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CDS
POP NACIONAL
Em seu terceiro álbum, cantora mistura folk, jazz e eletrônica
Stela Campos simboliza a liberdade das grandes idéias
Leonardo Wen/Folha Imagem
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A cantora Stela Campos em sua casa em SP; ela lança seu terceiro disco, "Hotel Continental" |
RONALDO EVANGELISTA
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Aos poucos, vai se configurando um novo pop nacional. E o caminho, cada vez mais
gente vem aprendendo, é deixar
tudo fluir, sem preconceitos, purismos ou modismos. Se é realmente pop ou se vai ser chamado
de MPB, indie, eletrônico, já é
uma questão posterior.
Sem restringir as influências, a
cantora Stela Campos chega ao
seu terceiro álbum, sob produção
de Mauricio Bussab, tecladista da
banda Bojo e dono da Outros Discos. Os dois álbuns anteriores, independentes ("Céu de Brigadeiro", 1999, e "Fim de Semana",
2002), já esgotaram suas primeiras tiragens. Aqui, estão letras entre o surrealismo e o ritmo do
mundo moderno, com violões
folk, sonoridades jazzísticas, detalhes eletrônicos, espírito indie e
um resultado não distante do que
poderia ser chamado de MPB.
Um novo estilo que ainda está
se cristalizando, mas já dá mostras de suas possibilidades futuras. Stela figura, ao lado de cantoras como Karine Alexandrino e
até Vanessa da Mata (que se diferencia por estar em grande gravadora e trazer sonoridade mais polida e bem resolvida).
Nascida em São Paulo, Stela
Campos morou em Recife de 1994
a 2000. É jornalista, ex-radialista,
ex-líder da banda indie Lara Hanouska, ex-membro do Funziona
Senza Vapore, ex-participante do
movimento mangue beat (foi
chamada de "Billie Holiday de garagem" por Chico Science) e
atualmente dona de si mesma,
quando se trata de música. Grava
sem medo de misturar saxes com
samples, violoncelos com scratches, violões com sons de videogame, escaletas com guitarras.
No universo de Stela Campos,
há espaço para homenagens a
Johnny Cash e para baladas psicodélicas. Jorge Ben e Velvet Underground convivem harmoniosamente. A quase-instrumental
"Gusev" utiliza-se dos mesmos
quatro acordes da introdução de
"Minha Teimosia, uma Arma pra
te Conquistar", de Ben. E a bônus
"The Girl from 33" é quase uma
versão pós-moderna de "Sweet
Jane", da banda de Lou Reed.
As letras são todas de autoria de
Stela e/ou do parceiro e marido,
Luciano Buarque de Holanda.
Das 12 músicas do disco, três são
em inglês e duas não trazem letra.
As temáticas "hoje pela manhã eu
acordei atrasado", já abordadas
nos discos anteriores, continuam.
Avenida Bandeirantes, Cardeal e
Santo Amaro são citadas nas letras. A correria, o estresse, o trânsito, motoboys e filas são elementos que se transformam em matéria-prima e viram canções-crônicas da vida na cidade.
No resultado geral das composições e da gravação, ainda há um
certo gosto quase amadorístico,
de apego ao registro de baixa qualidade, de arranjos simplistas, ainda que experimentais. Mas ela
tem uma importância maior.
Cercada de pessoas que representam novidade, como Fernando Catatau, do Cidadão Instigado,
e Maurício Takara, do Instituto,
ela simboliza toda a liberdade que
há na música hoje. Liberdade para escrever, gravar do jeito que desejar e vender do jeito que puder.
Mesmo que você seja jornalista
nas horas vagas. É só ter algum talento musical, desenvolvê-lo, encontrar pessoas legais para tocar,
arrumar um estúdio e descolar
uma distribuição. O rádio não vai
tocar, as grandes gravadoras não
vão dar bola. Mas é aí que vão se
fomentar as grandes idéias.
Hotel Continental
Artista: Stela Campos
Lançamento: Outros Discos/Tratore
Quanto: R$ 24
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