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Fernanda Montenegro recita Alfred Tennyson
Com o pianista Jean Louis Steuerman, atriz sobe hoje ao palco do Municipal
No sábado, a atriz embarca para a Colômbia, onde participa de filme baseado em "O Amor nos Tempos do Cólera", de Garcia Márquez
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Versátil, Fernanda Montenegro vai de Tennyson a Garcia
Márquez em menos de uma semana. A atriz declama hoje o
poema "Enoch Arden", do autor britânico, no Municipal, e
embarca no sábado para a Colômbia, onde participa de uma
adaptação cinematográfica do
romance "O Amor nos Tempos
do Cólera", do escritor latino-americano.
"Enoch Arden" é um melodrama para narrador e piano
solo, composto pelo germânico
Richard Strauss em 1897 -um
ano depois de sua mais célebre
partitura orquestral, o poema
sinfônico "Assim Falava Zaratustra", baseado em Nietzsche.
Sua gravação mais conhecida
foi feita pelo pianista canadense Glenn Gould, com narração
de Claude Rains.
Com música fortemente expressiva, que dialoga ricamente
com a narração, e vazado no
idioma romântico tardio que
celebrizou seu autor, "Enoch
Arden" tem cerca de 50 minutos de duração e será executado
em São Paulo pela mesma parceria que o interpretou, com
êxito, em 2001, no Espaço Cultural Promon: Fernanda Montenegro e o pianista carioca radicado em Londres Jean Louis
Steuerman.
Steuerman complementa o
programa com uma execução
do "Prelúdio, Coral e Fuga", do
belga César Franck (1822-1890). Beneficente, o concerto
tem sua renda revertida para a
organização Care Brasil.
A partitura e o poema
Escrito em 1864 pelo britânico Alfred Tennyson (1809-1892), o poema conta o triângulo amoroso entre o marinheiro
Enoch Arden, sua mulher, Annie, e Philip Ray, um amigo de
infância, com o qual ela se casa
ao crer que o marido morreu
em uma longa viagem. Ele será
lido por Fernanda Montenegro
por microfone, em tradução de
Ivo Barroso, com direção cênica de Márcio Aurélio.
"Embora a tradução seja excelente, eu acho que são o Jean
Louis e a música do Strauss que
têm a primazia nisso", diz a
atriz. "É preciso que a partitura
respeite o poema, e o poema
respeite a partitura. É como se
a voz fosse também um instrumento. O poema não é declamado, ele é quase conduzido,
como se o pianista fosse um
maestro."
A música clássica está na vida
da atriz desde sua adolescência.
"Com 16 anos, eu fui para a Rádio MEC, que talvez tivesse a
maior discoteca do país, e fui
locutora durante dez anos",
lembra. "Sem modéstia, posso
dizer que, embora não toque
nenhum instrumento, meu conhecimento nessa área é profundo. Quando o trabalho permite, procuro ir a concertos e,
quando viajo, procuro às vezes
mais música do que teatro."
Vem daquela época o convívio com figuras musicais emblemáticas, como o maestro
Eleazar de Carvalho e a pianista Magdalena Tagliaferro. Com
Eleazar, ela trabalhou no programa "Música para a Juventude", que ia ao ar aos domingos de manhã.
Montenegro também foi a locutora das transmissões dos
cursos de verão de alta interpretação pianística de Tagliaferro. Ela conta que as lições da pianista acabaram ajudando,
posteriormente, na evolução de
seu trabalho de atriz.
"Tagliaferro me abriu a cabeça para os tempos dramáticos,
para a sensibilização das diversas tonalidades e para o sentimento dramático mesmo da sonoridade musical", diz.
Filme na Colômbia
No sábado, a atriz ruma para
a Colômbia, para as filmagens
de uma adaptação cinematográfica de "O Amor nos Tempos
do Cólera", de Gabriel Garcia
Márquez, com direção do britânico Mike Newell (de "Harry
Potter e o Cálice de Fogo", e
"Quatro Casamentos e um Funeral", entre outros), roteiro de
Ronald Harwood, e Javier Bardem no elenco.
Montenegro considera o roteiro adaptado bastante fiel ao
texto original de Garcia Márquez. "Esse diretor é um homem com uma visão de vida
pungente", afirma.
"Ele deverá entender que o
cólera é uma doença, como o
amor também é uma doença e,
dentro daquela cultura, eles
confundem a doença do amor
com a doença do cólera. É uma
coisa de uma viagem onírica
sul-americana: a gente vive cercado de cólera, febre amarela,
malária..."
ENOCH ARDEN
Quando: hoje, às 21h
Onde: Teatro Municipal (pça. Ramos
de Azevedo, s/nš, tel. 0/xx/11/3222-8698)
Quanto: de R$ 60 a R$ 100
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