|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
DEPOIMENTO
Proibição deveria se limitar apenas aos cachês
JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA
Sempre detestei a politização da arte, contra os cânones stalinistas da obra de arte
"engajada" e proselitista.
Mas o artista, como cidadão,
se engaja onde quiser, e muitos o fizeram corajosamente
na ditadura militar.
Na USP dos anos 70, organizei shows que serviam como forma de reunir os estudantes (numa época em que
até assembleias eram proibidas) e, antes de começar a
música, dava-lhes recados
políticos. Como fiz em alguns
memoráveis, de Milton Nascimento e de Astor Piazzolla,
feitos ao ar livre no campus
(a produção, profissional, foi
de Roberto de Oliveira).
Mais tarde, fizemos shows
pela anistia no Anhembi, no
Palmeiras, no Tuca, onde tropeçávamos nos camarins
com Chico Buarque, Fagner,
Baby Consuelo.
Na década de 80, músicos
iam aos nossos comícios do
PT (e de outros partidos). Mas
não era para ganhar dinheiro: participavam como uma
forma de engajamento.
Hoje grupos como a Força
Sindical, na tradição pelega,
contratam músicos e leiloam
carros em comícios, reduzindo trabalhadores a tietes.
Partidos endinheirados fazem o mesmo e, para os músicos, aquilo vira só um palco
para ganhar uma grana, e
não para expressar preferências políticas. Quem sabe se,
no lugar de se proibir os artistas no palanque, apenas se
proibisse que ganhassem cachês? Assim eles iriam somente àqueles que exprimissem seus ideais de cidadão.
Texto Anterior: Frase Próximo Texto: Laurentino Gomes lança continuação de "1808" Índice
|