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"A CHAVE DO SUCESSO"
Spacey rouba a cena
AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS
Fala-se muito em "A Chave
do Sucesso". Aliás, diálogo é
tudo o que acontece, evidenciando a origem teatral do filme de estréia como produtor de Kevin
Spacey ("Beleza Americana"). Estreantes também são o diretor,
John Swanbeck, vindo do teatro, e
o roteirista, Roger Rueff, que trabalha a partir de sua peça inédita
"Hospitality Suite".
Originalmente intitulado "The
Big Kahuna", que poderia ser
adaptado para o português como
"O Grande Cacique", tornou-se
"A Chave do Sucesso" para se
aproximar da versão fílmica de
"Glengarry Glen Ross", estrelada
por Al Pacino e Jack Lemmon.
Foi uma boa escolha. "A Chave
do Sucesso" vai na linha dos dramas nos bastidores das grandes
corporações de David Mamet e
Neil LaBute ("Na Companhia de
Homens"), tendo Arthur Miller e
um pouco de Samuel Beckett como as grandes tradições inspiradoras. É teatro mesmo, filmado
asceticamente, num cenário único, a suíte brega de um hotel três
estrelas.
Tudo acontece numa tarde/noite. Três empregados dos Laboratórios Loderstar reúnem-se durante uma convenção da empresa. Tramam como arrastar um
grande comprador até o coquetel
que improvisam.
Seria ele, hipoteticamente, o
"big kahuna" do título, mas Kevin
Spacey rouba-lhe o papel. Seu
Larry é mais uma encarnação do
Spacey de sempre, cínico e verborrágico, agressivo e sedutor,
uma "versão satânica de Jack
Lemmon", como definiu com felicidade Elvis Mitchell em sua resenha no "The New York Times".
"Eu não fumo", diz o Larry de
Spacey para o sábio Phil de Danny
DeVito. "Você não bebe e Bob (o
estreante Peter Facinelli) não pensaria em cobiçar outra mulher.
Somados, nós três fazemos quase
um Jesus."
Spacey metralha com seguidas
tiradas como esta, certo de acelerar a identificação da platéia. Uma
inflexão nos traz o Lester de "Beleza Americana" (99), outra, o
Kint de "Os Suspeitos" (95).
Seus co-protagonistas jogam o
jogo. DeVito rouba-lhe progressivamente o solo. Nunca antes parecera tão decidido a abandonar o
figurino de comediante e assumir
o de ator dramático. É um feito e
tanto, ainda mais sabendo que assumiu o papel às vésperas das filmagens, como revelou no lançamento do filme no último Sundance Festival.
"A Chave do Sucesso" não traz
nada de muito novo. É mais um
drama sobre os dilemas rotineiros
dos subalternos, mais ou menos
pálidos. Os embates verbais giram
em torno de família e dinheiro,
sonhos e tédio, humilhações de
praxe e triunfos de ocasião.
É um filme de e para atores,
uma peça registrada pela câmera,
um espetáculo que prescinde do
espetacular. No teatro americano,
seria uma simpática montagem
off-Broadway, fonte de cenas para
testes de jovens e promissores
atores. No cinema, resulta um título a mais na cena independente,
algo superior à fraca média recente. Às vezes, não há nada melhor
para se ver.
A Chave do Sucesso
The Big Kahuna
Direção: John Swanbeck
Produção: EUA, 1999
Com: Danny DeVito, Kevin Spacey
Quando: a partir de hoje nos cines
Jardim Sul, Belas Artes, Espaço Unibanco,
Market Place e Pátio Higienópolis
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