São Paulo, terça-feira, 22 de junho de 2004

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Com boa oferta de filmes mudos, CCSP relembra festival de 1954

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DA FOLHA

Em 1954, ano do Quarto Centenário, aconteceu em São Paulo o Festival de Cinema de São Paulo, um evento que, à parte trazer ao Brasil nomes tão ilustres e diversos como André Bazin e Edward G. Robinson, abriu um território imenso à cinefilia nacional, tão vasto era o seu repertório.
A partir de hoje, e até 4 de julho, o Centro Cultural São Paulo retoma esse festival, que trouxe até nós quase todas as mais sólidas tradições cinematográficas do século 20.
A parte de cinema mudo é, de longe, a mais forte. Lá estão o italiano "Cabíria" (1914), de Pastrone, o americano "O Nascimento de uma Nação" (1915), de D.W. Griffith, o francês "Napoleão" (1925), de Abel Gance, o sueco "O Vento" (1928), de Victor Sjostrom, o alemão "O Gabinete das Figuras de Cera" (1924), de Paul Leni -sem falar de outros que podem ser encontrados em DVD, como Eisenstein e Pudovkin.
O mais interessante, no entanto, talvez seja a série de três filmes de Erich von Stroheim: "Esposas Tolas" (1921), "Queen Kelly" (1929) e "Ouro e Maldição" (1924). Poderemos ver, portanto, três momentos de Stroheim.
Em "Esposas Tolas", é quando ele tem plenos poderes e é o grande diretor da Universal, introduzindo o naturalismo cinematográfico e tornando fora de moda o estilo de Griffith.
"Ouro e Maldição" é o filme que a MGM reduziu de sete para duas horas, afirmando o poder do estúdio e dos produtores à custa do seu principal diretor. Não obstante, o filme permanece uma obra-prima (na Mostra de Cinema de São Paulo, há poucos anos, foi mostrado em uma versão que reconstitui aproximadamente o que teria sido a montagem de quatro horas feita por Stroheim e recusada pelo estúdio).
Já "Queen Kelly" é o filme inacabado de um cineasta já maldito. Nem por isso menos notável.

O Brasil
A sessão brasileira da mostra do CCSP também é notável. Ao lado de "Ganga Bruta" (1933) e alguns outros Humberto Mauro que se pode encontrar em DVD, será possível ver raridades como "O Segredo do Corcunda" (1925), de Alberto Traversa e "O Caçador de Diamantes" (1933), de Vittorio Capellaro (fraco, mas de valor antropológico), sem falar de "Limite" (1931), de Mário Peixoto.
A parte sonora da mostra é bem menos fascinante, mas ainda assim traz, entre outros, "A Grande Ilusão" (1937), de Jean Renoir, "Cinco Covas no Egito" (1943) e "Crepúsculo dos Deuses" (1950), ambos de Billy Wilder. No setor nacional, uma série de filmes da época, de "O Cangaceiro", de Lima Barreto, a "Simão, o Caolho", de Alberto Cavalcanti.
Apesar de a sala de cinema do CCSP não lembrar em nada o antigo cine Marrocos -sede do festival de 1954 e, na época, uma das salas mais sofisticadas do país- e de uma parte dos filmes chegar em suporte digital, esta é uma oportunidade preciosa para reencontrar uma belo repertório de filmes clássicos. E, talvez, de relançar a cinefilia paulista.


FESTIVAL INTERNACIONAL DE CINEMA DE 1954. Onde: CCSP (r. Vergueiro, 1.000, Paraíso, tel. 3277-3611). Quando: de hoje a 4/7. Quanto: grátis.


Texto Anterior: Mostra inclui clássicos e único roteiro de Beckett
Próximo Texto: Bernardo Carvalho: Liturgia do medo
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.