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Temporada afirma novos autores
Dramaturgos na faixa dos 25 aos 35 anos despontam em espetáculos bancados por eles mesmos
Nomes como Jô Bilac, Marília Toledo e João Fábio Cabral colhem elogios e prêmios por peças pouco comentadas na mídia
LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL
A geração de dramaturgos de
25 a 35 anos que começa a se
afirmar no circuito Rio-São
Paulo banca suas produções,
defende que é possível sobreviver sem críticas em jornais (ou
apesar delas) e lista solidão, tolerância e falta de comunicação
como temas-fetiche.
A Folha reuniu anteontem
cinco nomes em ascensão para
uma conversa sobre as dificuldades de quem se aventura na
escrita teatral: Jô Bilac, 24,
Eduardo Ruiz, 35, João Fábio
Cabral, 35, Marília Toledo, 31, e
Leonardo Moreira, 26.
Apesar dos perrengues financeiros e da pouca visibilidade na mídia, eles parecem convictos da carreira -frases como "isso vicia", "se não escrever, surto!" e "nunca mais vou
parar" são ouvidas várias vezes.
E também certos de que a classe precisa se articular melhor
para organizar mostras de textos inéditos e publicar as criações de nomes sem projeção.
"Não é por que a gente é novo
ou não tem nome que não vai
escrever coisas interessantes",
diz Cabral, com "Sobre a Neve
Em Frente à Torre Eiffel", "Um
Lugar que Nunca Tive" e "Rosa
de Vidro" em cartaz.
"Isso deveria ser um chamariz", completa Ruiz, autor de
"Chorávamos Terra Ontem à
Noite". "Escuto todo dia: "Escreva uma comédia!". Se trato
de um tema mais violento, ouço: "Ah, mas disso você não pode falar numa empresa [para
pleitear patrocínio]". Parece
que a saída é escrever coisa leve
ou você morre de fome."
Ao que Cabral lembra: "Também tem o papo do "monta com
ator de TV". Pô, se mal consegue montar com a gente..."
"Anjos"
Aí entram as economias pessoais -ou os "anjos", como
aconteceu com Ruiz em "Chorávamos", bancado por um jovem que nem sequer pediu para ler o texto. "Mas isso é incomum. A gente não pode viver
assim", pontua ele.
"Há poucos concursos [de
dramaturgia], com um ou dois
prêmios. Acham que a gente escreve de quê, de beleza? Isso é
trabalho!", exalta-se Cabral.
Trabalho que, para ele, não
demanda obrigatoriamente
uma formação em sala de aula.
"Não discordo que se tenha de
ensinar. Mas se todo mundo escreve, vira uma palhaçada, desvaloriza o trabalho."
Marília Toledo, premiada
com o Shell-SP em março por
"Amor de Servidão" e que hoje
estreia "De Vita Sua", discorda:
"É claro que você já nasce com
uma coisa diferente, vê cena em
tudo. Mas uma formação pode
mostrar caminhos, dar ferramentas que nós aqui tivemos
de descobrir sozinhos."
Um dos caminhos que os cinco dramaturgos já percorreram
é o das adaptações de romances
(caso de "Amor...") ou peças
inspiradas em biografias ("Rosa de Vidro") e arquétipos-síntese de determinado autor (caso de "Cachorro", de Jô Bilac,
decalcado do universo rodriguiano). Não é mais possível ser
completamente original?
"A sua inspiração parte daquilo com que você se identifica", afirma Bilac. "A partir do
momento em que você se apropria da história do livro e a recria, ela passa a ser sua", emenda Toledo. "Mas também é legal não ter em que se apoiar,
achar, destruir e reinventar sua
linguagem", conclui Ruiz.
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