São Paulo, domingo, 22 de maio de 2005

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DO LIXO AO LUXO

Programa tem proporcionalmente audiência muito mais qualificada que "Faustão" e "Domingo Legal"

Visto pela elite, "Pânico" triplica receitas

Eduardo Knapp/Folha Imagem
Sabrina Sato, Repórter Vesgo (Wellington Muniz), Mulher Samambaia (Daniele de Souza) e Ceará (Rodrigo Scarpa), do "Pânico"


DA REDAÇÃO

Dos três primeiros programas na disputa pelo público da faixa das 18h às 20h dos domingos, o "Pânico" é o que tem, proporcionalmente, a audiência mais qualificada. De cada cem telespectadores do programa, mais de 90 são das classes A, B e C, as que têm poder de consumo e eletrizam os anunciantes. Só as classes A e B, a elite econômica, respondem por 53% da audiência.
É bem mais do que o "Domingão do Faustão" (30% de AB). No entanto, por ter audiência menor (média de oito pontos, ou 588 mil telespectadores na Grande São Paulo em abril e maio), o "Pânico" ainda é visto por menos gente da elite do que o concorrente da Globo.
O mercado publicitário já descobriu esse lado nobre do "Pânico", um programa que atrai o público pela criatividade de uma produção sem recursos e pela sátira e crítica à indústria de celebridades, incluindo a própria TV.
No domingo passado, o "Pânico" teve 15 minutos de propaganda paga e cinco merchandisings. Nos intervalos, foram 26 comerciais, entre eles os de anunciantes para consumidores sofisticados, como Volkswagen, General Motors, Suzuki e Red Bull, além de Sadia, Nestlé, Coca-Cola e Pepsi. "Temos fila para merchandising, que limitamos a cinco por programa", comemora Amilcare Dallevo Jr., presidente da Rede TV!.
Antonio Rosa Neto, consultor de mídia que assessora grandes anunciantes, corrobora: "O "Pânico", assim como o "Perdidos na Noite" nos anos 80, fala para o formador de opinião, que influencia de três a dez pessoas".
Dallevo afirma que o "Pânico" irá ganhar mais meia hora para atender à demanda publicitária. O executivo não revela o faturamento do programa. Diz apenas que ele triplicou em um ano.

Humildade
Líder e "cérebro" do grupo, o apresentador Emílio Surita tem um discurso humilde, diferente das personalidades que seus comandados perseguem para que calcem as "Sandálias da Humildade", um "prêmio" para famosos tidos como arrogantes.
"Quando o "Pânico" dava dois pontos no Ibope, tinha a mesma repercussão que agora", diz Surita, que se empenhará numa campanha por um cenário -o atual se resume a oito tapadeiras e uma bancada, "reciclada de merchandising", e custou R$ 5.000.
Surita duvida que o "Pânico" possa existir na Globo. "Não é um produto da Globo. O "Pânico" está na contramão, é alternativo, subversivo. Sinceramente, eu não iria para a Globo. Lá, tem uma cartilha que proíbe zoar com programas de outras emissoras. Se virar oficial, perde a graça", avalia. "Acho difícil o "Pânico" funcionar fora da Rede TV!."
Para Surita, também não adiantam injeções cavalares de dinheiro na produção do "Pânico". "As pessoas gostam de saber que funcionamos com pouco dinheiro."
Rodrigo Scarpa, o Repórter Vesgo, assina embaixo. "Só na Rede TV! a gente pode zoar os donos da emissora", conta. Scarpa se prepara agora para perseguir Jô Soares, que chama de "o Bonzão". Tentará infernizá-lo com as "Sandálias da Humildade".
O "Pânico" também já goza de respeito da concorrência. "Eles fazem um humor irreverente que provoca boas risadas. Considero um trabalho muito criativo. Eles são a bola da vez", diz Gugu Liberato, que admite que não se sente confortável ao ser mostrado um tanto delicado nas sátiras do programa. "Claro que é mais prazeroso ser reconhecido pelas qualidades", afirma o apresentador.
"O "Pânico" se aproveitou de um vácuo na audiência dos domingos. Ganhou o público que não gosta do Faustão e o que deixou de gostar do Gugu após o caso PCC", analisa Alberto Luchetti, ex-diretor do "Domingão".
O aspecto apelativo do "Pânico" já gera problemas. Na semana passada, a emissora foi condenada a pagar indenização de R$ 100 mil a uma mulher que se sentiu constrangida por ter sua saia levantada ao ser abordada na São Paulo Fashion Week, em janeiro. A Rede TV! irá recorrer.
Por ser humorístico, o programa não tem "compromisso com a verdade". Nos últimos dois meses, fez parecer ao público que um de seus integrantes, Márvio Lúcio, o Carioca, desistiu da TV e virou hare krishna. Carioca, na verdade, continua no palco do programa, protegido pela máscara do personagem Mestre Fioda.
(DANIEL CASTRO)


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