São Paulo, quinta-feira, 22 de junho de 2006

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Homenagem ao samba-canção alista Tito Madi

Craque do gênero confundido com fossa, ele lamenta só cantar três músicas em show de que participa hoje à noite

Autor de "Cansei de Ilusões" prepara CD com o pianista Gilson Peranzzetta e aguarda disco prometido há tempos por Roberto Carlos


LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Tito Madi entrará feliz no palco do Sesc Pompéia, hoje à noite. Afinal, ele só tem feito um ou dois shows por mês e agora participa de um projeto que homenageia o gênero no qual é craque: "Samba-Canção - A Grande Música Brasileira".
Mas talvez saia infeliz do mesmo palco. "Pegar um avião, ir a São Paulo e cantar só três músicas é terrível. Vou perguntar para o Pelão [o produtor JC Botezelli] se não tem pelo menos um bis", diz Madi, brincando com a cadela Amanda, em seu apartamento, em Copacabana (zona sul do Rio).
A um mês de completar 77 anos, com três pontes de safena, Chaukki Maddi -filho de libaneses nascido em Pirajuí (SP) e que mudou de nome para facilitar a carreira- não quer a aposentadoria ou apenas pequenas lembranças. Gostaria de se apresentar e gravar mais. Exigente, diz que o CD que fez ao lado do pianista Gilson Peranzzetta ainda não está pronto para ser lançado.
"Não gostei muito da mixagem e sei que posso cantar melhor", avalia, enquanto mostra uma das faixas, na qual se percebe que a voz mantém a beleza dos tempos áureos.
É um CD todo de inéditas. Afinal, segundo calcula, seu baú tem mais de 70 canções que ninguém conhece, algumas com parceiros como Paulo César Pinheiro e Sérgio Natureza.
Gravadas, são mais de 300, entre elas algumas que se tornaram clássicos da chamada "música de fossa": "Chove Lá Fora", "Cansei de Ilusões", "Não Diga Não". Milton Nascimento, Maria Bethânia e Nana Caymmi são só três dos muitos intérpretes que as gravaram.
"Eu me acostumei [com o termo "fossa']. Mas o gênero é samba-canção", ressalta ele, que cantou por sete anos na boate Fossa, no Rio, e fez, nos anos 1970, quatro discos com essa palavra como título.
Curiosamente, Madi é autor de uma das músicas mais representativas da bossa nova, que surgiu no final dos anos 1950 como um avesso da fossa. "Balanço Zona Sul" -que já recebeu mais de cem gravações e tem tocado em algumas rádios na voz de Glaucia Nasser- é da corrente suingante da bossa, exatamente a que o intérprete Madi não costuma escolher.
"Gravei muita bossa nova, mas as mais românticas, como "Minha Namorada". Na verdade, a bossa nova absorveu o samba-canção e o destruiu", afirma ele, que chegou a ser convidado a participar de reuniões na casa de Nara Leão, mas não se integrou à turma da bossa. "Eu já tinha escolhido o meu caminho", justifica.
Com João Gilberto, o maior expoente da corrente em que não entrou, ele teve uma briga célebre em 14 de janeiro de 1961. Em um camarim da TV Record, João quebrou um violão na cabeça de Madi, que levou dez pontos. Mais tarde, Madi pediu para o inquérito ser arquivado e não gosta de tocar no assunto. "Nunca mais falei com ele [João]", diz.
Com outro grande nome da música brasileira, a frustração é mais leve. Roberto Carlos sempre chamou Madi de "meu ídolo", já o homenageou em público na entrega do Prêmio Shell, em 1997, mas nunca cumpriu a promessa de gravar o disco "Roberto Carlos Interpreta Tito Madi".
"É uma incógnita. Já estou há 30 anos esperando que ele grave alguma música minha", diz.
Essas afirmações podem passar a idéia de um homem triste, como são muitas de suas composições. Mas não é o que ele transmite ao brincar com Amanda e contar que não pára de compor. Talvez Madi só precise cantar mais do que três músicas.


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