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Nova sensação do rock inglês, a imprevisível e explosiva Libertines aporta no Brasil
Guitarras suicidas
LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA
É tudo muito rápido. Se você
está atrás de uma banda de
rock favorita, mas está confuso
com tantos grupos surgindo quase todos os dias no calor da renascença das guitarras, adote logo o
Libertines.
É a banda mais explosiva surgida na Inglaterra em anos e, por isso mesmo, tem tudo para desaparecer em pouquíssimo tempo.
Comece indo atrás do excelente
"Up the Bracket", álbum do final
do ano passado, que ganha lançamento nacional pela gravadora
Trama. "Up the Bracket" é o primeiro do Libertines, que tem só
dois anos de existência, dois ótimos singles inéditos e um punhado de histórias que tem botado a
banda tanto em destaque no noticiário musical quanto no policial.
O básico que é preciso para ser
iniciado em Libertines é que a
banda é a resposta britânica aos
Strokes e também o novo Clash.
Ou o novo The Jam. Ou o novo
Buzzcocks. Ou todas as referências juntas.
Direto ao assunto, o Libertines é
um quarteto de Londres liderado
pelos talentosíssimos Carl Barat
(leia entrevista nesta página) e Pete Donerty, ambos de 20 e poucos
anos, ambos guitarristas e vocalistas, cuja forte amizade é, para o
bem e para o mal, o combustível
da fama da banda.
Quando os Strokes devolveram
graça ao rock'n'roll, em 2001, um
punhado de bons e energéticos
grupos novos vieram à superfície,
de todos os lugares, da Suécia à
Austrália, de Texas a Reikjavik.
Menos na Inglaterra, fábrica costumeira de boas bandas.
Um ano após o "advento Strokes", chegava às lojas o single
"What a Waster", a Inglaterra desencantava para o novo rock e os
olhos pops se voltavam para os
quatro garotos feios, sujos e malvados do Libertines, que não conseguiam dar uma entrevista sem
falar a palavra com a letra "f". Logo, a música seria banida das rádios inglesas pelos palavrões.
O som do Libertines tinha a
mesma verve garageira dos nova-iorquinos Strokes. Baterias aceleradas, guitarras sujas com viés
punk, melodias irresistivelmente
pop e, no caso do Libertines, um
sotaque inglês delicioso do vocalista principal, Carl Barat.
Quando "Up the Bracket" foi
lançado, com um punhado de belíssimas canções juvenis que homenageavam o punk 77, continha
traços líricos até de bandas como
Smiths e fazia correspondência
com o novo rock, o Libertines virou realidade.
A semelhança com Clash ia longe. Mick Jones, ex-guitarrista da
banda mais famosa do punk junto com os Sex Pistols, produziu o
disco de estréia do Libertines e dizia não parar de se espantar com a
semelhança entre a voz de Barat e
a do ex-Clash Joe Strummer.
Quando a fama veio, vieram
também os problemas de relacionamentos entre os inseparáveis
Barat e Doherty. Depois de sumir
durante a turnê britânica e deixar
seus companheiros sozinhos em
dia de show ou viagem, Doherty
foi expulso da banda por Barat, no
começo deste ano e às vésperas de
o grupo encarar uma tour pela
Europa. Potencial Sid Vicious da
nova geração, Doherty estava
afundado em drogas.
No meio do ano, mesmo sem
Doherty, a banda aprontou nos
EUA. Promoveu num show diante de 30 mil pessoas uma quebradeira de instrumentos e uma bagunça no backstage do festival californiano Coachella. A banda
quase passou uma temporada
forçada na América. Sem mencionar a quase-expulsão do auditório do programa do famoso entrevistador David Letterman.
Mais recentemente, enquanto a
banda se virava com guitarrista
novo, tocava no gigante Reading
Festival e lançava (18/8) mais um
espetacular single, a inédita
"Don't Look Back into the Sun",
Pete Doherty seguiu aprontando.
Foi preso em agosto por invasão
a domicílio e roubo, depois de invadir a casa de Barat durante uma
"viagem" e roubar computador,
um videocassete, CD player e livros da casa do amigo.
Na Inglaterra muitos dizem que
o tempo na prisão (foi condenado
a seis meses) possa ter salvado sua
vida de uma overdose, consequência da incursão às drogas.
Já que o futuro do Libertines é
incerto, a Rough Trade, gravadora inglesa da banda, tratou de relançar neste mês no Reino Unido
o disco de estréia do Libertines,
com a banida faixa "What a Waster" e um DVD bônus com os vídeos de "Up the Bracket", "Time
for Heroes" e "I Get Along", três
das muitas músicas boas do CD.
Mas Barat diz que o Libertines
vai ter longa vida. Pretende lançar
um disco com músicas que não
entraram na versão final de "Up
the Bracket", um álbum com material novo. E espera o amigo Doherty sair da cadeia daqui a seis
meses para reassumir o co-vocal e
a co-guitarra do Libertines.
Por ora, isso é o que se tem do
Libertines. Amanhã já pode não
ser nada disso. Ou ser muito mais.
Up the Bracket
Artista: Libertines
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 27,50
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