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Excesso de anúncios irrita público
Na sala mais cara de SP, por exemplo, consumidor paga R$ 21 e enfrenta até 21 minutos de propaganda e trailer antes do filme
Segundo acordo entre os exibidores, a publicidade nos cinemas deveria ser limitada a 5 minutos, o que nem sempre é respeitado
CRISTINA FIBE
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Na sala de cinema, sem controle remoto, o espectador não
tem escapatória quando aparecem na tela outras imagens que
não as do filme esperado -só a
porta de saída. Depois de pagar
até R$ 21 pelo ingresso, o público pontual é obrigado a assistir
a até 21 minutos de propagandas, informativos e trailers.
É o caso do cinema mais caro
de São Paulo, no shopping
Iguatemi, onde a entrada de
R$ 21 é o passe para mais de 20
minutos de espera, conforme
cronometragem feita pela Folha em sessão do filme "Harry
Potter e a Ordem da Fênix".
Segundo a atendente da rede
Cinemark no shopping, o tempo de propagandas e trailers seria de "dez a 15 minutos". Com
três minutos de atraso, às
18h03, começa o institucional
da Cinemark. Um alerta contra
a pirataria e um selo da agência
que cuida da venda de anúncios
depois, começa a "sessão propaganda": Land Rover, Unilever, TIM, Vick, Ford e por aí vai.
No total, foram 6 minutos e 33
segundos de publicidade. Vinte
e um minutos depois da hora
marcada, começa o filme.
Não há lei que limite o tempo
de anúncios e trailers nos cinemas. Um acordo entre os exibidores do país e o Conar (Conselho Nacional de Auto-Regulamentação Publicitária) restringe as propagandas a no máximo
cinco minutos -mais de duas
vezes um intervalo do Jornal
Nacional. Esse tempo, porém,
foi ultrapassado no Iguatemi e
em outra sessão de "Harry Potter" visitada pela Folha, no Kinoplex Itaim.
O presidente da rede Cinemark, Marcelo Bertini, disse
que "Harry Potter" é uma exceção, porque a estréia aconteceu
numa quarta-feira. Normalmente, os filmes estréiam na
sexta, dia que dá início às "cinesemanas" -os anúncios são
vendidos até a quinta-feira
posterior. No caso de blockbusters, o espaço muitas vezes é
vendido antecipadamente,
atrelado ao filme, e as propagandas se sobrepõem. O ocorrido deve se repetir, afirma, com
o filme "Transformers".
A mesma explicação foi dada
sobre o excesso no Kinoplex
(veja texto ao lado).
A Folha visitou nove das
principais salas de cinema de
São Paulo: além das citadas acima, Bristol, Cinesesc, Espaço
Unibanco, Frei Caneca Unibanco Arteplex, HSBC Belas
Artes, Reserva Cultural e UCI
Jardim Sul, entre os dias 13 e 17
deste mês.
A única que não exibiu publicidade, apenas institucionais,
foi o Cinesesc, cujo ingresso é o
mais barato da cidade (R$ 6 a
R$ 10). Nas sete salas que respeitaram o limite, somando-se
institucionais, trailers e eventuais atrasos, a espera ficou entre três (no HSBC Belas Artes,
que exibiu os anúncios antes da
hora marcada) e 15 minutos
(no UCI Jardim Sul).
A publicidade é o maior motivo de incômodo para os espectadores. Frederico Teixeira
Steca, 30, que se diz "cinéfilo
assíduo", reclama de pagar para ver propaganda. "Se posso
escolher trocar de canal no momento dos anúncios quando
assisto à TV -gratuitamente-
em minha casa, não me sinto
na obrigação de assistir aos
mesmos anúncios -obrigatoriamente- no cinema."
"Troca injusta"
O espectador Juliano Rodrigues Manrique, 30, concorda.
"Acredito que não se trata de
uma troca justa entre o estabelecimento e o cliente, já que pago por esse período de lazer,
mas parte dele é tomado por
anúncios comerciais pelos
quais não tenho interesse."
Mas, além de não haver legislação a respeito, o Conar também não pode agir em caso de
excesso, já que "se ocupa exclusivamente do conteúdo da
mensagem publicitária". O presidente da Feneec (Federação
Nacional de Empresas Exibidoras Cinematográficas), Ricardo Difini, diz que, caso saiba
de algum excesso, solicita ao cinema que respeite o limite.
Um artifício para vender
minutos a mais sem descumprir o acordo é iniciar a seqüência publicitária antes da hora
marcada, como fez o Frei Caneca Unibanco Arteplex (veja
quadro nesta página) em sessão
presenciada pela reportagem.
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