São Paulo, quarta-feira, 22 de junho de 2005

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ANÁLISE

"Alma Gêmea" propõe trama inverossímil

ESTHER HAMBURGER
ESPECIAL PARA A FOLHA

"Alma Gêmea ", a nova novela das 18h da Globo, é uma superprodução, um exagero do exagero "melô" com doses de misticismos, regados a efeitos especiais fantásticos: da ascensão da alma à queda do labirinto da vida para encarnar em um inverossímil parto indígena.
A novela de Walcyr Carrasco, dirigida por Jorge Fernando, desperdiça qualidade de produção em uma fábula moralista.
A força inexorável do destino define, nos acasos e acidentes da vida, a sorte dos personagens. Rafael (Eduardo Moscovis), moço bem comportado, faz fortuna graças ao trabalho sério na pesquisa e cultivo de um dos símbolos máximos do amor romântico: a rosa. Sua felicidade encantada é interrompida pela morte trágica e prematura da mulher amada, a bailarina Luna (Liliana Castro).
O sofrimento genuíno do jovem viúvo será, no entanto, recompensado pela volta da mulher reencarnada em uma índia (sic), que será magicamente atraída ao varão pela imagem onírica da rosa. As referências são literais demais. O roseiral vermelho onde o personagem colhe todo ano um buquê-oferenda constitui o cenário bucólico ideal para o romantismo barato da história.
Foi com a negação dessa fórmula anódina que a novela se estabeleceu nos anos 70 como um produto estratégico na televisão brasileira.
Perversamente, é com a afirmação da receita que o gênero mantém uma certa posição de destaque na grade das emissoras de TV aberta nesse início de milênio.
Novelas como "Alma Gêmea" ou "A Escrava Isaura", remake recente e bem-sucedido da Record pouco exigem do público. Tampouco estimulam. Pertencem a uma categoria de programa que se adequa bem às definições mais pejorativas da TV. Não fazem diferença, a não ser como reforço de estereótipos e maniqueísmos. Apostam na mera reprodução de idéias, por isso podem ser logo esquecidos.


Esther Hamburger é antropóloga e professora da ECA-USP

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