São Paulo, sexta-feira, 22 de setembro de 2000

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"Alicia en la Cama" centrifuga fantasias

DO ENVIADO A PORTO ALEGRE

A escritora e ensaísta norte-americana Susan Sontag ("O Amante do Vulcão") já encenou "Esperando Godot", de Beckett, em Sarajevo, em pleno conflito étnico em meados dos anos 90. Sabe-se que já foi assistente de Bob Wilson. Também enveredou pela dramaturgia. "Alicia en la Cama", sua peça de 90, ganhou montagem mexicana no ano passado e é uma das atrações do 7º Porto Alegre em Cena -a última apresentação acontece hoje em um galpão do shopping DC Navegantes.
Sontag toma a dramática vida da norte-americana Alice James (1848-92), a caçula entre quatro varões, entre eles o escritor Henry James e o sociólogo William James, para conceber uma obra "sobre a angústia das mulheres e sua autoconsciência".
Alice sofria ataques epilépticos desde os 13 anos. Aos 23, pediu ao pai autorização para se suicidar. Recebeu o consentimento -o pai a incentivava a se defender contra as agruras do mundo-, mas a filha não levou tal decisão adiante.
Esse conflito, a tentação de se anular, vai acompanhá-la por 20 anos, até a morte, aos 43, em decorrência de câncer. "Alicia passou boa parte da sua vida na cama, presa à sua imaginação", afirma a atriz gaúcha Clarissa Malheiros, 39, protagonista da montagem (ela atua no teatro mexicano há cerca de oito anos).
Alicia ancorou sua vida na imaginação. "Ela lia muito, escrevia compulsivamente em seus diários, criava todo um mundo externo a partir do território da sua cama, de onde controlava tudo, sempre com uma dose excessiva de emoção", diz a diretora mexicana Juliana Faesler, 35.
Sontag aproveita o universo simbólico de Alice James e a aproxima do enredo não menos fantasioso de outra Alice, a de Lewis Carroll, com seu coelho, seu relógio e outros seres do país das maravilhas. A autora foi mais longe: apropriou-se da cena da passagem do chá, de Carroll, para um encontro surreal, que acredita coerente com uma peça que especula "sobre as mulheres".
No chá de Sontag, além das Alices em questão, surgem "fantasmas", como o da jornalista norte-americana Margaret Fuller, primeira correspondente feminina na história do jornalismo em seu país, aqui no papel de Chapeleiro; e o da escritora Emily Dickinson, uma solteirona reclusa, na peça representando o Coelho.
Faesler diz ter encontrado na imagem de um carrossel a metáfora para a "louca imaginação" do texto. "É como se Alice James estivesse centrifugando a energia do mundo que a circula", afirma.


Evento: 7º Porto Alegre em Cena Quando: até dia 30 Mais informações: tel. 0/xx/51/156, serviço da prefeitura sobre o festival

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