São Paulo, domingo, 22 de agosto de 2010

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DEPOIMENTO

Proibição deveria se limitar apenas aos cachês

JOSIMAR MELO
CRÍTICO DA FOLHA

Sempre detestei a politização da arte, contra os cânones stalinistas da obra de arte "engajada" e proselitista. Mas o artista, como cidadão, se engaja onde quiser, e muitos o fizeram corajosamente na ditadura militar.
Na USP dos anos 70, organizei shows que serviam como forma de reunir os estudantes (numa época em que até assembleias eram proibidas) e, antes de começar a música, dava-lhes recados políticos. Como fiz em alguns memoráveis, de Milton Nascimento e de Astor Piazzolla, feitos ao ar livre no campus (a produção, profissional, foi de Roberto de Oliveira).
Mais tarde, fizemos shows pela anistia no Anhembi, no Palmeiras, no Tuca, onde tropeçávamos nos camarins com Chico Buarque, Fagner, Baby Consuelo.
Na década de 80, músicos iam aos nossos comícios do PT (e de outros partidos). Mas não era para ganhar dinheiro: participavam como uma forma de engajamento.
Hoje grupos como a Força Sindical, na tradição pelega, contratam músicos e leiloam carros em comícios, reduzindo trabalhadores a tietes.
Partidos endinheirados fazem o mesmo e, para os músicos, aquilo vira só um palco para ganhar uma grana, e não para expressar preferências políticas. Quem sabe se, no lugar de se proibir os artistas no palanque, apenas se proibisse que ganhassem cachês? Assim eles iriam somente àqueles que exprimissem seus ideais de cidadão.


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