São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2004

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"Em Nova York, nem a amizade é gratuita"

EMILIE GRANGERAY
DO "MONDE"

O rosto dela mostra irritação. Sentada a uma mesa diante de uma salada de endívias e um cálice de vinho branco, ela nos recebe, irritada por nossos 15 minutos de atraso, com um "vou logo avisando: dentro de meia hora tenho de ir embora".
O encontro acontece em um clube privado muito elegante, o SoHo House, que Candace Bushnell e escritores como Jay McInerney e Bret Easton Ellis, seus grandes amigos, freqüentam regularmente. Ela termina por ficar duas horas, "feliz e aliviada", diz, por encontrar alguém que não lhe pergunta a marca de seus sapatos, cabeleireiro, mas opta por julgá-la pelo que é: uma escritora.
Nascida em 1958 em Glastonbury, Connecticut, Bushnell é a mais velha de três filhas. Seu pai é engenheiro aerospacial e sua mãe, dona de uma corretora de imóveis. Após diplomar-se em jornalismo, escrevia artigos para jornais e revistas e produzia literatura. "Mas meu trabalho não era considerado comercial. Foi um período sexista, com Norman Mailer, Tom Wolfe e Don DeLillo."
Em 1994, o jornal "New York Observer" a contratou como colunista. Lá, passou a escrever sobre o que se tornaria seu tema dominante: mulheres ricas, bonitas e celibatárias que tentam se realizar em Nova York.
Dois anos mais tarde, as colunas foram reunidas num livro, "Sex and the City". Carrie, seu alter ego, observa costumes das amigas e ritos da sociedade.
"Cupido fugiu dos arranha-céus", diz. "Aqui, o amor não é importante; só o sexo." O cinismo, tingido de uma boa dose de humor alcoolizado, triunfou. O livro, traduzido em cerca de 30 países, se transformou na série de sucesso na TV. Depois de trabalhar como co-produtora na primeira temporada, Bushnell se afastou. "Se quisesse me tornar roteirista, teria de mudar para Los Angeles."
"Ser puro e inocente em Nova York, isso não existe mais. Aqui, se paga por tudo, e tudo é pago; nem mesmo a amizade é gratuita. É a natureza humana, afinal", diz. "Mas Nova York é também a cidade de todas as possibilidades; basta ser visto, reconhecido, para existir."
Por muito tempo, serviu de tema para as colunas de fofoca porque, mesmo que esteja casada com um bailarino do New York City Ballet, no passado namorou figuras conhecidas, como Bob Guccione, dono da revista "Penthouse", o ex-senador Alfonse d'Amato e Ron Galloti, editor da revista "Vogue".


Tradução Paulo Migliacci


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