|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
Homenagem ao samba-canção alista Tito Madi
Craque do gênero confundido com fossa, ele lamenta só cantar três músicas em show de que participa hoje à noite
Autor de "Cansei de Ilusões" prepara CD com o pianista Gilson Peranzzetta e aguarda disco prometido há tempos por Roberto Carlos
LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO
Tito Madi entrará feliz no
palco do Sesc Pompéia, hoje à
noite. Afinal, ele só tem feito
um ou dois shows por mês e
agora participa de um projeto
que homenageia o gênero no
qual é craque: "Samba-Canção
- A Grande Música Brasileira".
Mas talvez saia infeliz do
mesmo palco. "Pegar um avião,
ir a São Paulo e cantar só três
músicas é terrível. Vou perguntar para o Pelão [o produtor JC
Botezelli] se não tem pelo menos um bis", diz Madi, brincando com a cadela Amanda, em
seu apartamento, em Copacabana (zona sul do Rio).
A um mês de completar 77
anos, com três pontes de safena, Chaukki Maddi -filho de libaneses nascido em Pirajuí
(SP) e que mudou de nome para
facilitar a carreira- não quer a
aposentadoria ou apenas pequenas lembranças. Gostaria
de se apresentar e gravar mais.
Exigente, diz que o CD que fez
ao lado do pianista Gilson Peranzzetta ainda não está pronto para ser lançado.
"Não gostei muito da mixagem e sei que posso cantar melhor", avalia, enquanto mostra
uma das faixas, na qual se percebe que a voz mantém a beleza
dos tempos áureos.
É um CD todo de inéditas.
Afinal, segundo calcula, seu baú
tem mais de 70 canções que
ninguém conhece, algumas
com parceiros como Paulo César Pinheiro e Sérgio Natureza.
Gravadas, são mais de 300,
entre elas algumas que se tornaram clássicos da chamada
"música de fossa": "Chove Lá
Fora", "Cansei de Ilusões",
"Não Diga Não". Milton Nascimento, Maria Bethânia e Nana
Caymmi são só três dos muitos
intérpretes que as gravaram.
"Eu me acostumei [com o
termo "fossa']. Mas o gênero é
samba-canção", ressalta ele,
que cantou por sete anos na
boate Fossa, no Rio, e fez, nos
anos 1970, quatro discos com
essa palavra como título.
Curiosamente, Madi é autor
de uma das músicas mais representativas da bossa nova,
que surgiu no final dos anos
1950 como um avesso da fossa.
"Balanço Zona Sul" -que já recebeu mais de cem gravações e
tem tocado em algumas rádios
na voz de Glaucia Nasser- é da
corrente suingante da bossa,
exatamente a que o intérprete
Madi não costuma escolher.
"Gravei muita bossa nova,
mas as mais românticas, como
"Minha Namorada". Na verdade, a bossa nova absorveu o
samba-canção e o destruiu",
afirma ele, que chegou a ser
convidado a participar de reuniões na casa de Nara Leão,
mas não se integrou à turma da
bossa. "Eu já tinha escolhido o
meu caminho", justifica.
Com João Gilberto, o maior
expoente da corrente em que
não entrou, ele teve uma briga
célebre em 14 de janeiro de
1961. Em um camarim da TV
Record, João quebrou um violão na cabeça de Madi, que levou dez pontos. Mais tarde,
Madi pediu para o inquérito ser
arquivado e não gosta de tocar
no assunto. "Nunca mais falei
com ele [João]", diz.
Com outro grande nome da
música brasileira, a frustração
é mais leve. Roberto Carlos
sempre chamou Madi de "meu
ídolo", já o homenageou em público na entrega do Prêmio
Shell, em 1997, mas nunca
cumpriu a promessa de gravar
o disco "Roberto Carlos Interpreta Tito Madi".
"É uma incógnita. Já estou há
30 anos esperando que ele grave alguma música minha", diz.
Essas afirmações podem passar a idéia de um homem triste,
como são muitas de suas composições. Mas não é o que ele
transmite ao brincar com
Amanda e contar que não pára
de compor. Talvez Madi só precise cantar mais do que três
músicas.
Texto Anterior: Crítica/disco: Dupla Goldfrapp traz lirismo dark e denso Próximo Texto: Para ouvir Índice
|