São Paulo, terça-feira, 22 de maio de 2007

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60º Festival de Cannes

Van Sant retoma temas da adolescência

Crime e escola voltam em "Paranoid Park", de diretor que levou a Palma em 2003 com filme sobre massacre de Columbine

Com roteiro flexível, atores não-profissionais e uso de improvisação, longa foi filmado em 18 dias e custou cerca de US$ 3 milhões

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A CANNES

"Um "Crime e Castigo" no mundo do skate." É como o diretor americano Gus Van Sant resume seu novo filme, "Paranoid Park", exibido ontem em competição pela Palma de Ouro no Festival de Cannes.
Van Sant venceu a Palma em 2003, com "Elefante", em que aborda o massacre de Columbine, de modo ficcional.
"Paranoid Park" retorna ao universo adolescente e aos corredores escolares, para se concentrar, desta vez, no drama pessoal do estudante Alex (Gabe Nevins), 16, que, involuntariamente, comete um crime.
Alex é skatista. Quando seu amigo Jared (Jake Miller) o convida para ir ao parque do título, ele responde que ainda não se sente preparado. "Ninguém nunca está de fato preparado para o Paranoid Park", diz Jared, numa antecipação do significado de rito de passagem para a vida adulta que o episódio terá na vida de Alex.
O Paranoid Park é um misto de pista de skate e moradia da turma da pesada de Portland (Oregon). Levado por um skatista do parque, Alex vai "surfar" num trem, perto dali. Mas os dois são vistos por um segurança, que os persegue.
Como lidar com a culpa pela morte de um homem e com quem dividir essa angústia são os temas que passam a tomar conta da vida de Alex -e do filme, narrado em flashbacks.

Estética
A idéia de utilizar a câmera lenta nas cenas de skate e as caminhadas do protagonista -obtendo efeito de uma beleza delicada- foi do fotógrafo Christopher Doyle, conhecido por seus trabalhos com o diretor Wong Kar-wai ("Amor à Flor da Pele", "2046").
"Paranoid Park" tem cenas feitas no antigo formato super-8, além da película de 35 mm.
Parcela da atraente trilha sonora chegou ao filme pelos iPods da equipe. O elenco foi recrutado na região, onde foram espalhados flyers e anúncios em jornais, e também pelo site relacional MySpace.
As filmagens foram concluídas em 18 dias e custaram cerca de US$ 3 milhões (R$ 6 milhões). A produção é da francesa MK2. Van Sant diz que o modo de produção independente dos estúdios de Hollywood dá mais liberdade aos diretores.
Uma vantagem que o cineasta afirma ver no trabalho com atores não-profissionais ou "naturais", como ele prefere chamar, é a possibilidade de incorporar ao filme aspectos do cotidiano do elenco.
Assim como havia feito em "Elefante", Van Sant não quis filmar "Paranoid Park" com um roteiro (assinado por ele) inalterável, embora o filme seja uma adaptação do livro do escritor originário do Oregon Blake Nelson.
"Foi muito legal Van Sant me pedir para dizer no filme o que eu falo normalmente", disse a atriz Lauren McKinney, referindo-se às cenas em que sua personagem mostra preocupação com a Guerra do Iraque.
Van Sant disse que, na adolescência, "tinha medo" do futuro e sentia que "a escola era um lugar em que você tinha que lutar para sobreviver". Hoje, afirmou, os jovens com essa apreensão, como os do filme, "quando pensam no futuro, têm de encarar a possibilidade de passar tempo no Iraque".


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