São Paulo, terça-feira, 22 de agosto de 2006

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Gramado sabota suas próprias regras

Júri oficial do festival de cinema descumpre regulamento e concede mais prêmios do que o permitido

SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A GRAMADO

O júri da disputa nacional do 34º Festival de Gramado, encerrado no último sábado, desrespeitou o regulamento do concurso e inflou o número de prêmios. De acordo com as regras da competição, deveriam ser distribuídos no mínimo cinco e no máximo nove troféus. O júri concedeu 12.
A redução do número de categorias agraciadas com o Kikito faz parte da reforma que o Festival de Gramado tenta implementar em sua estrutura, para superar uma crise de prestígio -perde a cada ano influência no cenário cinematográfico brasileiro- e de organização -prestações de contas do uso de dinheiro público pelo festival estão sob suspeita.
"A idéia do festival como uma festa e um campeonato de filmes não funciona mais", avalia o crítico José Carlos Avellar, contratado como consultor da reformulação do festival.

Mudanças
É por causa desse princípio que o novo regulamento da disputa estabeleceu um total de cinco prêmios obrigatórios (melhor filme, direção, roteiro, ator e atriz) e, no máximo, outros quatro opcionais.
O júri teria o direito de atribuir, se julgasse necessário, também um Prêmio Especial e três outros troféus, a serem escolhidos entre as categorias de ator e atriz coadjuvantes, fotografia, montagem, direção de arte e trilha sonora. A saída para os festivais, como alternativa à formula do "campeonato de filmes", é que "se tornem parceiros da atividade cinematográfica", diz Avellar.
A partir de 2007, Gramado prevê conceder um prêmio em dinheiro para a distribuição do filme vencedor e outro para desenvolvimento de roteiro. O redesenho das características do festival está programado para ocorrer até 2008.
Porém, o júri considerou que, como os troféus Kikitos ainda são o único reconhecimento aos filmes oferecido pela organização, deveriam ser apontados vencedores em todas as categorias do regulamento (as obrigatórias e as opcionais).
"Se havia a possibilidade de dar, por que não dar? Não somos muquiranas", diz o cineasta Rodolfo Nanni, que assumiu a presidência do júri, depois que o crítico mexicano Jorge Sanchez, que ocuparia a função, faltou. Os demais membros do júri da mostra brasileira foram os diretores Alain Fresnot e Tizuka Yamasaki e o exibidor Adhemar Oliveira.
Avellar reafirma que "a intenção do festival é não espalhar um número grande de prêmios", mas contemporiza a rasteira na regra. "Na formulação do regulamento, talvez tenhamos deixado uma brecha. Houve um mal-entendido. Vamos deixar mais claro no regulamento seguinte", afirma.
Na competição latina, julgada por uma comissão presidida pelo cineasta Ruy Guerra, o limite do regulamento foi observado. O júri concedeu os cinco prêmios obrigatórios e um Prêmio Especial (a "Mezcal").
O Kikito de melhor filme brasileiro foi dividido entre as ficções "Anjos do Sol" (Rudi Lagemann) e "Serras da Desordem" (Andrea Tonacci). O documentário "Pro Dia Nascer Feliz" (João Jardim) recebeu o Prêmio Especial do Júri.


A jornalista SILVANA ARANTES viajou a convite da organização do festival



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