São Paulo, domingo, 22 de abril de 2007

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Psicanalista vê efeito catártico no ato de assistir aos duelos de vale-tudo

DA REPORTAGEM LOCAL

Assistir a transmissões de campeonatos de vale-tudo pode ter efeito catártico, terapêutico. Essa é a análise do psicanalista e professor do Instituto de Medicina Social da UERJ (Universidade Estadual do Rio de Janeiro) Jurandir Freire Costa.
Segundo ele, é possível que o interesse crescente pelos torneios seja uma resposta ao fato de "as pessoas não estarem mais suportando o excesso de violência real". "No ringue, aprisiona-se a violência em um espaço sobre o qual se tem controle. As pessoas a iniciam e param quando querem, não deixam que "infecte" a vida pública, contamine as relações humanas", diz, comparando a função "curativa" da descarga de agressividade à da pornografia.
É esse ambiente "protegido", de acordo com o psicanalista, que propicia a catarse. "Quando existe um espaço distante da vida real para o qual se pode canalizar o ímpeto agressivo que todo ser humano tem, melhor. Ter esses sentimentos negativos não é o problema; o problema é deixar de ter vergonha ou culpa por isso. O importante é não perder o ideal virtuoso."
Costa afirma que "evitaria estabelecer ligação direta entre os duelos de vale-tudo exibidos na televisão e o excesso de violência de hoje" pelo fato de a luta representar "a encenação de uma violência que não se pode reproduzir no mundo real, na vida civilizada, com amigos e família". "Em se tratando de [estímulo para a] violência real, o dia-a-dia já é suficiente. A trava [o pudor da violência] já foi desligada", opina.
O psicanalista critica, entretanto, a mercantilização da violência, comercializada a R$ 40 (custo da assinatura) mensais. "Trata-se de um alívio em forma de produto". (LUCAS NEVES)


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