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Ópera perpetua uma injustiça histórica
"Mozart e Salieri" tem como tema o falso envenenamento do compositor austríaco pelo rival italiano
JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL
Não é verdade que Wolfgang
Amadeus Mozart (1756-1791)
tenha sido envenenado por Antonio Salieri (1750-1825).
Mas é justamente em torno
do suposto envenenamento
que o aristocrata e compositor
russo Nikolai Rimsky-Korsakov (1844-1908) escreveu a linda ópera em um ato "Mozart e
Salieri", estreada em Moscou
em 1898 e que será interpreta
hoje pela segunda vez -ontem
foi a primeira apresentação-
no 37º Festival de Inverno de
Campos do Jordão.
O espetáculo traz a orquestra
dos bolsistas do festival, regida
por Roberto Minczuk, tem a direção cênica de André Heller-Lopes (que fez este ano um inspirado "Andréa Chénier", no
Municipal de São Paulo) e ainda a soprano canadense Erin
Wall, a meio-soprano Regina
Elena Mesquita, o tenor Fernando Portari e o baixo-barítono Stephen Bronk.
Salieri tem sido vítima de
uma calúnia sistemática que
proliferou durante o romantismo. Não, ele não foi um compositor medíocre, tanto que lecionou para Beethoven (escrita
vocal), Liszt e Schubert.
A versão de que ele envenenara seu maior rival vienense
surgiu pela primeira vez com
uma espécie de licença poética
de Aleksander Pushkin (1799-1837) com uma peça -também
chamada "Mozart e Salieri"-
escrita em 1826.
Foi nela que o dramaturgo
britânico Peter Schaffer se inspirou para o seu "Amadeus"
(1979), a partir do qual o cineasta tcheco Milos Forman
fez o filme (1984) homônimo.
Humanização
O Salieri deles é movido pela
inveja e pela maldade, num
enredo em que a vítima, Mozart, é de uma histrionice irritante. Já Rimsky-Korsakov,
embora com o jogo da dualidade entre os dois personagens,
traz um Salieri humanizado.
Muitos defenderam a tese de
homicídio até 1964, quando se
descobriu o diário de um próximo do conde Franz von Walsegg-Stuppach, autor da encomenda. O emissário era Franz
Leitgeb, mordomo do nobre.
MOZART E SALIERI
Quando: hoje, às 21h
Onde: auditório Cláudio Santoro
(av. Arrobas Martins, 1.800, Campos, tel. 0/xx/12/ 3662-2334)
Quanto: R$ 60
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