São Paulo, quinta-feira, 22 de abril de 2010

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Novo museu quer expor um Rio mais cosmopolita

Projeto de Carlos Lacerda, que tinha ambições políticas e intenção de levantar a autoestima da cidade, é recuperado

Instituição conta com 22 coleções particulares, como as de Elizeth Cardoso e Jacob do Bandolim; espaço terá novelas de rádio e TV

Divulgação
Instituto de Arte Contemporânea de Boston, do escritório Diller Scofidio + Renfro, que assina projeto do novo MIS no Rio

DA SUCURSAL DO RIO

O primeiro Museu da Imagem e do Som do país nasceu em 1965 sobre um interessante paradoxo. Na ressaca por perder o status de capital para Brasília, o Rio queria ressaltar suas características peculiares e mostrar o quanto era uma cidade nacional e cosmopolita.
Na locomotiva do movimento, um governador que planejava grandes realizações no recém-criado Estado da Guanabara -substituto do Distrito Federal e fundido em 1975 com o Estado do Rio de Janeiro- para se tornar presidente da República. No entanto, o regime militar suspendeu as eleições diretas e cassou os direitos políticos de seu ex-defensor Carlos Lacerda.
"Não somos uma capital decaída, somos uma cidade libertada", discursou Lacerda em 1960, no LP de campanha "A Redenção da Cidade", também acenando para o país. "Sabem esses brasileiros que somos uma região sem regionalismo, pensamos os nossos problemas em termos mundiais além de continentais, e continentais além de nacionais."
O MIS era fundamental neste projeto, pois documentaria o que é ser carioca, sem deixar de fornecer "o deslumbramento dos olhos, a diversão para os ouvidos", como destacou Lacerda na inauguração, no ano do quarto centenário da cidade.
A nova versão do museu quer restaurar o projeto inicial, já que na maior parte de sua história, por razões políticas e financeiras, o MIS se limitou a reunir documentos. Mas Rosa Araujo relativiza o protagonismo de Lacerda. "O MIS foi criado por uma geração, que viu a necessidade de se manter a memória do Rio", diz ela, embasada pela historiadora Cláudia Mesquita, que fala no livro "Um Museu para a Guanabara" no "empreendimento coletivo de políticos e intelectuais cariocas, voltados para a reafirmação do Rio como capital cultural do país".
O museu começou com os acervos do colecionador Mauricio Quadrio, do cantor, radialista e pesquisador Almirante e dos fotógrafos Augusto Malta e Guilherme Santos. Hoje, tem 22 coleções particulares, como as de Elizeth Cardoso, Nara Leão e Jacob do Bandolim, além de 1.600 da série depoimentos para a posteridade.
Um terço de seu acervo vem da rádio Nacional. No novo prédio, as novelas de rádio estarão na mesma sala das telenovelas, cedidas pela TV Globo -assim como os programas humorísticos, reunidos no ambiente do "espírito carioca".
Narrativas como uma que parte do filme "Rio 40 Graus", de Nelson Pereira dos Santos, para contar a história da rebeldia no Rio do século 20 serão outros destaques. A bossa nova terá sala semelhante a um apartamento, com vista para o mar e fotos do Rio projetadas.
Nos níveis mais baixos do edifício estarão a boate Noites Cariocas, que durante o dia contará a história da noite do Rio, e uma área de convivência em que as pessoas poderão ver as "manchetes" daquela data, extraídas do acervo.
O centro de documentação passará a ter 300 metros quadrados, com terminais de consulta e salas de pesquisa. Mas a maior parte do acervo não ficará em Copacabana, por razões de segurança e porque estará quase todo disponível digitalmente, inclusive pela internet.
(LUIZ FERNANDO VIANNA)


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