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Andrógino, com voz angelical e letras melancólicas, o cantor inglês Antony desponta com o disco "I Am a Bird Now"
Pássaros feridos
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Ele canta como Nina Simone,
veste-se como Boy George, as letras remetem a Bob Dylan e é o
novo protegido de Lou Reed.
Este é Antony, um inglês de 34
anos criado em Amsterdã e na
Califórnia, morador de Nova
York e, de acordo com uma das
mais contidas descrições das imprensas européia e norte-americana, dono de "voz angelical que
leva o pop ao sublime". Sem falar
da artista multimídia americana
Laurie Anderson, para quem
"descobrir Antony é como ouvir
Elvis pela primeira vez".
E é bem por aí. Andrógino, de
aparência indefinível, Antony
tem voz que ecoa em vibrato e já
foi comparada à de Billie Holiday
e de Marc Almond (Soft Cell), um
de seus ídolos de infância.
Filho de um engenheiro e de
uma fotógrafa, no início dos anos
90 ele foi viver em Nova York e
formou o Blacklips, grupo que
unia performances artísticas bizarras a shows experimentais de
rock -tinha como parceiro um
japonês albino hermafrodita...
Há poucos anos, passou a se
apresentar como Antony and the
Johnsons (os Johnsons são um
guitarrista, um baixista, dois violinistas e um celista). Em 2000, lançou o CD de estréia, homônimo.
O disco chegou até Lou Reed,
que, diz a lenda, chorou ao ouvir a
voz do rapaz. O ex-Velvet Underground convocou Antony para
participar do álbum que estava
produzindo -seu último, "The
Raven", que saiu em 2003.
Em seguida, Reed saiu em turnê
e chamou o pupilo. A partir dali,
Antony apareceu para o mundo.
Nos shows, tomava para si as
atenções quando, no bis, era chamado ao palco para a emocionante balada "Candy Says", um clássico do Velvet Underground.
A música havia sido escrita por
Reed para a drag Candy Darling,
morta em 1974, aos 29 anos, vítima de leucemia. Reed nunca conseguiu cantar a canção (incluída
no disco "The Velvet Underground", de 68, cantada pelo baixista da banda, Doug Yule) e não
hesitou em passá-la para Antony.
No mês passado, o cantor retribuiu o empurrão de Reed ao estampar, na capa de seu segundo
disco, "I Am a Bird Now", lançado na Europa pelo selo Rough
Trade (Strokes, Belle & Sebastian), uma foto de Candy Darling
deitada numa cama de hospital.
O álbum já coloca Antony como
estrela: tem as participações de
Reed, Rufus Wainwright, Boy
George e Devendra Banhart.
As letras são ambíguas, difusas
e, muitas delas, de atmosfera
dark. Em "For Today I Am a
Boy", repete: "Um dia vou crescer, serei uma linda mulher/ Um
dia vou crescer, serei uma linda
garota/ Mas hoje sou uma criança, hoje sou um garoto".
Este é o estranho mundo de Antony and the Johnsons, e ele é apenas uma das mais proeminentes
figuras a aparecer no meio de
uma leva de novas vozes no rock.
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