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Psicanalista vê efeito catártico no ato de assistir aos duelos de vale-tudo
DA REPORTAGEM LOCAL
Assistir a transmissões de
campeonatos de vale-tudo pode ter efeito catártico, terapêutico. Essa é a análise do psicanalista e professor do Instituto
de Medicina Social da UERJ
(Universidade Estadual do Rio
de Janeiro) Jurandir Freire
Costa.
Segundo ele, é possível que o
interesse crescente pelos torneios seja uma resposta ao fato
de "as pessoas não estarem
mais suportando o excesso de
violência real". "No ringue,
aprisiona-se a violência em um
espaço sobre o qual se tem controle. As pessoas a iniciam e param quando querem, não deixam que "infecte" a vida pública,
contamine as relações humanas", diz, comparando a função
"curativa" da descarga de
agressividade à da pornografia.
É esse ambiente "protegido",
de acordo com o psicanalista,
que propicia a catarse. "Quando existe um espaço distante da
vida real para o qual se pode canalizar o ímpeto agressivo que
todo ser humano tem, melhor.
Ter esses sentimentos negativos não é o problema; o problema é deixar de ter vergonha ou
culpa por isso. O importante é
não perder o ideal virtuoso."
Costa afirma que "evitaria
estabelecer ligação direta entre
os duelos de vale-tudo exibidos
na televisão e o excesso de violência de hoje" pelo fato de a luta representar "a encenação de
uma violência que não se pode
reproduzir no mundo real, na
vida civilizada, com amigos e
família". "Em se tratando de
[estímulo para a] violência real,
o dia-a-dia já é suficiente. A trava [o pudor da violência] já foi
desligada", opina.
O psicanalista critica, entretanto, a mercantilização da violência, comercializada a R$ 40
(custo da assinatura) mensais.
"Trata-se de um alívio em forma de produto".
(LUCAS NEVES)
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