São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2004

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TELEVISÃO

Fracasso de "Metamorphoses", que usou até "reality show" de cirurgia plástica, faz canal recriar novelão de época

Após piração, Record adota novela careta

LAURA MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Das cenas reais de modernas cirurgias plásticas à paisagem bucólica de uma fazenda do século 19. Das perseguições de carros envolvendo a máfia japonesa à fuga de escravos dos quilombos.
Nesta semana, a Record dá adeus -em clima de "já vai tarde"- a "Metamorphoses", fracasso de audiência. A novela foi lançada em março como "a grande revolução na teledramaturgia". A emissora propagava que a história era ousada, a tecnologia, inédita, e o esquema de produção, inovador. Deu tudo errado, e o final foi antecipado (leia ao lado).
E a "nova" estratégia da Record é optar pelo mais velho e batido folhetim de época. Para a próxima novela (estréia em 27/9, às 19h), não só escolheu "A Escrava Isaura", versão do sucesso da Globo de 1976/77, como abraçou um "pacote feijão-com-arroz". Em vez de terceirizar a produção (esquema testado em "Metamorphoses"), o canal voltou a montar um núcleo interno de teledramaturgia. Para a direção da trama, selecionou Herval Rossano, veterano na TV desde os tempos da Tupi e diretor da "Escrava Isaura" da Globo.
Da malsucedida experiência de "Metamorphoses" (que "inovou" até na grafia da palavra), ficaram só as filmagens em alta definição. A técnica, que dá à imagem qualidade de cinema, é a marca que a Record pretende imprimir ao renascimento de sua dramaturgia.
Na emissora, o diagnóstico não é exatamente de que "Metamorphoses" foi mal porque era "moderna" demais para o telespectador. Mas que, com tanta tentativa de chamar a atenção pela mudança -o que inclui a terceirização da produção-, a novela perdeu completamente o rumo e ignorou ingredientes folhetinescos indispensáveis para uma boa audiência: romance, mocinhas, heróis, vilões etc. É a receita da qual a Globo já sabe que não pode fugir.
"Novela é um bolo, um confeitado, que tem de ter todos os ingredientes: amor, ódio, a gata borralheira, a vilã. O bom tem de ser vítima em todos os capítulos, e o mau tem de fazer maldade sempre", disse o diretor Herval Rossano, em entrevista na fazenda Santa Gertrudes (180 km de SP), onde são gravadas cenas externas.
Além de "A Escrava Isaura", ele sugeriu à Record três títulos, entre eles, outro de época. A emissora decidiu pela história baseada no romance de Bernardo Guimarães, de 1875, com temática abolicionista. E, como não poderia deixar de ser, a abertura da nova versão terá a mesma música usada pela Globo. "Retirante", de Jorge Amado e Dorival Caymmi -famosa pelo refrão "lerê, lerê"- terá agora uma regravação.
A insistência na teledramaturgia é parte do plano da Record de ultrapassar o SBT e atingir a vice-liderança no Ibope -estratégia que envolve ainda o investimento em um "novo jornalismo" e o fim do "mundo cão", a contratação dos globais Márcio Garcia e Tom Cavalcante e "reality shows".
Cada capítulo de "A Escrava Isaura" custará cerca de R$ 150 mil, um pouco abaixo do parâmetro da Globo. A Record já planeja ter mais dois horários de novela, como a concorrente. Tanto investimento se justifica pela certeza de que, no Brasil, não há TV líder de audiência sem novela de sucesso.


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