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"Alicia en la Cama" centrifuga fantasias
DO ENVIADO A PORTO ALEGRE
A escritora e ensaísta norte-americana Susan Sontag ("O
Amante do Vulcão") já encenou
"Esperando Godot", de Beckett,
em Sarajevo, em pleno conflito étnico em meados dos anos 90. Sabe-se que já foi assistente de Bob
Wilson. Também enveredou pela
dramaturgia. "Alicia en la Cama",
sua peça de 90, ganhou montagem mexicana no ano passado e é
uma das atrações do 7º Porto Alegre em Cena -a última apresentação acontece hoje em um galpão do shopping DC Navegantes.
Sontag toma a dramática vida
da norte-americana Alice James
(1848-92), a caçula entre quatro
varões, entre eles o escritor Henry
James e o sociólogo William James, para conceber uma obra
"sobre a angústia das mulheres e
sua autoconsciência".
Alice sofria ataques epilépticos
desde os 13 anos. Aos 23, pediu ao
pai autorização para se suicidar.
Recebeu o consentimento -o pai
a incentivava a se defender contra
as agruras do mundo-, mas a filha não levou tal decisão adiante.
Esse conflito, a tentação de se
anular, vai acompanhá-la por 20
anos, até a morte, aos 43, em decorrência de câncer. "Alicia passou boa parte da sua vida na cama, presa à sua imaginação", afirma a atriz gaúcha Clarissa Malheiros, 39, protagonista da montagem (ela atua no teatro mexicano
há cerca de oito anos).
Alicia ancorou sua vida na imaginação. "Ela lia muito, escrevia
compulsivamente em seus diários, criava todo um mundo externo a partir do território da sua
cama, de onde controlava tudo,
sempre com uma dose excessiva
de emoção", diz a diretora mexicana Juliana Faesler, 35.
Sontag aproveita o universo
simbólico de Alice James e a aproxima do enredo não menos fantasioso de outra Alice, a de Lewis
Carroll, com seu coelho, seu relógio e outros seres do país das maravilhas. A autora foi mais longe:
apropriou-se da cena da passagem do chá, de Carroll, para um
encontro surreal, que acredita
coerente com uma peça que especula "sobre as mulheres".
No chá de Sontag, além das Alices em questão, surgem "fantasmas", como o da jornalista norte-americana Margaret Fuller, primeira correspondente feminina
na história do jornalismo em seu
país, aqui no papel de Chapeleiro;
e o da escritora Emily Dickinson,
uma solteirona reclusa, na peça
representando o Coelho.
Faesler diz ter encontrado na
imagem de um carrossel a metáfora para a "louca imaginação" do
texto. "É como se Alice James estivesse centrifugando a energia do
mundo que a circula", afirma.
Evento: 7º Porto Alegre em Cena
Quando: até dia 30
Mais informações: tel. 0/xx/51/156,
serviço da prefeitura sobre o festival
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