São Paulo, sábado, 22 de agosto de 1998

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Acusados de balear ator mudam versão

RICARDO ZORZETTO
da Reportagem Local

Os três acusados de participar do assalto ao ator Gerson Brenner, na madrugada de segunda-feira, mudaram o teor do depoimento sobre o crime duas vezes ontem.
Por volta das 16h, Vítor Tancredo, 19, Luzimar Sabino de Jesus, 19, e Dimas Baptista, 24, que estão presos na Cadeia Pública de Mogi das Cruzes, negaram ter participado do assalto.
Tancredo, que havia confessado ter atirado no ator, disse "jamais ter atirado em alguém". Ele afirmou ter assumido a autoria do crime na noite anterior para aparecer na televisão e por ter "problemas na cabeça".
"Tem horas que não sei o que digo. Me dá um branco de vez em quando", afirmou. Tancredo alegou estar na casa de um amigo no momento do assalto.
Ao ser questionado pela reportagem por que havia confessado o crime, ele respondeu: "Confessei porque sou um burro, um idiota. Falei, mas não fiz isso. Agora vou ter de arrumar uma testemunha para me livrar."
Ele disse, inclusive, ter revelado à polícia o nome do amigo em cuja casa ele teria dormido.
Baptista disse que, na madrugada do crime, estava em companhia de sua mãe e de sua avó. Jesus afirmou estar em sua casa, na Chácara Guanabara, em Guararema, dormindo com sua mulher e suas duas filhas.
Baptista e Jesus negaram ter sido torturados para confessar. Vitor recusou-se à comentar o assunto.
Duas horas depois, os três acusados voltaram a mudar o depoimento e disseram ter participado do assalto.
Baptista e Jesus voltaram a afirmar que Tancredo seria o autor do disparo. Tancredo afirmou que o autor do disparo foi Baptista e que havia confessado por ter sido ameaçado pelos outros dois acusados.
"Eles disseram que algo ia acontecer comigo lá dentro (na cadeia)", afirmou Tancredo.
Em depoimentos prestados informalmente, os acusados disseram ter sido orientados pelo advogado Aparecido Hernani Ferreira a negar a participação no crime.
O advogado disse que os acusados haviam confessado sob tortura. Segundo Ferreira, eles teriam apanhado, tomado choques e sofrido tortura psicológica. O advogado disse que a ausência de marcas nos corpos deve-se ao fato de a "polícia saber bater".
O delegado Francisco Del Poente, da divisão de homicídios de Mogi das Cruzes, negou a tortura. "O interrogatório foi assistido por advogados e os acusados passaram por exame de corpo de delito antes e depois do depoimento", afirmou.
A polícia continua investigando a possibilidade da participação de duas outras pessoas no crime.



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