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Crítica/"O Despertar de uma Paixão"
Boas atuações fortalecem trama densa de amor
PEDRO BUTCHER
CRÍTICO DA FOLHA
Apesar do jeitão esnobe,
"O Despertar de uma
Paixão" tem lá seu encanto. As credenciais apontam
para o filão, quase sempre estéril, da superprodução de época
de estirpe nobre, legitimada pela base literária (no caso, o romance "O Véu Pintado", de W.
Somerset Maugham). Mas detalhes permitem ao resultado ir
além do filme-à-caça-de-Oscar.
Aliás, "O Despertar de uma
Paixão" foi praticamente ignorado, limitando-se a ganhar um
Globo de Ouro de trilha sonora.
O filme decepciona quem espera puro academicismo, talvez
pela estrutura um pouco truncada, pela substância densa que
permeia a relação entre os personagens e pela forma corajosa
com que os atores os defendem.
Edward Norton e Naomi
Watts apresentam trabalhos de
rara sutileza. Não fazem questão de tornar seus personagens
simpáticos à primeira vista.
Watts, sobretudo: sua Kitty é
uma garota cheia de caprichos,
que se casa por puro medo de
quebrar convenções sociais. Na
primeira parte do filme ela é
desagradável e desinteressante
-uma atuação sem concessões.
De família rica, Kitty cede à
pressão da mãe e aceita se casar
com o biólogo classe-média
Walter (Norton). Vai para a
China, onde ele trabalha, e lá
não demora a se envolver com o
vice-cônsul Charlie Towsend
(Liev Schrieber). Walter descobre e, para se vingar, aceita o
posto na direção de um hospital
numa cidade do interior assolada por uma epidemia de cólera.
A experiência será redentora.
Não só para Kitty mas também
para Walter, que assume sua
responsabilidade pelo fracasso
do casamento. O personagem
mais interessante é Waddington (Toby Jones), um típico
britânico decadente que chegou à China pelas vias do colonialismo e há anos vive ali com
uma concubina chinesa. É ele
quem conduz a melhor seqüência, uma estranha noite regada
a bebida e ópio, em que Walter
e Kitty enfim se descobrem.
É esse caminho narrativo inverso -um casamento que começa errado e se descobre possível; o amor que nasce das ruínas- um dos aspectos que fazem a diferença de "O Despertar de uma Paixão" (péssimo título genérico para uma história
substancial). O diretor John
Curran, que estreou com o pequeno "Tentação", tem dificuldade em orquestrar um filme
grandioso. Mas, sabiamente,
abre espaço para que o longa
respire pelo trabalho dos atores. Sobre um pano de fundo
exótico, entre comentários políticos sobre a colonização britânica, mantém o foco no relacionamento humano, fazendo
uma espécie de amor nos tempos do cólera mais intimista e
sem chance de saídas mágicas.
O DESPERTAR DE UMA PAIXÃO
Direção: John Curran
Produção: China/EUA, 2006
Com: Edward Norton, Naomi Watts
Quando: em cartaz nos cines Reserva
Cultural, Iguatemi Cinemark e circuito
Avaliação: bom
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