São Paulo, segunda-feira, 22 de maio de 2000


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Tudo é hematoma em "Marcas da Paixão"

TELMO MARTINO
COLUNISTA DA FOLHA

A té que "Marcas da Paixão" é um bom nome para uma novela da Record. Tudo não passa mesmo de um hematoma na sua programação. A Irene Ravache, com os cabelos ruivos e picotados, tenta uma intensidade ao telefone com um tal de Mota. "Se você não abrir a porta, faço um escândalo no corredor." Ninguém treme. Nem há por quê.
É tão excêntrica a idéia de uma novela na Record que o Mota abre a porta e rouba a oportunidade de a Ravache ser escandalosa e fazer aquela imitação de rã toda vez que cai no choro. Escândalo tenta o Mota com um robe vermelho entreaberto com alguns pelos grisalhos em exibição. O suficiente para a Ravache ir, sozinha, aos picos da sensualidade.
Tudo é tão desnecessário que a ação (?) se deixa interromper por qualquer propaganda política interessada em ganhar muito espaço. A Tânia Alves, por exemplo, nem está aí. Fica tomando um longo banho num chuveiro de pingos ocasionais num casebre do sertão. Ela não se queixa. Quer é ser sensual. Comportamento melhor tem a Jussara Freire, que tem na pobreza o conforto dramático de uma poltrona macia.
O elenco da novela é assim. Tem pessoas conhecidas como a Lady Francisco. Mas como reconhecer a Lady Francisco depois de tanto tempo? Tem também o Oscar Magrini que, pelo tom muito vermelho dos cabelos, deve ser o irmão caçula da Irene Ravache. E tem também uma moça zangada que já andou por alguma novela da TV Globo, mas não se demorou o suficiente para entrar na pia batismal do estúdio.
Como se sabe, só a Globo tem pia batismal. Quem por ela não passa nunca terá seu nome decorado. É o caso dessa moça que faz a Cíntia na novela de Solange Castro Neves. Sabe-se porque ela não teve tempo para o batismo.
Até agora a única diversão de "Marcas da Paixão" foi (sempre será?) a Natália Timberg muito consciente de estar fazendo novela mambembe. Despojou-se de todos os luxos de eterna candidata ao título de baronesa e nem os cabelos pinta mais. Será um pito na Ravache? Tudo é possível para quem está apenas de passagem. Com o bom humor dos descompromissados, Natália Timberg pôde ser até leve ao se divertir com os pivetes que cobiçaram as moedas de sua bolsinha.
Por falar em humor, muito melhor é dar uma espiada nas travessuras do "Casseta & Planeta", urgentíssimos. Muito "ensemble", já nem se identificam mais numa ficha técnica. A turma, ao contrário de qualquer outra, sabe que os jornais são os maiores provedores de notícias. Anunciaram que iriam retalhar a Amazônia e o seringueiro Bussunda já estava se queixando de que não ia mais tirar leite do pau. Depois das manchetes ainda tem o Hélio de la Peña como o padre proctologista com o dedo indicador maior do mundo. Por que será que o Boris Karloff ou mesmo o Mel Brooks nunca pensaram nisso? Porque eles tinham o planeta, mas a Casseta é nossa.


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