São Paulo, domingo, 22 de maio de 2011

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CRÍTICA

Manuais só são úteis quando o desejo está em baixa

JULIANA DI FIORI
DANIEL MIRANDA
ESPECIAL PARA A FOLHA

O "Kama Sutra" não é um livro sobre posições sexuais. Em sânscrito, "kama" significa "amor", "prazer" e "desejo". E "sutra" quer dizer "tratado" ou "manual", sendo, portanto, apenas um conjunto de regras e orientações sobre a vida do cidadão.
O livro ensina desde os modos de atingir os objetivos da vida até a maneira como o homem deve viver com a sua esposa, entre outras coisas.
Todos os ensinamentos estão distribuídos em sete livros.
Apenas um dos sete livros é dedicado à união sexual, dividido ainda em dez capítulos: Tipologia Sexual, Abraço, Beijo, Arranhão, Mordida, Posições Sexuais, Golpes, A Mulher Fazendo o Papel do Homem, Sexo Oral e O Começo e o Fim do Sexo.
Em "Kama Sutra: as 101 Posições Mais Sensuais", de Alicia Gallotti, há um catálogo de 101 posições sexuais ilustradas. Não há menção a todas as outras partes da obra, nem a seus princípios.
No "Kama Sutra" indiano, existem apenas 17 posições sexuais. E, embora seja possível encontrar uma ou outra semelhança com as 101 posições enumeradas pela autora, não há equivalência nem mesmo entre os seus nomes.
O "Kama Sutra XXX: As Práticas Sexuais mais Inconfessáveis", da mesma autora, está ainda mais distante da obra hindu, pois não passa de um livro de contos eróticos, com algumas tentativas de investigação psicológica, com caráter de autoajuda.
Assim, os livros modernos ocidentais, que se dizem inspirados no pensamento oriental, pretendem ser guias elaborados por especialistas, que se colocam como autoridades no assunto, numa postura bem diferente da dos autores indianos.
Estes, na tentativa de compor um manual completo, reúnem pensamentos de diversos autores e práticas de várias regiões.
Como escreveu o filósofo Vatsyayana no "Kama Sutra" primeiro, "o terreno dos manuais serve enquanto o desejo dos homens é baixo, pois, quando a roda do êxtase está em movimento, não há regras nem ordem".

JULIANA DI FIORI e DANIEL MIRANDA são os tradutores de "Kama Sutra" em sua primeira versão do sânscrito para o português, a ser publicado pelo selo Tordesilhas em agosto.


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