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Motomix puxa "engarrafamento"
Fatores econômicos ajudam a explicar temporada farta de eventos de música pop, especialmente em SP
Produtores reclamam de "mercado poluído'; Motomix foi antecipado para desviar do excesso de festivais no fim do ano
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
Valorização do real em relação ao dólar; excesso de dinheiro circulando no mundo; planejamento financeiro e de marketing das empresas. São alguns
dos fatores que causam o congestionamento de grandes festivais de música pop que ocorre
no Brasil, especialmente em
São Paulo, neste ano.
O engarrafamento, que será
mais visível no segundo semestre, será puxado pelo Motomix,
evento que acontece no parque
Ibirapuera, em 28 de junho.
Gratuito, o festival será composto por um braço de arte
multimídia (com curadoria dos
grupos Bijari e Tupi Não Dá) e
outro de música. Este último
terá três nomes internacionais
-dois deles já definidos: a dupla canadense de electro-funk-rock Chromeo e o trio inglês de
dance music Fujiya & Miyagi.
Em 2007, o Motomix foi realizado no segundo semestre.
Neste ano, os organizadores
anteciparam a data para desviar do excesso de eventos que
ocorrem no final do ano.
Pelo menos cinco festivais
ocorrerão na época: Skol Beats
(27 de setembro); Sónar (de 3 a
5 de outubro); Tim Festival (último final de semana de outubro); Planeta Terra (8 de novembro) e Nokia Trends (ainda
sem data definida).
"Foi uma decisão estratégica.
Queríamos abrir a temporada
de shows no Brasil", diz Loredana Mariotto, diretora de
marketing e varejo da Motorola. "O mercado está poluído,
com muitos shows acontecendo na mesma época."
Leilão de artistas
"Isso não deixa de ser um
pouco nocivo", opina Monique
Gardenberg, da produtora
Dueto, que organiza o Tim Festival. "Essa concentração [de
eventos no segundo semestre]
acaba gerando um leilão de artistas, pois você tem muitos
eventos procurando as mesmas
bandas. E é ruim para o público,
pois pouca gente conseguirá ir
a todos os festivais."
"A procura pelos artistas fica
mais disputada, isso é evidente", observa o produtor Marcos
Boffa. "Há os artistas que não
excursionam porque estão fazendo disco, porque estão em
férias, então a lista fica reduzida. E o cachê dos artistas subiu
no mundo todo, não apenas para o Brasil. O show ao vivo virou
um mercado importante. Isso é
uma questão global."
Há duas semanas, o "New
York Times" publicou reportagem em que discute uma suposta saturação do mercado
dos EUA, causada pela oferta
de festivais de música pop no
país -em 2008, surgiram quatro novos eventos, e a temporada americana já soma pelo menos uma dúzia de opções.
Bazinho Ferraz, presidente
da B/Ferraz (Skol Beats; Planeta Terra), aponta: "O que causa
isso é uma falta de planejamento de algumas empresas. Além
disso, há aqueles que nunca trabalharam com isso, que entram
em concorrências e oferecem
dinheiro excessivo para os artistas. Atrapalha bastante".
O dólar está baixo, o que ajuda a trazer artistas internacionais. Gardenberg diz que o excesso de liquidez no mercado
internacional impulsionou um
"boom do entretenimento".
Fim do "idealismo"
"Há um excesso de liqüidez, e
buscam-se novos negócios. Um
desses negócios é o entretenimento. E tem gente muito nova
entrando nisso", diz ela.
"O show business está mudando, não é mais aquela coisa
idealista, feita por gente que
sempre foi ligada às artes."
Outro fator, afirma Boffa, remete ao planejamento das
companhias que investem nos
festivais. "As empresas definem seus orçamentos no final
do ano, e aí fica muito complicado realizar grandes eventos
antes de junho."
E entre julho e setembro,
com a temporada de festivais
de verão no hemisfério norte,
fica difícil realizar eventos de
porte no Brasil. "O período disponível para nós é muito curto", diz o produtor.
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