São Paulo, sexta-feira, 22 de julho de 2011

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Última Moda

VIVIAN WHITEMAN - ultima.moda@grupofolha.com.br

Quarentão paz & amor

ALEXANDRE HERCHCOVITCH COMPLETA QUATRO DÉCADAS DE VIDA E DIZ QUE TROCOU AS INTRIGAS FASHION E AS NEUROSES DE WORKAHOLIC POR UMA ROTINA TRANQUILA E FAMILIAR

Considerado o maior estilista do Brasil, Alexandre Herchcovitch comemorou ontem seu aniversário de 40 anos, mais da metade deles dedicada à sua carreira na moda.
Trabalhando para sua grife própria e para a Rosa Chá, Herchcovitch é um dos reis da São Paulo Fashion Week, desfila sua linha jeans no Fashion Rio, participa da Semana de Moda de Nova York e coleciona parcerias e licenciamentos. Sua próxima empreitada será o papel de mentor de jovens designers no reality show "Projeto Fashion" (versão nacional do "Project Runway"), da Band, com estreia prevista para este ano.
Apesar da agenda cheia, Herchcovitch disse à Folha que vive uma fase tranquila, apaixonado pelo marido, o empresário Fabio Souza, 33, e mais dedicado aos pais e aos irmãos. Só uma coisa é capaz de perturbar a nova vibe zen do estilista: as cenas de violência contra gays e os entraves religiosos no caminho das leis que protegem os homossexuais. "Pela primeira vez, comecei a pensar em viver em outro país."

 


Folha - Tomou alguma decisão especial pelo fato de ter completado 40 anos?
Alexandre Herchcovitch -
Olha, eu pensei assim: vou fazer desses 40 anos um marco. Aí fui a vários médicos e fiz todos os exames que pude, tudo o que eu acabava deixando de lado. Também tirei RG e cartão de CPF novos, foi uma espécie de limpeza geral.

Tem medo de envelhecer?
Nenhum. O que mudou é que antes meu objetivo era ficar magro para poder usar qualquer roupa que quisesse, mas hoje penso na saúde. Estou mais calmo também.

Em que sentido?
Como sou muito regrado e objetivo, percebi que posso cumprir meus compromissos e ainda tirar um tempo para mim. Antes, se eu acordasse um minuto depois da 7h30, ficava neurótico, achava que estava perdendo oportunidades. Atualmente, me proibi de usar despertador.

E a sua fama de pessoa polêmica, vai ficar para trás?
Ainda tenho essa fama?

É, ainda tem... Suas declarações no Twitter, por exemplo, foram muito comentadas nos últimos tempos, não?
Há mais ou menos um ano, as coisas ficaram sérias no Twitter durante a São Paulo Fashion Week. Estilistas, jornalistas e amigos entraram numa batalha de críticas que saiu do controle. Entrei na onda e enlouqueci, confesso que fiquei doente. Aí decidi parar. Não sou eu quem decide quem é bom ou ruim, percebi que era muita prepotência. Parei de fazer picuinhas.

Você é considerado o maior estilista do país. Como se coloca entre a pressão do título e a inveja que ele causa?
Não me acho o número um, o melhor. Sei das minhas qualidades e defeitos como estilista e, por outro lado, conto com o feedback do Fabio, dos clientes, da minha mãe e dos críticos. E às vezes fico inseguro porque acho que certas pessoas falam bem de mim mais por medo ou conveniência do que por convicção. Mas que todos saibam que não vou me suicidar se não estiver no ranking dos melhores da temporada.

O que falta na sua carreira?
Não sou de fazer planos, mas tenho vontade de, por exemplo, desenhar para uma grife estrangeira.

Quem admira na moda hoje?
Não sou de elogios, mas, como estou de coração aberto, vou falar do [estilista] Reinaldo Lourenço. Fico feliz em perceber que ele se libertou das referências externas que tinha no início da carreira e que encontrou seu caminho. O desfile dele é um dos poucos que fico ansioso para ver na São Paulo Fashion Week.

A noite clubber dos anos 90 foi um marco para a comunidade gay. Por que hoje, nos mesmos lugares em que surgiram drags, performers e clubes GLS, falamos de gangues racistas e espancamento de homossexuais?
Vivemos um tempo de retrocesso. A causa da igualdade de direitos e deveres fica em segundo plano, por conta dessa escalada de violência. Nunca fui militante do movimento gay, mas nunca me escondi. Dizer quem eu sou, dizer que casei [Herchcovitch e Souza oficializaram uma união civil] é o meu jeito de dar exemplo. Mas, por conta dessa situação, pela primeira vez comecei a pensar em viver em outro país.

E o que pensa da discussão política em torno da lei contra a homofobia?
O que me tira do sério é essa coisa de as religiões interferirem nas leis de um país. Quando um político com quem tenho muito contato me contou que nenhuma lei que beneficie os homossexuais vai passar no Congresso, por conta das chantagens políticas feitas pela bancada evangélica, fiquei louco. Misturar política e religião é um grande erro.

Você pensa em adotar uma criança?
Eu e Fabio sempre falamos disso, mas ainda não chegamos a um acordo quanto aos prazos. Sei que um dia serei um bom pai.

"NÃO VOU ME SUICIDAR SE NÃO ESTIVER NO RANKING DOS MELHORES DA TEMPORADA"

FOLHA.com
Fashionistas e personalidades falam sobre Herchcovitch
folha.com/ultimamoda

com PEDRO DINIZ


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