling deitada numa cama de hospital.
O álbum já coloca Antony como estrela: tem as participações de Reed, Rufus Wainwright, Boy George e Devendra Banhart.
As letras são ambíguas, difusas e, muitas delas, de atmosfera dark. Em "For Today I Am a Boy", repete: "Um dia vou crescer, serei uma linda mulher/ Um dia vou crescer, serei uma linda garota/ Mas hoje sou uma criança, hoje sou um garoto".
Este é o estranho mundo de Antony and the Johnsons, e ele é apenas uma das mais proeminentes figuras a aparecer no meio de uma leva de novas vozes no rock.


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