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60º Festival de Cannes
Van Sant retoma temas da adolescência
Crime e escola voltam em "Paranoid Park", de diretor que levou a Palma em 2003 com filme sobre massacre de Columbine
Com roteiro flexível, atores não-profissionais e uso de improvisação, longa foi filmado em 18 dias e custou cerca de US$ 3 milhões
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES
"Um "Crime e Castigo" no
mundo do skate." É como o diretor americano Gus Van Sant
resume seu novo filme, "Paranoid Park", exibido ontem em
competição pela Palma de Ouro no Festival de Cannes.
Van Sant venceu a Palma em
2003, com "Elefante", em que
aborda o massacre de Columbine, de modo ficcional.
"Paranoid Park" retorna ao
universo adolescente e aos corredores escolares, para se concentrar, desta vez, no drama
pessoal do estudante Alex (Gabe Nevins), 16, que, involuntariamente, comete um crime.
Alex é skatista. Quando seu
amigo Jared (Jake Miller) o
convida para ir ao parque do título, ele responde que ainda
não se sente preparado. "Ninguém nunca está de fato preparado para o Paranoid Park", diz
Jared, numa antecipação do
significado de rito de passagem
para a vida adulta que o episódio terá na vida de Alex.
O Paranoid Park é um misto
de pista de skate e moradia da
turma da pesada de Portland
(Oregon). Levado por um skatista do parque, Alex vai "surfar" num trem, perto dali. Mas
os dois são vistos por um segurança, que os persegue.
Como lidar com a culpa pela
morte de um homem e com
quem dividir essa angústia são
os temas que passam a tomar
conta da vida de Alex -e do filme, narrado em flashbacks.
Estética
A idéia de utilizar a câmera
lenta nas cenas de skate e as caminhadas do protagonista
-obtendo efeito de uma beleza
delicada- foi do fotógrafo
Christopher Doyle, conhecido
por seus trabalhos com o diretor Wong Kar-wai ("Amor à
Flor da Pele", "2046").
"Paranoid Park" tem cenas
feitas no antigo formato super-8, além da película de 35 mm.
Parcela da atraente trilha sonora chegou ao filme pelos
iPods da equipe. O elenco foi
recrutado na região, onde foram espalhados flyers e anúncios em jornais, e também pelo
site relacional MySpace.
As filmagens foram concluídas em 18 dias e custaram cerca
de US$ 3 milhões (R$ 6 milhões). A produção é da francesa MK2. Van Sant diz que o modo de produção independente
dos estúdios de Hollywood dá
mais liberdade aos diretores.
Uma vantagem que o cineasta afirma ver no trabalho com
atores não-profissionais ou
"naturais", como ele prefere
chamar, é a possibilidade de incorporar ao filme aspectos do
cotidiano do elenco.
Assim como havia feito em
"Elefante", Van Sant não quis
filmar "Paranoid Park" com um
roteiro (assinado por ele) inalterável, embora o filme seja
uma adaptação do livro do escritor originário do Oregon
Blake Nelson.
"Foi muito legal Van Sant me
pedir para dizer no filme o que
eu falo normalmente", disse a
atriz Lauren McKinney, referindo-se às cenas em que sua
personagem mostra preocupação com a Guerra do Iraque.
Van Sant disse que, na adolescência, "tinha medo" do futuro e sentia que "a escola era
um lugar em que você tinha que
lutar para sobreviver". Hoje,
afirmou, os jovens com essa
apreensão, como os do filme,
"quando pensam no futuro,
têm de encarar a possibilidade
de passar tempo no Iraque".
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