São Paulo, domingo, 22 de julho de 2007

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Excesso de anúncios irrita público

Na sala mais cara de SP, por exemplo, consumidor paga R$ 21 e enfrenta até 21 minutos de propaganda e trailer antes do filme

Segundo acordo entre os exibidores, a publicidade nos cinemas deveria ser limitada a 5 minutos, o que nem sempre é respeitado

CRISTINA FIBE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Na sala de cinema, sem controle remoto, o espectador não tem escapatória quando aparecem na tela outras imagens que não as do filme esperado -só a porta de saída. Depois de pagar até R$ 21 pelo ingresso, o público pontual é obrigado a assistir a até 21 minutos de propagandas, informativos e trailers.
É o caso do cinema mais caro de São Paulo, no shopping Iguatemi, onde a entrada de R$ 21 é o passe para mais de 20 minutos de espera, conforme cronometragem feita pela Folha em sessão do filme "Harry Potter e a Ordem da Fênix".
Segundo a atendente da rede Cinemark no shopping, o tempo de propagandas e trailers seria de "dez a 15 minutos". Com três minutos de atraso, às 18h03, começa o institucional da Cinemark. Um alerta contra a pirataria e um selo da agência que cuida da venda de anúncios depois, começa a "sessão propaganda": Land Rover, Unilever, TIM, Vick, Ford e por aí vai. No total, foram 6 minutos e 33 segundos de publicidade. Vinte e um minutos depois da hora marcada, começa o filme.
Não há lei que limite o tempo de anúncios e trailers nos cinemas. Um acordo entre os exibidores do país e o Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária) restringe as propagandas a no máximo cinco minutos -mais de duas vezes um intervalo do Jornal Nacional. Esse tempo, porém, foi ultrapassado no Iguatemi e em outra sessão de "Harry Potter" visitada pela Folha, no Kinoplex Itaim.
O presidente da rede Cinemark, Marcelo Bertini, disse que "Harry Potter" é uma exceção, porque a estréia aconteceu numa quarta-feira. Normalmente, os filmes estréiam na sexta, dia que dá início às "cinesemanas" -os anúncios são vendidos até a quinta-feira posterior. No caso de blockbusters, o espaço muitas vezes é vendido antecipadamente, atrelado ao filme, e as propagandas se sobrepõem. O ocorrido deve se repetir, afirma, com o filme "Transformers".
A mesma explicação foi dada sobre o excesso no Kinoplex (veja texto ao lado).
A Folha visitou nove das principais salas de cinema de São Paulo: além das citadas acima, Bristol, Cinesesc, Espaço Unibanco, Frei Caneca Unibanco Arteplex, HSBC Belas Artes, Reserva Cultural e UCI Jardim Sul, entre os dias 13 e 17 deste mês.
A única que não exibiu publicidade, apenas institucionais, foi o Cinesesc, cujo ingresso é o mais barato da cidade (R$ 6 a R$ 10). Nas sete salas que respeitaram o limite, somando-se institucionais, trailers e eventuais atrasos, a espera ficou entre três (no HSBC Belas Artes, que exibiu os anúncios antes da hora marcada) e 15 minutos (no UCI Jardim Sul).
A publicidade é o maior motivo de incômodo para os espectadores. Frederico Teixeira Steca, 30, que se diz "cinéfilo assíduo", reclama de pagar para ver propaganda. "Se posso escolher trocar de canal no momento dos anúncios quando assisto à TV -gratuitamente- em minha casa, não me sinto na obrigação de assistir aos mesmos anúncios -obrigatoriamente- no cinema."

"Troca injusta"
O espectador Juliano Rodrigues Manrique, 30, concorda. "Acredito que não se trata de uma troca justa entre o estabelecimento e o cliente, já que pago por esse período de lazer, mas parte dele é tomado por anúncios comerciais pelos quais não tenho interesse."
Mas, além de não haver legislação a respeito, o Conar também não pode agir em caso de excesso, já que "se ocupa exclusivamente do conteúdo da mensagem publicitária". O presidente da Feneec (Federação Nacional de Empresas Exibidoras Cinematográficas), Ricardo Difini, diz que, caso saiba de algum excesso, solicita ao cinema que respeite o limite.
Um artifício para vender minutos a mais sem descumprir o acordo é iniciar a seqüência publicitária antes da hora marcada, como fez o Frei Caneca Unibanco Arteplex (veja quadro nesta página) em sessão presenciada pela reportagem.


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