São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MÔNICA BERGAMO

bergamo@folhasp.com.br

VOVÔ NANDO

O ex-Titã grava repertório brega-chique e diz que disco novo não vende

Marcelo Justo/Folhapress
Nando Reis em sua casa, no Pacaembu

Aos 47 anos, Nando Reis vive duas novas experiências. Virou avô da Luzia, 5 meses, sua primeira neta, filha de Theodoro, 24, um de seus cinco filhos. E acaba de gravar CD e DVD em que, pela primeira vez, não é o autor das canções. "MTV Ao Vivo Bailão do Ruivão" tem clássicos de Wando ("Fogo e Paixão"), Roupa Nova ("Whisky à Go-Go"), Guilherme Arantes ("Lindo Balão Azul"), Zé Ramalho e Calcinha Preta. Zezé Di Camargo & Luciano e banda Calypso têm participações especiais. O lançamento é em novembro. Nando falou à coluna:

 

Folha - Por que um álbum com músicas de outros?
Nando Reis - Há uns dez anos fui incluindo no bis dos shows músicas de que gosto, que fazem parte da minha história. Elas são muito diferentes do meu som. A ponto de, às vezes, eu tocar, por exemplo, "Whisky à Go-Go" e acharem que era piada. Tem uma coisa cíclica também. Lancei um disco de inéditas no ano passado, com 12 músicas minhas, o "Drês". Dá um certo cansaço... cansaço não é a palavra. Não tive vontade. É desgastante. E não vende disco.

 

"Drês" vendeu quanto?
Algo em torno de 18 mil. É um pouco frustrante. Você se mata numa viagem interior profunda, intensa, que exaure. E o mercado não absorve.

 

Como você sobrevive?
De turnê. Sempre foi.

 

Não é da venda de discos? De um milhão de cópias?
Isso aconteceu uma vez na vida, com os Titãs. Mas éramos oito. E turnê é o que dá mais dinheiro. Embora parte significativa do que ganho venha de direitos autorais.

 

É a favor da mudança na lei de direitos autorais proposta pelo Ministério da Cultura?
Você quer saber se o Ecad [Escritório Central de Arrecadação e Distribuição] funciona? Acho que atende uma ponta e deixa a outra. O método utilizado é por amostragem. Ou seja, um artista que só tem uma música que toca, às vezes, não recebe. Não entendo por que não é digitalizado. Cada música poderia ter um código e, todas as vezes que uma rádio tocasse, pingava na conta do autor. O investimento deveria ser nesse sentido. E não em retórica, mudanças de lei etc.

 

Música em novela ajuda?
Muito! Nossa, nada melhor do que uma música numa novela das oito num personagem bombado. Você tá feito. Aí, é correr pro abraço.

 

Atualmente, faz quantos shows por mês?
Sei lá, de oito a dez. Tenho uma agenda boa, porque tenho um nome. E tenho um prazer imenso. Gosto e preciso. Tem um monte de gente que preciso manter.

 

E na época dos Titãs?
Bicho, variou. Quando estive lá, os Titãs tiveram dois picos de sucesso: de "Cabeça Dinossauro" [1986] a "Õ Blésq Blom" [1989]. E depois o acústico "Volume Dois" [1998]. Às vezes eram nove shows em dez dias.

 

Já foi vaiado?
Já. Muitas vezes. Por todos os motivos do mundo. Já tive vaias porque me apresentei bêbado. Fiz um show sem qualidade, e as pessoas reagiram. Quando era mais jovem, eu usava drogas e muito mais álcool. Essas coisas sempre estiveram envolvidas com a ideia de subir ao palco. E essas relações perigosas tendem ao descontrole. Isso já não acontece.

 

Como pai, como vê as drogas?
Eu acho que experimentar faz parte da descoberta do mundo. Drogas, bebida, leituras, não saber o que você é. Acho naturalíssimo, inclusive saudável. Mas meus filhos já viveram na pele o que é ver um pai em condições não muito boas. E não vou ser hipócrita de dizer que não sou quem eu sou.

