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Amílcare Dallevo Jr., atual dono da emissora, diz à Folha que investirá US$ 100 milhões na rede; programação terá jornalismo, entretenimento e esportes, sem novelas
Nova TV Manchete estréia em agosto com outro nome
ALINE SORDILI
da Reportagem Local
Estréia em agosto a nova programação e o novo nome da Rede
Manchete. Amílcare Dallevo Jr.,
41, atual dono da emissora, encomendou pesquisa para a agência
de publicidade Fischer, Justus, que
deve descobrir qual o nome que
mais agrada à população. A agência também cuidará do lançamento da nova emissora.
Na compra, o empresário desembolsou um total de R$ 250 milhões -entre dívidas com o governo e trabalhistas, além das cinco
concessões (São Paulo, Rio, Recife,
Belo Horizonte e Fortaleza).
O potencial da rede, e suas dívidas, foi levantado pela norte-americana Lehman Brothers, fundada
em 1850, especialista em investimentos e mercados de capitais.
Além desse gasto, o empresário
diz que desembolsará US$ 100 milhões nos próximos 12 meses para
montar a nova emissora. A nova
Manchete terá equipamentos digitais e sua programação será formada por jornalismo, esporte, filmes
e shows, mas sem dramaturgia,
por enquanto -"que é um investimento alto". Além disso, será uma
emissora interativa -especialidade do grupo TeleTV, de Dallevo.
A programação atual da Manchete será exibida ainda por 90
dias. "Isso me dá uma certa angústia, agora que está tudo certo."
Dallevo não ficou com nenhum
prédio ou equipamento da Manchete. Os funcionários foram o ativo incorporado. "Não ficamos
com a TV Manchete Ltda. Nem
com o seu CGC. Essa empresa tem
ainda uma dívida de cerca de R$ 80
milhões com bancos privados",
disse Dallevo. A Folha teve acesso
a certidões negativas de débito da
emissora junto ao INSS (Instituto
Nacional do Seguro Social). O pagamento foi feito no dia 18.
Quando tudo começou
O interesse de Dallevo, e de seu
sócio Marcelo de Carvalho, na
Manchete começou em 97, quando
a Ômega (produtora de Dallevo)
começou a produzir os programas
de domingo na emissora. Nessa
época, a produtora cuidava dos
programas de Sérgio Mallandro,
Virgínia Nowicki e Otávio Mesquita. Dallevo disse ter muito interesse em levar Mallandro de volta para a sua emissora. Ele nega, porém,
qualquer convite oficial à apresentadora Ana Maria Braga.
O "romance" com a Manchete
durou até meados de 98, quando,
segundo ele, começou a "ficar difícil trabalhar lá". Em dezembro do
mesmo ano, veio o interesse de
compra. Mas a idéia foi abandonada quando a Igreja Renascer arrendou a Manchete. "Quando a igreja
saiu, voltamos a estudar."
Leia os principais trechos da entrevista de Dallevo à Folha, em seu
escritório em São Paulo.
Folha - O sr. não tem medo de assumir uma equipe arredia, resistente? Que não recebe salários
desde outubro?
Amílcare Dallevo Jr. - A primeira
coisa que fizemos, quando começamos a auditoria, foi sentar com
todos os sindicatos para tentar um
acordo. Vamos dizer que eles foram os meus primeiros "credores". O pessoal sofreu muito. Foram heróis. Eles estão vendo essa
compra como uma solução. Eles
estão alinhados conosco e com
vontade de trabalhar.
Folha - Como fica a situação dos
funcionários?
Dallevo Jr. - Estamos contando a
folha de pagamento de agosto de
98. Todas as demissões que foram
feitas até por telegrama estão canceladas. Esse foi o acordo com o
sindicato. Será pago um primeiro
salário líquido e o restante do atrasado será pago em 11 vezes. Será
criado um plano de demissões voluntárias, que vai servir prioritariamente para quem já deixou a
emissora por falta de pagamento e
está contratado em outro lugar.
Folha - Por que a Bloch Som e
Imagem não entrou no acordo?
Dallevo Jr. - A empresa tinha alguns ativos que não nos interessavam, como cenários de novelas,
além de uma dívida enorme. No
acordo, me pediram para "salvar"
os 500 funcionários da produtora,
mas, se eu ficasse com eles -e com
o passivo-, não conseguiria assumir os outros 1.500. Isso não é fácil.
É um negócio que tem de dar certo.
Folha - Como está a situação técnica das retransmissoras?
Dallevo Jr. - Temos muitas retransmissoras com problemas técnicos que foram identificados na
auditoria. O plano tecnológico já
está sendo implantado. Aqui em
São Paulo, por exemplo, o transmissor está operando com 30% da
potência por falta de peças. Quando chegar a 100%, a imagem vai pegar para lá de Santo André (Grande São Paulo). Em três meses, a cobertura da rede será praticamente
duplicada só com a manutenção.
Folha - Como é assumir uma rede
que acaba de perder afiliadas?
Dallevo Jr. - A Manchete perdeu
algumas praças importantes, como Bahia, Porto Alegre e Florianópolis. Ia perder mais, mas já falamos com algumas afiliadas, como
a de Brasília. É mais fácil conseguir
afiliadas depois de colocar no ar
uma programação de qualidade.
Folha - A Folha tem conhecimento de outro grupo que estava interessado na Manchete. Esse grupo
está reclamando da venda para a
TeleTV. O que o sr. acha disso?
Dallevo Jr. - Eu só tive conhecimento de outros grupos por jornais e pelo Jaquito (Pedro Jack Kapeller, presidente do grupo Bloch).
Ele sempre falava: "Olha, temos
mais três grupos interessados
etc.". Acho que, se ele tivesse recebido uma proposta melhor que a
nossa, teria vendido para outro
grupo. Nosso negócio é limpo e
transparente. Pagamos as dívidas
com o governo (mostra as certidões negativas de débito à Folha).
Folha - A Ômega poderá usar o
acervo da Manchete?
Dallevo Jr. - É uma coisa que deve
ser negociada. Se precisarmos,
acho que poderemos usar.
Folha - A programação vai ser baseada em jornalismo?
Dallevo Jr. - Falei que ia investir
em jornalismo porque os telejornais locais foram extintos. Vamos
fazer também parcerias com agências de notícias internacionais.
Folha - Como é assumir uma
emissora que tem como líderes de
audiência uma reprise de "Pantanal" e desenhos japoneses empatados com dois pontos?
Dallevo Jr. - Não me preocupo
com isso agora. Quando colocarmos uma programação de qualidade no ar, a audiência volta.
Folha - A cabeça de rede será no
Rio, como quer o sindicato?
Dallevo Jr. - Já falei para o sindicato que isso é uma grande besteira. O que é ser cabeça de rede? É
transmitir o sinal. Deixo a transmissão lá e a produção em outro
lugar, e daí? Isso é uma coisa da década de 70. Eu quero uma televisão
nacional. Não quero uma TV que
seja carioca, paulista. Vai ter produção em todo lugar.
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