São Paulo, sábado, 22 de julho de 2000


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PATROCÍNIO
Cinema foi o que mais perdeu, segundo o MinC
Investimentos do setor privado em cultura diminuem 23% em 99

LISANDRA PARAGUASSÚ
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A cultura brasileira recebeu menos recursos de investimentos da iniciativa privada no ano passado em relação a 98. As 20 empresas que mais investiram no setor em 98 gastaram, juntas, R$ 111,5 milhões. Em 99, foram R$ 85,5 milhões -cerca de 23% a menos.
Essa diferença deveu-se principalmente aos recuos nos investimentos de grandes empresas como a Souza Cruz -que, em 98, investiu R$ 4,4 milhões e, em 99, R$ 1,7 milhão, desaparecendo da lista dos dez maiores investidores.
Outro exemplo é a Embratel. Em 98, quando ainda era estatal, a empresa aplicou R$ 9 milhões em ações culturais. No ano passado, depois de ter sido comprada pela multinacional americana MCI, foram apenas R$ 2,3 milhões.
A culpa pela queda nos investimentos, segundo o Ministério da Cultura (MinC), é das turbulências econômicas do início de 99. "Foi um momento de retração econômica, e as empresas estavam trabalhando com perspectivas de lucros bem menores do que no ano anterior", explica Joatan Berbel, secretário de Música e Artes Cênicas do ministério.
A Lei Rouanet, que permite às empresas o desconto no Imposto de Renda dos investimentos em cultura, prevê que esse gasto pode ser equivalente a, no máximo, 4% do imposto a pagar. "Menos lucro e a perspectiva de um ano difícil fizeram com que os empresários evitassem investir mais do que poderiam descontar", diz Berbel.
Os problemas econômicos são a maior, mas não a única causa da queda nos investimentos. Berbel afirma que muitas empresas estão tomando mais cuidado no patrocínio de eventos e controlam mais seus recursos. Algumas, inclusive, passaram a criar seus próprios institutos para promover ações culturais, como o banco Itaú, que possui galerias de arte e promove exposições e mostras de cinema.
"Muitos produtores reclamam que estão tirando seu espaço, mas casos como o do Itaú devem ser elogiados, porque seus projetos estão no espírito da lei: levar a cultura para todos", afirma Berbel.

Cinema perde recursos
A Petrobras continua sendo a maior patrocinadora. Em 99, a empresa e a Petrobras Distribuidora investiram R$ 18 milhões. A segunda colocada é a Eletrobras, com R$ 10 milhões -o mesmo que em 98, quando a Petrobras investiu R$ 20 milhões, e a Eletrobras, R$ 11 milhões.
As empresas privadas que aparecem no topo da lista são Volkswagen do Brasil (R$ 6,9 milhões) e o grupo Pão de Açúcar (R$ 6,4 milhões). De acordo com o ministério, a área que perdeu mais investimentos em 99 foi a de audiovisuais, principalmente cinema.
Música e artes cênicas saíram ganhando. A razão: os investidores descobriram que essas duas áreas dão retorno mais imediato do que o cinema. "Quando uma empresa financia um filme, ainda é só roteiro. Ainda leva algum tempo para ficar pronto, ser veiculado, e a imagem da empresa aparecer", diz Berbel.
Além disso, muitos filmes brasileiros ficam tão pouco tempo em cartaz que o retorno em publicidade é insuficiente. Sem contar aqueles mais associados a problemas do que à arte, como "Chatô", de Guilherme Fontes, que ainda não está pronto, ou "O Guarani", de Norma Bengell, cuja prestação de contas está sendo investigada.
Já os espetáculos de música e teatro têm produção mais rápida e garantem muita divulgação. Por isso, diz Berbel, eventos como o Free Jazz Festival, apesar de ligado à marca de cigarros, encontrariam um novo patrocinador, caso a lei antitabaco -que proíbe a propaganda de cigarros em rádio e TV e patrocínios a eventos culturais e esportivos- seja aprovada pelo Congresso.
"Eventos de qualidade e consagrados trocam facilmente de patrocinadores." Berbel cita o grupo de balé Corpo, que perdeu o patrocínio da Shell e ganhou o da Petrobras Distribuidora.
O Free Jazz é o maior evento de jazz do país e a maior ação cultural da Souza Cruz. A empresa organizava o Hollywood Rock, mas desistiu porque o evento fazia propaganda entre jovens. A possibilidade de deixar o patrocínio do festival não será comentada na Souza Cruz até a votação da lei.


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