São Paulo, sexta-feira, 22 de abril de 2005

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CDS

POP NACIONAL

Em seu terceiro álbum, cantora mistura folk, jazz e eletrônica

Stela Campos simboliza a liberdade das grandes idéias

Leonardo Wen/Folha Imagem
A cantora Stela Campos em sua casa em SP; ela lança seu terceiro disco, "Hotel Continental"


RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Aos poucos, vai se configurando um novo pop nacional. E o caminho, cada vez mais gente vem aprendendo, é deixar tudo fluir, sem preconceitos, purismos ou modismos. Se é realmente pop ou se vai ser chamado de MPB, indie, eletrônico, já é uma questão posterior.
Sem restringir as influências, a cantora Stela Campos chega ao seu terceiro álbum, sob produção de Mauricio Bussab, tecladista da banda Bojo e dono da Outros Discos. Os dois álbuns anteriores, independentes ("Céu de Brigadeiro", 1999, e "Fim de Semana", 2002), já esgotaram suas primeiras tiragens. Aqui, estão letras entre o surrealismo e o ritmo do mundo moderno, com violões folk, sonoridades jazzísticas, detalhes eletrônicos, espírito indie e um resultado não distante do que poderia ser chamado de MPB.
Um novo estilo que ainda está se cristalizando, mas já dá mostras de suas possibilidades futuras. Stela figura, ao lado de cantoras como Karine Alexandrino e até Vanessa da Mata (que se diferencia por estar em grande gravadora e trazer sonoridade mais polida e bem resolvida).
Nascida em São Paulo, Stela Campos morou em Recife de 1994 a 2000. É jornalista, ex-radialista, ex-líder da banda indie Lara Hanouska, ex-membro do Funziona Senza Vapore, ex-participante do movimento mangue beat (foi chamada de "Billie Holiday de garagem" por Chico Science) e atualmente dona de si mesma, quando se trata de música. Grava sem medo de misturar saxes com samples, violoncelos com scratches, violões com sons de videogame, escaletas com guitarras.
No universo de Stela Campos, há espaço para homenagens a Johnny Cash e para baladas psicodélicas. Jorge Ben e Velvet Underground convivem harmoniosamente. A quase-instrumental "Gusev" utiliza-se dos mesmos quatro acordes da introdução de "Minha Teimosia, uma Arma pra te Conquistar", de Ben. E a bônus "The Girl from 33" é quase uma versão pós-moderna de "Sweet Jane", da banda de Lou Reed.
As letras são todas de autoria de Stela e/ou do parceiro e marido, Luciano Buarque de Holanda. Das 12 músicas do disco, três são em inglês e duas não trazem letra. As temáticas "hoje pela manhã eu acordei atrasado", já abordadas nos discos anteriores, continuam. Avenida Bandeirantes, Cardeal e Santo Amaro são citadas nas letras. A correria, o estresse, o trânsito, motoboys e filas são elementos que se transformam em matéria-prima e viram canções-crônicas da vida na cidade.
No resultado geral das composições e da gravação, ainda há um certo gosto quase amadorístico, de apego ao registro de baixa qualidade, de arranjos simplistas, ainda que experimentais. Mas ela tem uma importância maior.
Cercada de pessoas que representam novidade, como Fernando Catatau, do Cidadão Instigado, e Maurício Takara, do Instituto, ela simboliza toda a liberdade que há na música hoje. Liberdade para escrever, gravar do jeito que desejar e vender do jeito que puder. Mesmo que você seja jornalista nas horas vagas. É só ter algum talento musical, desenvolvê-lo, encontrar pessoas legais para tocar, arrumar um estúdio e descolar uma distribuição. O rádio não vai tocar, as grandes gravadoras não vão dar bola. Mas é aí que vão se fomentar as grandes idéias.


Hotel Continental
   
Artista: Stela Campos
Lançamento: Outros Discos/Tratore
Quanto: R$ 24


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