São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 2000

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"A CHAVE DO SUCESSO"
Spacey rouba a cena

AMIR LABAKI
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Fala-se muito em "A Chave do Sucesso". Aliás, diálogo é tudo o que acontece, evidenciando a origem teatral do filme de estréia como produtor de Kevin Spacey ("Beleza Americana"). Estreantes também são o diretor, John Swanbeck, vindo do teatro, e o roteirista, Roger Rueff, que trabalha a partir de sua peça inédita "Hospitality Suite".
Originalmente intitulado "The Big Kahuna", que poderia ser adaptado para o português como "O Grande Cacique", tornou-se "A Chave do Sucesso" para se aproximar da versão fílmica de "Glengarry Glen Ross", estrelada por Al Pacino e Jack Lemmon.
Foi uma boa escolha. "A Chave do Sucesso" vai na linha dos dramas nos bastidores das grandes corporações de David Mamet e Neil LaBute ("Na Companhia de Homens"), tendo Arthur Miller e um pouco de Samuel Beckett como as grandes tradições inspiradoras. É teatro mesmo, filmado asceticamente, num cenário único, a suíte brega de um hotel três estrelas.
Tudo acontece numa tarde/noite. Três empregados dos Laboratórios Loderstar reúnem-se durante uma convenção da empresa. Tramam como arrastar um grande comprador até o coquetel que improvisam.
Seria ele, hipoteticamente, o "big kahuna" do título, mas Kevin Spacey rouba-lhe o papel. Seu Larry é mais uma encarnação do Spacey de sempre, cínico e verborrágico, agressivo e sedutor, uma "versão satânica de Jack Lemmon", como definiu com felicidade Elvis Mitchell em sua resenha no "The New York Times".
"Eu não fumo", diz o Larry de Spacey para o sábio Phil de Danny DeVito. "Você não bebe e Bob (o estreante Peter Facinelli) não pensaria em cobiçar outra mulher. Somados, nós três fazemos quase um Jesus."
Spacey metralha com seguidas tiradas como esta, certo de acelerar a identificação da platéia. Uma inflexão nos traz o Lester de "Beleza Americana" (99), outra, o Kint de "Os Suspeitos" (95).
Seus co-protagonistas jogam o jogo. DeVito rouba-lhe progressivamente o solo. Nunca antes parecera tão decidido a abandonar o figurino de comediante e assumir o de ator dramático. É um feito e tanto, ainda mais sabendo que assumiu o papel às vésperas das filmagens, como revelou no lançamento do filme no último Sundance Festival.
"A Chave do Sucesso" não traz nada de muito novo. É mais um drama sobre os dilemas rotineiros dos subalternos, mais ou menos pálidos. Os embates verbais giram em torno de família e dinheiro, sonhos e tédio, humilhações de praxe e triunfos de ocasião.
É um filme de e para atores, uma peça registrada pela câmera, um espetáculo que prescinde do espetacular. No teatro americano, seria uma simpática montagem off-Broadway, fonte de cenas para testes de jovens e promissores atores. No cinema, resulta um título a mais na cena independente, algo superior à fraca média recente. Às vezes, não há nada melhor para se ver.


A Chave do Sucesso
The Big Kahuna
   Direção: John Swanbeck Produção: EUA, 1999 Com: Danny DeVito, Kevin Spacey Quando: a partir de hoje nos cines Jardim Sul, Belas Artes, Espaço Unibanco, Market Place e Pátio Higienópolis




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