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SÓNAR 2004
Edição brasileira acontece em setembro; para Enric Palau, criador do evento, "música não caminha sozinha"
Festival espanhol alarga fronteiras da arte digital
DIEGO ASSIS
ENVIADO ESPECIAL A BARCELONA
Áudio e vídeo, digital e analógico, real e imaginário, o 11º Festival
Sónar de Música Avançada e Arte
Multimídia de Barcelona, realizado em 17, 18 e 19 na cidade catalã,
lançou mais uma pedra contra as
fronteiras que ainda insistem em
dividir as diversas faces da arte.
Desde o seu nascimento, o festival espanhol, que terá sua primeira edição entre 9 e 12 de setembro
em São Paulo, vem batendo na tecla -hoje um pouco mais amaciada- de que música eletrônica
também é arte de vanguarda.
Nesse sentido, oferece uma série
de eventos simultâneos, como
mostras de cinema, exposições de
multimídia, além de um tratamento especial dado a VJs e designers de luz e som que tornam as
partes inseparáveis do todo nas
apresentações dos artistas.
"Penso que a música não caminha sozinha. Design gráfico, arte
digital, web design, cinema, todas
essas áreas estão ligadas a som e
tecnologia hoje. Algumas delas
usam muitas vezes a mesma ferramenta, que é o computador",
afirma Enric Palau, 39, um dos
três criadores do Sónar.
As evidências desse sincretismo
estão em toda parte. Seja com o
experiente DJ Jeff Mills, que usou
pela primeira vez um DVD player
como pick-up, interferindo sobre
som e imagem ao mesmo tempo.
Seja com o coletivo de VJs No-Domain, que resolveu abandonar
a lata de spray para "grafitar" os
sets de hip hop usando um laptop.
As sobreposições incluem ainda, entre outros tantos exemplos,
um concerto da Orquestra Sinfônica de Barcelona e Nacional de
Catalunha em que a música erudita serviu de base para as improvisações em tempo real de magos
da eletrônica como Ryuichi Sakamoto e o finlandês Pan Sonic.
Há tempos, o Sónar vem quebrando outra barreira: a do preconceito. Neste ano, deu espaço
enorme ao hip hop underground
e também ao funk carioca.
"É muito interessante a mistura
que o DJ Marlboro faz de electro
com miami bass, acrescentando
um tempero brasileiro", elogia
Palau, que além do DJ carioca, levou ainda à Espanha Instituto,
Nego Moçambique e DJ Patife.
Sociedade alternativa
Mais que o batidão carioca, uma
das maiores ousadias do Sónar
deste ano talvez tenha sido a curiosa Exposição Universal de Micronações, que reuniu em um só
lugar algumas das mais importantes manifestações recentes
desse cruzamento entre arte, tecnologia e ativismo.
Inspirada em um evento semelhante promovido na Finlândia
em agosto de 2003, a mostra selecionou cinco diferentes expoentes
desses movimentos -o coletivo
esloveno NSK, "primeira nação
global de todos os tempos"; os
provocadores austríacos do State
of Sabotage, que se ocupa em "colecionar territórios"; os virtuais
Evrugo Mental State e The Kingdoms of Eargaland & Vargaland,
que reivindica como suas "todas
as áreas de fronteiras entre todos
os países"; e finalmente o instigante Principality of Sealand, plataforma marítima inglesa ocupada em 1967 pelo autoproclamado
Príncipe Roy Bates, e que há décadas se diz um país independente,
com 27 habitantes e renda anual
per capita de US$ 22 mil.
"Foi a primeira vez que trouxemos algo mais conceitual do que
visual para uma exposição no Sónar. Há muita discussão em torno
de fronteiras e territórios no
mundo hoje. Acho interessante
ver essa questão sob o ponto de
vista de um artista que cria seu
próprio país, moeda, língua etc."
Infelizmente, pelo menos neste
ano, as micronações do Sónar não
cruzarão o Atlântico para participar do evento brasileiro -leia os
destaques ao lado. "Talvez no
próximo ano. Acha que seria interessante?", pergunta Palau.
Enquanto a resposta não vem,
uma rápida busca na internet pode ajudar quem quiser romper
mais essa fronteira.
O jornalista Diego Assis viajou ao 11º
Sónar a convite do Nokia Trends.
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