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ANÁLISE
"Alma Gêmea" propõe trama inverossímil
ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA
"Alma Gêmea ", a nova novela das 18h da Globo, é
uma superprodução, um exagero
do exagero "melô" com doses de
misticismos, regados a efeitos especiais fantásticos: da ascensão da
alma à queda do labirinto da vida
para encarnar em um inverossímil parto indígena.
A novela de Walcyr Carrasco,
dirigida por Jorge Fernando, desperdiça qualidade de produção
em uma fábula moralista.
A força inexorável do destino
define, nos acasos e acidentes da
vida, a sorte dos personagens. Rafael (Eduardo Moscovis), moço
bem comportado, faz fortuna graças ao trabalho sério na pesquisa e
cultivo de um dos símbolos máximos do amor romântico: a rosa.
Sua felicidade encantada é interrompida pela morte trágica e prematura da mulher amada, a bailarina Luna (Liliana Castro).
O sofrimento genuíno do jovem
viúvo será, no entanto, recompensado pela volta da mulher
reencarnada em uma índia (sic),
que será magicamente atraída ao
varão pela imagem onírica da rosa. As referências são literais demais. O roseiral vermelho onde o
personagem colhe todo ano um
buquê-oferenda constitui o cenário bucólico ideal para o romantismo barato da história.
Foi com a negação dessa fórmula anódina que a novela se estabeleceu nos anos 70 como um produto estratégico na televisão brasileira.
Perversamente, é com a afirmação da receita que o gênero mantém uma certa posição de destaque na grade das emissoras de TV
aberta nesse início de milênio.
Novelas como "Alma Gêmea"
ou "A Escrava Isaura", remake recente e bem-sucedido da Record
pouco exigem do público. Tampouco estimulam. Pertencem a
uma categoria de programa que
se adequa bem às definições mais
pejorativas da TV. Não fazem diferença, a não ser como reforço de
estereótipos e maniqueísmos.
Apostam na mera reprodução de
idéias, por isso podem ser logo esquecidos.
Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP
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