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Novo museu quer expor um Rio mais cosmopolita
Projeto de Carlos Lacerda, que tinha ambições políticas e intenção de levantar a autoestima da cidade, é recuperado
Instituição conta com 22 coleções particulares, como as de Elizeth Cardoso e Jacob do Bandolim; espaço terá novelas de rádio e TV
Divulgação
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Instituto de Arte Contemporânea de Boston, do escritório
Diller Scofidio + Renfro, que assina projeto do novo MIS no Rio
DA SUCURSAL DO RIO
O primeiro Museu da Imagem e do Som do país nasceu
em 1965 sobre um interessante
paradoxo. Na ressaca por perder o status de capital para Brasília, o Rio queria ressaltar suas
características peculiares e
mostrar o quanto era uma cidade nacional e cosmopolita.
Na locomotiva do movimento, um governador que planejava grandes realizações no recém-criado Estado da Guanabara -substituto do Distrito
Federal e fundido em 1975 com
o Estado do Rio de Janeiro-
para se tornar presidente da
República. No entanto, o regime militar suspendeu as eleições diretas e cassou os direitos
políticos de seu ex-defensor
Carlos Lacerda.
"Não somos uma capital decaída, somos uma cidade libertada", discursou Lacerda em
1960, no LP de campanha "A
Redenção da Cidade", também
acenando para o país. "Sabem
esses brasileiros que somos
uma região sem regionalismo,
pensamos os nossos problemas
em termos mundiais além de
continentais, e continentais
além de nacionais."
O MIS era fundamental neste projeto, pois documentaria o
que é ser carioca, sem deixar de
fornecer "o deslumbramento
dos olhos, a diversão para os
ouvidos", como destacou Lacerda na inauguração, no ano
do quarto centenário da cidade.
A nova versão do museu quer
restaurar o projeto inicial, já
que na maior parte de sua história, por razões políticas e financeiras, o MIS se limitou a
reunir documentos. Mas Rosa
Araujo relativiza o protagonismo de Lacerda. "O MIS foi criado por uma geração, que viu a
necessidade de se manter a memória do Rio", diz ela, embasada pela historiadora Cláudia
Mesquita, que fala no livro "Um
Museu para a Guanabara" no
"empreendimento coletivo de
políticos e intelectuais cariocas, voltados para a reafirmação do Rio como capital cultural do país".
O museu começou com os
acervos do colecionador Mauricio Quadrio, do cantor, radialista e pesquisador Almirante e
dos fotógrafos Augusto Malta e
Guilherme Santos. Hoje, tem
22 coleções particulares, como
as de Elizeth Cardoso, Nara
Leão e Jacob do Bandolim,
além de 1.600 da série depoimentos para a posteridade.
Um terço de seu acervo vem
da rádio Nacional. No novo prédio, as novelas de rádio estarão
na mesma sala das telenovelas,
cedidas pela TV Globo -assim
como os programas humorísticos, reunidos no ambiente do
"espírito carioca".
Narrativas como uma que
parte do filme "Rio 40 Graus",
de Nelson Pereira dos Santos,
para contar a história da rebeldia no Rio do século 20 serão
outros destaques. A bossa nova
terá sala semelhante a um apartamento, com vista para o mar
e fotos do Rio projetadas.
Nos níveis mais baixos do
edifício estarão a boate Noites
Cariocas, que durante o dia
contará a história da noite do
Rio, e uma área de convivência
em que as pessoas poderão ver
as "manchetes" daquela data,
extraídas do acervo.
O centro de documentação
passará a ter 300 metros quadrados, com terminais de consulta e salas de pesquisa. Mas a
maior parte do acervo não ficará em Copacabana, por razões
de segurança e porque estará
quase todo disponível digitalmente, inclusive pela internet.
(LUIZ FERNANDO VIANNA)
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