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Gramado sabota suas próprias regras
Júri oficial do festival de cinema descumpre regulamento e concede mais prêmios do que o permitido
SILVANA ARANTES
ENVIADA ESPECIAL A GRAMADO
O júri da disputa nacional do
34º Festival de Gramado, encerrado no último sábado, desrespeitou o regulamento do concurso e inflou o número de
prêmios. De acordo com as regras da competição, deveriam
ser distribuídos no mínimo cinco e no máximo nove troféus. O
júri concedeu 12.
A redução do número de categorias agraciadas com o Kikito faz parte da reforma que o Festival de Gramado tenta implementar em sua estrutura,
para superar uma crise de prestígio -perde a cada ano influência no cenário cinematográfico brasileiro- e de organização -prestações de contas do
uso de dinheiro público pelo
festival estão sob suspeita.
"A idéia do festival como uma
festa e um campeonato de filmes não funciona mais", avalia
o crítico José Carlos Avellar,
contratado como consultor da
reformulação do festival.
Mudanças
É por causa desse princípio
que o novo regulamento da disputa estabeleceu um total de
cinco prêmios obrigatórios
(melhor filme, direção, roteiro,
ator e atriz) e, no máximo, outros quatro opcionais.
O júri teria o direito de atribuir, se julgasse necessário,
também um Prêmio Especial e
três outros troféus, a serem escolhidos entre as categorias de
ator e atriz coadjuvantes, fotografia, montagem, direção de
arte e trilha sonora. A saída para os festivais, como alternativa
à formula do "campeonato de
filmes", é que "se tornem parceiros da atividade cinematográfica", diz Avellar.
A partir de 2007, Gramado
prevê conceder um prêmio em
dinheiro para a distribuição do
filme vencedor e outro para desenvolvimento de roteiro. O redesenho das características do
festival está programado para
ocorrer até 2008.
Porém, o júri considerou que,
como os troféus Kikitos ainda
são o único reconhecimento
aos filmes oferecido pela organização, deveriam ser apontados vencedores em todas as categorias do regulamento (as
obrigatórias e as opcionais).
"Se havia a possibilidade de
dar, por que não dar? Não somos muquiranas", diz o cineasta Rodolfo Nanni, que assumiu a presidência do júri, depois
que o crítico mexicano Jorge
Sanchez, que ocuparia a função, faltou. Os demais membros do júri da mostra brasileira foram os diretores Alain
Fresnot e Tizuka Yamasaki e o
exibidor Adhemar Oliveira.
Avellar reafirma que "a intenção do festival é não espalhar um número grande de prêmios", mas contemporiza a rasteira na regra. "Na formulação
do regulamento, talvez tenhamos deixado uma brecha. Houve um mal-entendido. Vamos deixar mais claro no regulamento seguinte", afirma.
Na competição latina, julgada por uma comissão presidida
pelo cineasta Ruy Guerra, o limite do regulamento foi observado. O júri concedeu os cinco
prêmios obrigatórios e um Prêmio Especial (a "Mezcal").
O Kikito de melhor filme brasileiro foi dividido entre as ficções "Anjos do Sol" (Rudi Lagemann) e "Serras da Desordem"
(Andrea Tonacci). O documentário "Pro Dia Nascer Feliz"
(João Jardim) recebeu o Prêmio Especial do Júri.
A jornalista SILVANA ARANTES viajou a convite da organização do festival
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