São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 2005

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MÚSICA ELETRÔNICA

Apreensões em festas leva prefeituras a recusar fornecimento de alvarás; donos de sítios cancelam negócios de aluguel

Repressão policial ameaça as raves em São Paulo

THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL

As raves tomaram o noticiário policial dos jornais e da televisão, e a negativa repercussão de alguns casos está levando ao cancelamento de um expressivo número dessas grandes festas ao ar livre e, há quem diga, à sua extinção.
No último dia 10, policiais do Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos) prenderam 44 pessoas numa rave em Pirapora do Bom Jesus (Grande SP) por envolvimento com drogas. O episódio foi apenas o último de uma série de apreensões e detenções que vêm ocorrendo em raves paulistas há várias semanas.
Como conseqüência, prefeituras de inúmeras cidades estão cancelando ou recusando o fornecimento de alvarás para a realização desses eventos, e núcleos de festas têm dificuldades até para convencer donos de sítios e chácaras a alugar seus espaços. Parece que ninguém quer ter o nome associado às polêmicas raves.
"A polícia não está errada, apoiamos uma maior fiscalização nas festas. Os maiores interessados em limpar a cena somos nós que vivemos dela: DJs, promotores, donos de clubes", afirma André Barcinski, da Circuito, núcleo que teve que mudar o local de sua próxima festa -aconteceria na Dieters, um espaço à beira da represa Billings, em São Bernardo do Campo. A pedido do proprietário do lugar, o evento do dia 30 deste mês foi transferido para um galpão em Santo Amaro -e não haverá mais raves nesse local.
"O que não é correto é a sociedade julgar todas as raves de forma generalizada. Parece que em todas as festas só há drogados, e não é assim. E todo tipo de evento sofre com problemas desse tipo, seja de pagode, forró ou rock."

Sem mercado
Outros núcleos paulistas de raves, como Technopride, Techcardia, Automatic e Influence desistiram de fazer suas próximas festas ao ar livre ou tiveram alvarás negados. A fazenda Arujabel, mais tradicional local de raves do Estado -e onde, em 18 de junho, dez pessoas foram presas durante uma festa-, não receberá mais autorização da Prefeitura de Arujá para realizar raves. "Eu já tive duas datas canceladas por causa dos problemas. Desse jeito, caminha-se para o fim dessas festas no Brasil", disse Camilo Rocha, conhecido DJ de São Paulo.
"Para o DJ isso é muito complicado. Existe a idéia de que as raves são freqüentadas por usuários de drogas. É aquela história: a vítima da vez é a eletrônica", diz Fernando Moreno, da Smartbiz, agência que cuida de 23 DJs. "Isso restringe o mercado. Tem muitos DJs que se apresentam apenas em raves. Esses estão em situação muito delicada."
Para Paulo Silveira, da agência Hypno -a maior da América do Sul, com mais de 60 DJs-, a culpa recai sobre os maus organizadores de raves. "A fonte desse problema vem de promotores de festas trance que realizam eventos sem o menor cuidado ou controle. Sou contra isso. A conexão entre raves e drogas é feita há anos e é errônea. Mas a partir de agora um monte de gente que não usa drogas deixará de ir a esse tipo de festa porque sabe que pode ter que passar por batidas policiais e coisas do gênero."

Mais repressão
Há o consenso entre os envolvidos na cena eletrônica de que há a necessidade de um maior controle na realização das raves. A polícia, por sua vez, promete intensificar suas estratégias. "A ação policial se tornará cada vez mais repressiva. Espero que não precisemos chegar a novos estágios", afirma o delegado Ivaney Cayres de Souza, diretor do Denarc.
"Trata-se de eventos privados, cujos organizadores são responsáveis civil e criminalmente por tudo o que acontecer durante o evento. Se há 10 mil pessoas numa festa, deve-se tentar criar um formato em que o consumo de drogas não seja permitido. Os promotores têm que encontrar uma forma de acabar com isso. Se esses empresários adotarem procedimentos de responsabilidade, serei o primeiro a cumprimentá-los."
Há três anos o Denarc realiza em clubes e festas do Estado a chamada Operação Dancing, em que policiais disfarçados se infiltram nesses locais para pegar usuários e traficantes.
"Não é a polícia a responsável por esse estigma que está se criando em torno das raves. O que está acontecendo é culpa dos próprios organizadores", afirma Cayres de Souza. "No início, eles podem até ter prejuízo [com a diminuição do número de eventos], mas depois, quando essas atividades estiverem mais qualificadas, o resultado será positivo."


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