 

E a neta? Foi uma surpresa?
Foi.

 

Como é ser avô aos 47 anos?
É emocionante ver minha neta, meu filho tendo um filho. Mas não digo que algo aconteceu comigo e me sinto mais velho. Não vejo a passagem do tempo em categorias: casei, fiz 40 anos, agora sou avô. Não penso assim.

 

Vocês se veem todos os dias?
Não. Uma vez por semana. Moro sozinho. E viajo muito. Vejo pouco até meus filhos.

 

E o pessoal dos Titãs?
Lamentavelmente, não. Mas a nossa relação é tão intensa, tão próxima, que encontro e parece que estive com eles ontem. Adoro aqueles caras.

 

E por que se distanciou deles?
A convivência cria um tipo de intimidade. E você não simula uma coisa que não está acontecendo mais. [Como] pretender manter assuntos com o Branco [Mello] pelo telefone quando a gente não tem mais tanto assunto.

 

Sente saudade?
Sinto saudade das pessoas que morreram. Do Marcelo [Fromer], da Cássia [Eller]. Claro que me emociono quando vejo o DVD dos Titãs. Mas a palavra não é saudade. Não tenho vontade de reviver o que já vivi.

 

Você adora futebol. O que acha de Mano Menezes?
Quando ele foi escolhido técnico, fiquei meio assim. Depois da primeira convocação da seleção, gostei. Deu sinais de estar atento à ideia de renovação, ao que acontece no futebol brasileiro e mundial. A sensação que eu tinha do Dunga é que ele valorizava muito mais os jogadores que atuavam fora do Brasil. Impliquei muito com isso.

 

Dunga foi o carrasco da Copa?
O carrasco da seleção brasileira é o Ricardo Teixeira [presidente da CBF]. Ele acha que é o dono do futebol brasileiro. A renovação deveria começar por ele se retirando do cargo. É um hipócrita. É conveniente aos interesses dele e não à realidade. Esse cara é o fim.

 

O Morumbi tem condições de receber a abertura da Copa?
Se deixarem, claro que tem. São Paulo ainda não tem um estádio definido porque o Ricardo Teixeira é inimigo do presidente do São Paulo F.C. [Juvenal Juvêncio]. E o governo de São Paulo prefere apoiar o Ricardo Teixeira ao Estado. A sensação que dá é a seguinte: "Onde é que a gente vai poder roubar mais?".

 

Copa e Olimpíada são boas para o Brasil?
Como torcedor, acho uma bosta. A sensação é que o Brasil vive de uma propaganda enganosa, de maquetes, de fachadas. Pinta a casa por fora e dentro é uma ruína. Não adianta construir uma piscina olímpica e não investir nos atletas. Acho triste.

 

Gosta de política?
Não. Detesto.

 

Faria show em comício?
Nunca. A não ser que fosse por uma questão muito revolucionária. Algum candidato que, de fato, me parecesse desafinar diante dessa boçalidade que é política, essa coisa nojenta de roubo, de escândalos, de corrupção. Apoiei o Lula em 1989. Achei que lutar contra o Collor era uma causa importante. Fiz um show para o FHC aqui contra o Jânio Quadros [na disputa pela Prefeitura de SP, em 1985]. Hoje, tudo é muito parecido. Não me identifico com nada disso.

NANDO REIS DISSE

"Já tive vaias porque me apresentei bêbado. Fiz um show sem qualidade, e as pessoas reagiram."

"O carrasco da seleção brasileira é o Ricardo Teixeira [presidente da CBF]. Esse cara é o fim."

"Apoiei o Lula em 1989. Fiz um show para o FHC aqui contra o Jânio Quadros. Hoje, tudo é muito parecido."


Reportagem LEANDRO NOMURA


Texto Anterior: Resumo das novelas
Próximo Texto: Eleição sem trilha
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.