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Tudo é hematoma em "Marcas da Paixão"
TELMO MARTINO
COLUNISTA DA FOLHA
A té que "Marcas da Paixão" é um bom nome para
uma novela da Record. Tudo não
passa mesmo de um hematoma
na sua programação. A Irene Ravache, com os cabelos ruivos e picotados, tenta uma intensidade
ao telefone com um tal de Mota.
"Se você não abrir a porta, faço
um escândalo no corredor." Ninguém treme. Nem há por quê.
É tão excêntrica a idéia de uma
novela na Record que o Mota
abre a porta e rouba a oportunidade de a Ravache ser escandalosa e fazer aquela imitação de rã
toda vez que cai no choro. Escândalo tenta o Mota com um robe
vermelho entreaberto com alguns
pelos grisalhos em exibição. O suficiente para a Ravache ir, sozinha, aos picos da sensualidade.
Tudo é tão desnecessário que a
ação (?) se deixa interromper por
qualquer propaganda política interessada em ganhar muito espaço. A Tânia Alves, por exemplo,
nem está aí. Fica tomando um
longo banho num chuveiro de
pingos ocasionais num casebre do
sertão. Ela não se queixa. Quer é
ser sensual. Comportamento melhor tem a Jussara Freire, que tem
na pobreza o conforto dramático
de uma poltrona macia.
O elenco da novela é assim. Tem
pessoas conhecidas como a Lady
Francisco. Mas como reconhecer
a Lady Francisco depois de tanto
tempo? Tem também o Oscar Magrini que, pelo tom muito vermelho dos cabelos, deve ser o irmão
caçula da Irene Ravache. E tem
também uma moça zangada que
já andou por alguma novela da
TV Globo, mas não se demorou o
suficiente para entrar na pia batismal do estúdio.
Como se sabe, só a Globo tem
pia batismal. Quem por ela não
passa nunca terá seu nome decorado. É o caso dessa moça que faz
a Cíntia na novela de Solange
Castro Neves. Sabe-se porque ela
não teve tempo para o batismo.
Até agora a única diversão de
"Marcas da Paixão" foi (sempre
será?) a Natália Timberg muito
consciente de estar fazendo novela mambembe. Despojou-se de todos os luxos de eterna candidata
ao título de baronesa e nem os cabelos pinta mais. Será um pito na
Ravache? Tudo é possível para
quem está apenas de passagem.
Com o bom humor dos descompromissados, Natália Timberg
pôde ser até leve ao se divertir
com os pivetes que cobiçaram as
moedas de sua bolsinha.
Por falar em humor, muito melhor é dar uma espiada nas travessuras do "Casseta & Planeta",
urgentíssimos. Muito "ensemble",
já nem se identificam mais numa
ficha técnica. A turma, ao contrário de qualquer outra, sabe que os
jornais são os maiores provedores
de notícias. Anunciaram que
iriam retalhar a Amazônia e o seringueiro Bussunda já estava se
queixando de que não ia mais tirar leite do pau. Depois das manchetes ainda tem o Hélio de la Peña como o padre proctologista
com o dedo indicador maior do
mundo. Por que será que o Boris
Karloff ou mesmo o Mel Brooks
nunca pensaram nisso? Porque
eles tinham o planeta, mas a Casseta é nossa.
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