São Paulo, sábado, 22 de julho de 2006

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Ópera perpetua uma injustiça histórica

"Mozart e Salieri" tem como tema o falso envenenamento do compositor austríaco pelo rival italiano

JOÃO BATISTA NATALI
DA REPORTAGEM LOCAL

Não é verdade que Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791) tenha sido envenenado por Antonio Salieri (1750-1825). Mas é justamente em torno do suposto envenenamento que o aristocrata e compositor russo Nikolai Rimsky-Korsakov (1844-1908) escreveu a linda ópera em um ato "Mozart e Salieri", estreada em Moscou em 1898 e que será interpreta hoje pela segunda vez -ontem foi a primeira apresentação- no 37º Festival de Inverno de Campos do Jordão.
O espetáculo traz a orquestra dos bolsistas do festival, regida por Roberto Minczuk, tem a direção cênica de André Heller-Lopes (que fez este ano um inspirado "Andréa Chénier", no Municipal de São Paulo) e ainda a soprano canadense Erin Wall, a meio-soprano Regina Elena Mesquita, o tenor Fernando Portari e o baixo-barítono Stephen Bronk. Salieri tem sido vítima de uma calúnia sistemática que proliferou durante o romantismo. Não, ele não foi um compositor medíocre, tanto que lecionou para Beethoven (escrita vocal), Liszt e Schubert.
A versão de que ele envenenara seu maior rival vienense surgiu pela primeira vez com uma espécie de licença poética de Aleksander Pushkin (1799-1837) com uma peça -também chamada "Mozart e Salieri"- escrita em 1826.
Foi nela que o dramaturgo britânico Peter Schaffer se inspirou para o seu "Amadeus" (1979), a partir do qual o cineasta tcheco Milos Forman fez o filme (1984) homônimo.

Humanização
O Salieri deles é movido pela inveja e pela maldade, num enredo em que a vítima, Mozart, é de uma histrionice irritante. Já Rimsky-Korsakov, embora com o jogo da dualidade entre os dois personagens, traz um Salieri humanizado.
Muitos defenderam a tese de homicídio até 1964, quando se descobriu o diário de um próximo do conde Franz von Walsegg-Stuppach, autor da encomenda. O emissário era Franz Leitgeb, mordomo do nobre.


MOZART E SALIERI
Quando: hoje, às 21h
Onde: auditório Cláudio Santoro
(av. Arrobas Martins, 1.800, Campos, tel. 0/xx/12/ 3662-2334)
Quanto: R$ 60


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