São Paulo, sexta-feira, 22 de maio de 2009

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Temporada afirma novos autores

Dramaturgos na faixa dos 25 aos 35 anos despontam em espetáculos bancados por eles mesmos

Nomes como Jô Bilac, Marília Toledo e João Fábio Cabral colhem elogios e prêmios por peças pouco comentadas na mídia

LUCAS NEVES
DA REPORTAGEM LOCAL

A geração de dramaturgos de 25 a 35 anos que começa a se afirmar no circuito Rio-São Paulo banca suas produções, defende que é possível sobreviver sem críticas em jornais (ou apesar delas) e lista solidão, tolerância e falta de comunicação como temas-fetiche.
A Folha reuniu anteontem cinco nomes em ascensão para uma conversa sobre as dificuldades de quem se aventura na escrita teatral: Jô Bilac, 24, Eduardo Ruiz, 35, João Fábio Cabral, 35, Marília Toledo, 31, e Leonardo Moreira, 26.
Apesar dos perrengues financeiros e da pouca visibilidade na mídia, eles parecem convictos da carreira -frases como "isso vicia", "se não escrever, surto!" e "nunca mais vou parar" são ouvidas várias vezes. E também certos de que a classe precisa se articular melhor para organizar mostras de textos inéditos e publicar as criações de nomes sem projeção.
"Não é por que a gente é novo ou não tem nome que não vai escrever coisas interessantes", diz Cabral, com "Sobre a Neve Em Frente à Torre Eiffel", "Um Lugar que Nunca Tive" e "Rosa de Vidro" em cartaz.
"Isso deveria ser um chamariz", completa Ruiz, autor de "Chorávamos Terra Ontem à Noite". "Escuto todo dia: "Escreva uma comédia!". Se trato de um tema mais violento, ouço: "Ah, mas disso você não pode falar numa empresa [para pleitear patrocínio]". Parece que a saída é escrever coisa leve ou você morre de fome."
Ao que Cabral lembra: "Também tem o papo do "monta com ator de TV". Pô, se mal consegue montar com a gente..."

"Anjos"
Aí entram as economias pessoais -ou os "anjos", como aconteceu com Ruiz em "Chorávamos", bancado por um jovem que nem sequer pediu para ler o texto. "Mas isso é incomum. A gente não pode viver assim", pontua ele.
"Há poucos concursos [de dramaturgia], com um ou dois prêmios. Acham que a gente escreve de quê, de beleza? Isso é trabalho!", exalta-se Cabral.
Trabalho que, para ele, não demanda obrigatoriamente uma formação em sala de aula. "Não discordo que se tenha de ensinar. Mas se todo mundo escreve, vira uma palhaçada, desvaloriza o trabalho."
Marília Toledo, premiada com o Shell-SP em março por "Amor de Servidão" e que hoje estreia "De Vita Sua", discorda: "É claro que você já nasce com uma coisa diferente, vê cena em tudo. Mas uma formação pode mostrar caminhos, dar ferramentas que nós aqui tivemos de descobrir sozinhos."
Um dos caminhos que os cinco dramaturgos já percorreram é o das adaptações de romances (caso de "Amor...") ou peças inspiradas em biografias ("Rosa de Vidro") e arquétipos-síntese de determinado autor (caso de "Cachorro", de Jô Bilac, decalcado do universo rodriguiano). Não é mais possível ser completamente original?
"A sua inspiração parte daquilo com que você se identifica", afirma Bilac. "A partir do momento em que você se apropria da história do livro e a recria, ela passa a ser sua", emenda Toledo. "Mas também é legal não ter em que se apoiar, achar, destruir e reinventar sua linguagem", conclui Ruiz.

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