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MÚSICA ELETRÔNICA
Apreensões em festas leva prefeituras a recusar fornecimento de alvarás; donos de sítios cancelam negócios de aluguel
Repressão policial ameaça as raves em São Paulo
THIAGO NEY
DA REPORTAGEM LOCAL
As raves tomaram o noticiário
policial dos jornais e da televisão,
e a negativa repercussão de alguns
casos está levando ao cancelamento de um expressivo número
dessas grandes festas ao ar livre e,
há quem diga, à sua extinção.
No último dia 10, policiais do
Denarc (Departamento de Investigações sobre Narcóticos) prenderam 44 pessoas numa rave em
Pirapora do Bom Jesus (Grande
SP) por envolvimento com drogas. O episódio foi apenas o último de uma série de apreensões e
detenções que vêm ocorrendo em
raves paulistas há várias semanas.
Como conseqüência, prefeituras de inúmeras cidades estão
cancelando ou recusando o fornecimento de alvarás para a realização desses eventos, e núcleos de
festas têm dificuldades até para
convencer donos de sítios e chácaras a alugar seus espaços. Parece que ninguém quer ter o nome
associado às polêmicas raves.
"A polícia não está errada,
apoiamos uma maior fiscalização
nas festas. Os maiores interessados em limpar a cena somos nós
que vivemos dela: DJs, promotores, donos de clubes", afirma André Barcinski, da Circuito, núcleo
que teve que mudar o local de sua
próxima festa -aconteceria na
Dieters, um espaço à beira da represa Billings, em São Bernardo
do Campo. A pedido do proprietário do lugar, o evento do dia 30
deste mês foi transferido para um
galpão em Santo Amaro -e não
haverá mais raves nesse local.
"O que não é correto é a sociedade julgar todas as raves de forma generalizada. Parece que em
todas as festas só há drogados, e
não é assim. E todo tipo de evento
sofre com problemas desse tipo,
seja de pagode, forró ou rock."
Sem mercado
Outros núcleos paulistas de raves, como Technopride, Techcardia, Automatic e Influence desistiram de fazer suas próximas festas ao ar livre ou tiveram alvarás
negados. A fazenda Arujabel,
mais tradicional local de raves do
Estado -e onde, em 18 de junho,
dez pessoas foram presas durante
uma festa-, não receberá mais
autorização da Prefeitura de Arujá para realizar raves. "Eu já tive
duas datas canceladas por causa
dos problemas. Desse jeito, caminha-se para o fim dessas festas no
Brasil", disse Camilo Rocha, conhecido DJ de São Paulo.
"Para o DJ isso é muito complicado. Existe a idéia de que as raves
são freqüentadas por usuários de
drogas. É aquela história: a vítima
da vez é a eletrônica", diz Fernando Moreno, da Smartbiz, agência
que cuida de 23 DJs. "Isso restringe o mercado. Tem muitos DJs
que se apresentam apenas em raves. Esses estão em situação muito delicada."
Para Paulo Silveira, da agência
Hypno -a maior da América do
Sul, com mais de 60 DJs-, a culpa recai sobre os maus organizadores de raves. "A fonte desse
problema vem de promotores de
festas trance que realizam eventos
sem o menor cuidado ou controle. Sou contra isso. A conexão entre raves e drogas é feita há anos e
é errônea. Mas a partir de agora
um monte de gente que não usa
drogas deixará de ir a esse tipo de
festa porque sabe que pode ter
que passar por batidas policiais e
coisas do gênero."
Mais repressão
Há o consenso entre os envolvidos na cena eletrônica de que há a
necessidade de um maior controle na realização das raves. A polícia, por sua vez, promete intensificar suas estratégias. "A ação policial se tornará cada vez mais repressiva. Espero que não precisemos chegar a novos estágios",
afirma o delegado Ivaney Cayres
de Souza, diretor do Denarc.
"Trata-se de eventos privados,
cujos organizadores são responsáveis civil e criminalmente por
tudo o que acontecer durante o
evento. Se há 10 mil pessoas numa
festa, deve-se tentar criar um formato em que o consumo de drogas não seja permitido. Os promotores têm que encontrar uma
forma de acabar com isso. Se esses
empresários adotarem procedimentos de responsabilidade, serei
o primeiro a cumprimentá-los."
Há três anos o Denarc realiza
em clubes e festas do Estado a
chamada Operação Dancing, em
que policiais disfarçados se infiltram nesses locais para pegar
usuários e traficantes.
"Não é a polícia a responsável
por esse estigma que está se criando em torno das raves. O que está
acontecendo é culpa dos próprios
organizadores", afirma Cayres de
Souza. "No início, eles podem até
ter prejuízo [com a diminuição do
número de eventos], mas depois,
quando essas atividades estiverem mais qualificadas, o resultado será positivo."
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