São Paulo, quinta-feira, 22 de julho de 2010

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Vergonha alheia

Decepção com filmes brasileiros no festival de Paulínia deixa evidente o mau momento da produção nacional

Divulgação
O ator Paulo Betti interpreta o personagem Destino em "Doze Estrelas', longa de Luiz Alberto Pereira que recebeu críticas arrasadoras em Paulínia

ANA PAULA SOUSA
ENVIADA ESPECIAL A PAULÍNIA

No último final de semana, não se falava em outra coisa no Festival de Paulínia. Fosse no café, fosse no cinema, sempre havia alguém a citar "Doze Estrelas".
E como o que se falava não era bom, Luiz Alberto Pereira, o diretor, andava até meio cabisbaixo. Mas eis que, na segunda, ele se viu livre do posto de "assunto principal".
Após a exibição de "Dores & Amores", jornalistas e representantes do mercado cinematográfico se entreolhavam espantados.
A suposta comédia de Ricardo Pinto e Silva, recordista em número de espectadores que abandonaram a projeção no meio, tornou recorrentes duas perguntas. Como esse roteiro conseguiu verba pública? Por que foi selecionado para o festival?
A má recepção reverberou no debate, na manhã seguinte. Irritado, o cineasta disse que se sentia num tribunal.
Ao ouvir alguém dizer que não havia quem tivesse gostado do filme, fez um desafio.
Pediu que levantassem a mão os que gostaram. Entre cerca de 50 pessoas, apenas um casal e um menino ergueram o braço. O menino era seu filho.
"Me senti hostilizado", disse Silva, depois do confronto. "Essa má recepção é de quem? De gente que lota duas vans do festival?" Provavelmente, não só.
Seus filmes anteriores, "Sua Excelência, o Candidato" e "Querido Estranho", apoiado pela GloboFilmes, foram fracassos.

PRESSÃO POR BILHETERIA
A unir Silva e Pereira há, além da recepção que entrará para o folclore, uma proposta comum: fazer filmes populares.
"Doze Estrelas", que tem 12 protagonistas, cada uma representando um signo, fala de astrologia. "Dores & Amores", de sexo.
"Como passou a haver uma pressão por bilheteria, alguns diretores têm tentado fazer filmes de público", diz Ivan Melo, diretor do festival, referindo-se a uma terceira via entre o cinema autoral e os sucessos de Daniel Filho.
"Mas a gente tem visto que, mesmo que a ideia pareça razoável no roteiro, o resultado é pouco profissional", diz. Alguns desses filmes, que têm nos festivais sua vitrine, sequer chegam às salas depois.


A jornalista ANA PAULA SOUSA viajou a convite do festival


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