São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 2011

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Itaú Cultural quer "repatriar" acervo de Augusto Boal

Textos inéditos, fotos e filmagens do criador do Teatro do Oprimido devem ser digitalizados pelo instituto

No material deixado pelo dramaturgo, estão duas peças inéditas e mais de 300 horas de vídeo de suas produções

GABRIELA MELLÃO
DE SÃO PAULO

O acervo de Augusto Boal parecia ter como destino a New York University.
O centro de estudos norte-americano era o o único órgão disposto a recuperar, catalogar e digitalizar a memória do fundador do Teatro do Oprimido -a empreitada foi orçada em US$ 500 mil (cerca de R$ 779 mil).
Na última terça, entretanto, a viúva do artista, Cecília Boal, recebeu um telefonema do Itaú Cultural que pode fazer com que os 20 mil textos (entre eles duas peças inéditas), as 2.000 fotografias e as 300 horas de vídeo de produções teatrais, entre outros documentos do autor e diretor, permaneçam no Brasil.
Eduardo Saron, diretor do Itaú Cultural, confirma o interesse: "Nossa perspectiva é construir um relacionamento que caminhe para a disponibilização do acervo digitalizado na internet e para chegar a um entendimento sobre qual poderia ser a instituição brasileira a guardar o espaço físico do acervo".
A psicanalista Cecília Boal acredita que o desejo dele seria que seus documentos permanecessem no país.
"Ele chegou a entregar todos os papéis para Unirio (Universidade Federal do Estado do Rio de Janeiro) em vida", justifica ela, que acabou recuperando o material posteriormente por achar que o acervo estava em um local inapropriado.

PATRIOTISMO
Augusto Boal (1931-2009) uniu teatro e política na construção de uma arte que buscava engajar o espectador e pensava a sociedade dividida entre dois mundos, o do oprimido e o do opressor.
Ele viveu anos fora do país em consequência do exílio e construiu sólida reputação internacional, sobretudo por seu pensamento teórico.
Apesar disso, era extremamente patriota, segundo conta Cecília. "Tanto é que, quando teve possibilidade de tirar nacionalidade francesa, se recusou, com medo de perder a brasileira", justifica ela.
Cecília sonha com a criação de um centro vivo de memórias que também abrigue cursos e exposições. "Augusto era uma pessoa dinâmica. Não consigo vê-lo em um museu", afirma.
Segundo ela, o espaço poderia reunir acervos de diversos artistas brasileiros, sobretudo aqueles cujas famílias passam pela mesma dificuldade de armazenar e manter as obras herdadas em boas condições. Cita como exemplo Hélio Oiticica, Glauber Rocha e Cândido Portinari.
A psicanalista diz que, para o Brasil manter sua autoestima, sua memória tem de ser preservada. "Pessoas como Boal fazem parte do acervo de um país."


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