São Paulo, terça-feira, 22 de julho de 2008

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NA REDE

Conspiração

Versões extra-oficiais ou pura piração, teorias conspiratória s que se propagam pela internet ganham guia de sites, lançado nos EUA

RAQUEL COZER
DA REPORTAGEM LOCAL

Jim Morrison não morreu, Marilyn Monroe foi vítima de queima de arquivo, e Shakespeare mal sabia escrever. As fontes oficiais negaram espaço à propagação de versões como essas, mas elas acabaram encontrando lugar, décadas ou mesmo séculos depois, na web.
A rede mundial virou um ambiente tão propício às teorias da conspiração que, recentemente, dois jornalistas americanos resolveram lançar nos EUA um guia de sites com essas "verdades alternativas".
"Web of Conspiracy" (rede de conspiração) faz uma seleção das melhores páginas para entender 21 teorias, das mais disseminadas, como as que vêem no 11 de Setembro uma armação do governo Bush, a outras que vão fundo no nonsense -caso do chamado Experimento Filadélfia, segundo o qual a marinha dos EUA teve êxito, durante a Segunda Guerra, em teletransportar um navio no tempo e no espaço.
O dado curioso é que James F. Broderick e Darren W. Miller, os autores, resolveram se aventurar pelo duvidoso mundo da conspiração on-line justamente após concluírem, em 2007, um guia crítico de cem sites relevantes de notícias, "Consider the Source" (leve a fonte em consideração).
"Pesquisando para o outro livro, nós nos deparamos com sites realmente interessantes de teorias conspiratórias. Percebemos que muitas pessoas que têm credibilidade, como historiadores, cientistas e ex-militares, revelaram evidências sobre certos casos que fazem pensar nos detalhes que as histórias oficiais não explicam", afirma Miller, à Folha, por telefone, de Georgia, nos EUA.
Deixadas de lado "páginas criadas desordenadamente por garotos de 13 anos", os autores centraram esforços em teses defendidas por gente como Brenda James, co-autora de "The Truth Will Out: Unmasking the Real Shakespeare" (a verdade vem à tona: desmarcarando o verdadeiro Shakespeare, 2005), que criou um site para sustentar a idéia de que saíram da pena do escritor Henry Neville (1564-1615) todas as peças e os sonetos assinados pelo bardo inglês (1564-1616).
O livro lista dez endereços com outras opções de "verdadeiros autores" de obras como "Hamlet" e "Rei Lear". A teoria é uma das mais antigas cobertas no livro -os primeiros questionamentos em relação à autoria das obras de Shakespeare datam do século 18.
"Muitas evidências sugerem que ele não teria a habilidade, ou a educação, ou a familiaridade com o inglês aristocrático para escrever o que escreveu", diz Miller, admitindo ser esta uma das teses que o fizeram "repensar a versão oficial".
"Mas nossas conclusões não entram no livro", esclarece -embora, vez por outra, o guia deixe escapar crenças pós-mergulhos conspiratórios.

11/9 como marco
A internet ajudou a propagar idéias surgidas em décadas passadas, como a de que o suicídio de Marilyn Monroe (1926-62) foi forjado para que seu relacionamento com os irmãos John e Bob Kennedy não os prejudicasse politicamente, e a de que Jim Morrison (1943-71), vocalista do The Doors, foi assassinado ou que ainda esteja vivo -qualquer hipótese mais emocionante que um ataque cardíaco na banheira aos 27 anos.
Mas, para Miller, as "primeiras teorias da conspiração moderna" são as que envolvem o 11 de Setembro, justamente por terem sido as primeiras a tirar "vantagem imediata" da rede.
"No assassinato de JFK, por exemplo, ninguém teve a possibilidade de ir para casa depois do que aconteceu e começar a postar o que viu. No 11 de Setembro, as teorias e os vídeos se espalharam como fogo violento. Tudo foi imediato, e havia todo tipo de informação na internet, tanto acurada quanto especulações insanas."
As insanidades fazem Miller destacar o perigo da net como terreno pródigo em versões extra-oficiais. "Mas, por outro lado, quanto mais informada, mais uma pessoa pode diferenciar o certo do errado", avalia.

WEB OF CONSPIRACY: A GUIDE TO CONSPIRACY THEORY SITES ON THE INTERNET
Autores: James F. Broderick e Darren W. Miller
Editora: CyberAge Books
Quanto: US$ 13,60 (cerca de R$ 22, mais taxas, em www.amazon.com)



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