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PATROCÍNIO
Cinema foi o que mais perdeu, segundo o MinC
Investimentos do setor privado em cultura diminuem 23% em 99
LISANDRA PARAGUASSÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA
A cultura brasileira recebeu menos recursos de investimentos da
iniciativa privada no ano passado
em relação a 98. As 20 empresas
que mais investiram no setor em
98 gastaram, juntas, R$ 111,5 milhões. Em 99, foram R$ 85,5 milhões -cerca de 23% a menos.
Essa diferença deveu-se principalmente aos recuos nos investimentos de grandes empresas como a Souza Cruz -que, em 98,
investiu R$ 4,4 milhões e, em 99,
R$ 1,7 milhão, desaparecendo da
lista dos dez maiores investidores.
Outro exemplo é a Embratel.
Em 98, quando ainda era estatal, a
empresa aplicou R$ 9 milhões em
ações culturais. No ano passado,
depois de ter sido comprada pela
multinacional americana MCI,
foram apenas R$ 2,3 milhões.
A culpa pela queda nos investimentos, segundo o Ministério da
Cultura (MinC), é das turbulências econômicas do início de 99.
"Foi um momento de retração
econômica, e as empresas estavam trabalhando com perspectivas de lucros bem menores do
que no ano anterior", explica Joatan Berbel, secretário de Música e
Artes Cênicas do ministério.
A Lei Rouanet, que permite às
empresas o desconto no Imposto
de Renda dos investimentos em
cultura, prevê que esse gasto pode
ser equivalente a, no máximo, 4%
do imposto a pagar. "Menos lucro
e a perspectiva de um ano difícil
fizeram com que os empresários
evitassem investir mais do que
poderiam descontar", diz Berbel.
Os problemas econômicos são a
maior, mas não a única causa da
queda nos investimentos. Berbel
afirma que muitas empresas estão
tomando mais cuidado no patrocínio de eventos e controlam mais
seus recursos. Algumas, inclusive,
passaram a criar seus próprios
institutos para promover ações
culturais, como o banco Itaú, que
possui galerias de arte e promove
exposições e mostras de cinema.
"Muitos produtores reclamam
que estão tirando seu espaço, mas
casos como o do Itaú devem ser
elogiados, porque seus projetos
estão no espírito da lei: levar a cultura para todos", afirma Berbel.
Cinema perde recursos
A Petrobras continua sendo a
maior patrocinadora. Em 99, a
empresa e a Petrobras Distribuidora investiram R$ 18 milhões. A
segunda colocada é a Eletrobras,
com R$ 10 milhões -o mesmo
que em 98, quando a Petrobras
investiu R$ 20 milhões, e a Eletrobras, R$ 11 milhões.
As empresas privadas que aparecem no topo da lista são Volkswagen do Brasil (R$ 6,9 milhões) e
o grupo Pão de Açúcar (R$ 6,4
milhões). De acordo com o ministério, a área que perdeu mais investimentos em 99 foi a de audiovisuais, principalmente cinema.
Música e artes cênicas saíram
ganhando. A razão: os investidores descobriram que essas duas
áreas dão retorno mais imediato
do que o cinema. "Quando uma
empresa financia um filme, ainda
é só roteiro. Ainda leva algum
tempo para ficar pronto, ser veiculado, e a imagem da empresa
aparecer", diz Berbel.
Além disso, muitos filmes brasileiros ficam tão pouco tempo em
cartaz que o retorno em publicidade é insuficiente. Sem contar
aqueles mais associados a problemas do que à arte, como "Chatô",
de Guilherme Fontes, que ainda
não está pronto, ou "O Guarani",
de Norma Bengell, cuja prestação
de contas está sendo investigada.
Já os espetáculos de música e
teatro têm produção mais rápida
e garantem muita divulgação. Por
isso, diz Berbel, eventos como o
Free Jazz Festival, apesar de ligado à marca de cigarros, encontrariam um novo patrocinador, caso
a lei antitabaco -que proíbe a
propaganda de cigarros em rádio
e TV e patrocínios a eventos culturais e esportivos- seja aprovada pelo Congresso.
"Eventos de qualidade e consagrados trocam facilmente de patrocinadores." Berbel cita o grupo
de balé Corpo, que perdeu o patrocínio da Shell e ganhou o da
Petrobras Distribuidora.
O Free Jazz é o maior evento de
jazz do país e a maior ação cultural da Souza Cruz. A empresa organizava o Hollywood Rock, mas
desistiu porque o evento fazia
propaganda entre jovens. A possibilidade de deixar o patrocínio
do festival não será comentada na
Souza Cruz até a votação da lei.
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