São Paulo, domingo, 22 de abril de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Mônica Bergamo

@ - bergamo@folhasp.com.br

Paulo Giandalia/Folha Imagem
Lindsay Bento, cabeleireira do salão Ash, no Jardim América, onde um aplique, feito em cinco minutos, sai por R$ 3.000


Minutos milionários

A pinça tira três, quatro, cinco pêlos em um minuto. Em dez, a "rebelde" sobrancelha da atriz Marina Mantega está domada. E a conta do maquiador Cayo Lanza, do Studio W do Iguatemi, mais gorda: ele cobra R$ 110 pelo serviço -ou R$ 11 por minuto trabalhado.

 

Caro demais por um serviço tão rapidinho? "Pra ficar bonita, tudo compensa", diz Marina, filha do ministro da Fazenda, Guido Mantega. Ela apara as sobrancelhas a cada 20 dias com Cayo Lanza. "Eu a-do-ro ele! Imagina se eu vou num lugar que acaba com a minha sobrancelha? Acaba com meu rosto, gente!" Cayo, 41 anos, 25 de profissão, concorda: "A gente consegue deixar uma pessoa triste, feliz, má, poderosa. É delicado, sabe? A Marina, por exemplo. A Marina tem o olho verde lindo. Mas a sobrancelha é rebelde. Se deixar, esconde o olho. É muuuito delicado".
 

Para o trabalho, Cayo usa uma pinça canadense "que puxa um pêlo só por vez", tinge as sobrancelhas "mais apagadinhas" com tintura alemã, e, "se ela não tem pêlo", indica um produto para "crescer bem rápido", vendido a cerca de R$ 140 o tubo com 10 ml. "Menina, eu já peguei cada coisa aqui! Sabe sobrancelha tipo Marlene Dietrich? Curta, não cobre nem o olho. Ou aquele arco do "m" do McDonald's! É o "ó'! Mas eu resolvo. A mulher levanta e grita: "Você fez um botox!'"
 

Os R$ 110 pela pinça de Cayo dão direito a desfrutar dos atrativos da sala do maquiador: TV de plasma ("pra ela ver um filminho"), computador ("se ela quiser olhar o Orkut ou usar o MSN"), som com 20 mil músicas, e uma parede de vidro "com vista para todo mundo que está no salão". Porta-retratos com fotos da publicitária Bia Aydar e de Alessandra Safra, nora do banqueiro Moise Safra, completam a decoração. "São minhas madrinhas", diz.
 

Cayo ganha, para tirar as sobrancelhas "delas", quase o mesmo que o advogado Celso Mori, um dos mais respeitados do país e sócio do Pinheiro Neto, a maior, mais tradicional -e uma das mais caras bancas do Brasil. A hora de Mori, que pode ser gasta numa consulta, numa petição, numa reunião, custa R$ 900. Cada minuto do advogado "sai" por R$ 15.
 

Mori terá que trabalhar 200 minutos, ou pouco mais que três horas, caso precise pagar R$ 3.000 para que uma mulher de sua família coloque um aplique no salão Ash, de Celina Staub, mulher de Eugênio Staub, da Gradiente. É quanto a cabeleireira do salão, Lindsay Brito cobra pelo serviço -que dura cinco minutinhos. É isso mesmo: Lindsay cobra R$ 600 (ou quarenta vezes o preço de Mori) por cada minuto de seu trabalho. Que se resume a costurar uma mecha de cabelo, comprado de uma empresa, à raiz do cabelo natural da cliente com uma agulha de crochê. "O cabelo é o mais barato da história. O preço é pelo meu olho e pela técnica. É algo assim: a mulher chega de chanel e sai Gisele [Bündchen]; 99% das socialites que você vê por aí fizeram alongamento. Elas não medem esforços para ficar cabeludas."
Poucos minutos são mais caros em São Paulo que os de Lindsay. "Príncipe dos sociólogos", ex-presidente da República, o minuto de Fernando Henrique Cardoso é só duas vezes mais caro que o da cabeleireira. Ele cobra até R$ 85 mil por uma palestra de uma hora. Ou R$ 1.416 por minuto. "Não é toda hora que ele aceita uma palestra. São até dez por ano", diz seu agente, George Legmann. De acordo com ele, FHC fala de graça para ONGs e escolas.
 

No topo dos minutos mais caros, além de palestrantes célebres e advogados, estão os médicos tops de SP. Uma consulta pode chegar a R$ 600 -ou mais. Valentim Gentil, do Instituto de Psiquiatria do HC, por exemplo, cobra R$ 1.000 pela primeira consulta, de cerca de 40 minutos. Ou R$ 25 por minuto. O psiquiatra Wagner Gattaz cobra R$ 950 por consulta.
 

O designer Roberto Alves cobra R$ 10 por minuto para "repaginar" uma sala. "A pessoa vai receber e tá achando a casa feia? É só chamar que a gente resolve!". "Resolver" significa mudar os móveis de lugar e ajeitar uma mesa de jantar - tudo em uma hora, por R$ 600, sem comprar nenhum objeto. "Não tem muito quem ofereça esse tipo de serviço. Mas tem muita gente que precisa", diz. Ele e o sócio, Walter Alves, "inventaram" o serviço depois de redecorar a casa de um amigo.
 

"Ele morava numa casa inteirinha branca. Não dava pra ser feliz. Até a lenha era branca, imagina? Fui lá com o Walter, tiramos uma estátua do armário dele e colocamos duas toras de madeira pink na sala. Ficou o máximo", conta. E completa: "Tento levar espiritualidade para o cliente. Esse é o meu foco. E pagar R$ 600 para uma pessoa é o mais simples. O difícil é achar a bossa".
 

Já Suzana Gullo, mulher de Marcos Mion, cobra R$ 500 para dar bossa a roupas e aparelhos eletrônicos. Em meia hora (R$ 16 o minuto), customiza um celular colando nele 50 cristais Swarovski (paga menos de R$ 0,10 a unidade). "Gostava de customizar minhas roupas grudando uns cristaizinhos. Aí, sabe quando uma amiga pede pra você fazer uma blusa igual? Fiz até que o Marcos teve a idéia de virar negócio." Ela agora está fazendo "capa de iPod. Celular com Swarovski virou carne-de-vaca".
 

O personal trainer Flavio Settanni, 38, guardião da boa forma de belas como Luciana Gimenez, Vera Diniz e Fernanda Barbosa, cobra R$ 125 por uma hora de aula. Ou R$ 2 por minuto. Parece pouco? O cronômetro registra R$ 1.500 no fim do mês para quem faz três aulas por semana. Settanni justifica o preço: "Faço cursos para me atualizar. Um dos últimos que fiz foi de psicologia." E para que serve? "Se a Fernanda, por exemplo, estiver triste, vai querer "pular" alguns exercícios. Consigo convecê-la do contrário."


Texto Anterior: Horário nobre na TV aberta
Próximo Texto: De volta à Vila Sésamo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.