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Amazon faz papel de Grande Irmão
Empresa apaga arquivos de livros de George Orwell do Kindle sem questionar usuários; medida cria polêmica na internet
Direitos das versões digitais de "1984" e de "A Revolução dos Bichos" não foram comprados; clientes tiveram ressarcimento imediato
JANAINA LAGE
DE NOVA YORK
"O Grande Irmão está observando você". A frase do clássico
"1984", de George Orwell, deixou de ser apenas citação literária para centenas de proprietários do Kindle, o dispositivo
de leitura que permite o download de livros pela Amazon.
Sem autorização dos usuários e nem aviso prévio, na última sexta-feira, a Amazon apagou as edições digitais dos livros "1984" e "A Revolução dos
Bichos" dos aparelhos de quem
os havia comprado. A empresa
ressarciu os usuários, mas a
medida provocou uma onda de
queixas em fóruns de discussão
na internet e levantou a polêmica sobre a diferença entre a
compra de livros e o download
de seus arquivos.
Procurada pela reportagem,
a Amazon não informou quantos usuários foram afetados pela medida, mas somente no
quadro de discussão da empresa existiam mais de 200 mensagens sobre o assunto. A empresa se limitou a divulgar comunicado no qual afirma que os livros foram adicionados ao catálogo por meio de uma empresa
que não tinha os direitos sobre
as obras.
"Quando fomos notificados
pelos donos dos direitos, nós
removemos as cópias ilegais do
nosso sistema e dos dispositivos dos clientes e os ressarcimos. Nós estamos mudando
nossos sistemas de modo que,
no futuro, não vamos mais remover livros dos dispositivos
de clientes em circunstâncias
como estas".
Usuários do Kindle citam a
Mobile Reference como a empresa que repassou os direitos
para a Amazon. Os livros digitais comprados para o Kindle
são enviados por meio de uma
rede sem fio. A Amazon também pode usar essa rede para
sincronizar livros eletrônicos
nos aparelhos.
No site da Amazon, uma internauta identificada como
Sunny Lady reclamava da falta
de informações. "Sinto muito,
quando você deleta minha propriedade privada -com ressarcimento ou não- sem minha
permissão, eu espero uma explicação melhor. Livros piratas
à venda na Amazon -isso não é
problema meu-, contratem
mais gente para checar antes
que eles sejam vendidos."
O colunista do New York Times, David Pogue, compara a
situação com a entrada furtiva
de um vendedor em casa que
pega de volta os livros vendidos
e deixa um cheque sobre a mesa
de cabeceira.
Mas, para Craig Delsack, advogado especializado em propriedade intelectual e tecnologia, tudo depende dos termos
de venda. "Funciona como
qualquer download. É o mesmo
que a Apple apagar uma música
que você comprou no iTunes.
Não necessariamente eles têm
esse direito, tudo depende do
contrato".
O especialista destaca que o
episódio pode afetar a percepção dos consumidores em relação ao preço pago para baixar
os livros. "Você não compra o
livro, obtém uma licença protegida e isso afeta o valor de venda. Se sei que o livro pode ser
apagado, isso afeta o quanto
aceito pagar por ele", disse.
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