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São Paulo, segunda-feira, 22 de setembro de 2003

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Nova sensação do rock inglês, a imprevisível e explosiva Libertines aporta no Brasil

Guitarras suicidas

LÚCIO RIBEIRO
COLUNISTA DA FOLHA

É tudo muito rápido. Se você está atrás de uma banda de rock favorita, mas está confuso com tantos grupos surgindo quase todos os dias no calor da renascença das guitarras, adote logo o Libertines.
É a banda mais explosiva surgida na Inglaterra em anos e, por isso mesmo, tem tudo para desaparecer em pouquíssimo tempo.
Comece indo atrás do excelente "Up the Bracket", álbum do final do ano passado, que ganha lançamento nacional pela gravadora Trama. "Up the Bracket" é o primeiro do Libertines, que tem só dois anos de existência, dois ótimos singles inéditos e um punhado de histórias que tem botado a banda tanto em destaque no noticiário musical quanto no policial.
O básico que é preciso para ser iniciado em Libertines é que a banda é a resposta britânica aos Strokes e também o novo Clash. Ou o novo The Jam. Ou o novo Buzzcocks. Ou todas as referências juntas.
Direto ao assunto, o Libertines é um quarteto de Londres liderado pelos talentosíssimos Carl Barat (leia entrevista nesta página) e Pete Donerty, ambos de 20 e poucos anos, ambos guitarristas e vocalistas, cuja forte amizade é, para o bem e para o mal, o combustível da fama da banda.
Quando os Strokes devolveram graça ao rock'n'roll, em 2001, um punhado de bons e energéticos grupos novos vieram à superfície, de todos os lugares, da Suécia à Austrália, de Texas a Reikjavik. Menos na Inglaterra, fábrica costumeira de boas bandas.
Um ano após o "advento Strokes", chegava às lojas o single "What a Waster", a Inglaterra desencantava para o novo rock e os olhos pops se voltavam para os quatro garotos feios, sujos e malvados do Libertines, que não conseguiam dar uma entrevista sem falar a palavra com a letra "f". Logo, a música seria banida das rádios inglesas pelos palavrões.
O som do Libertines tinha a mesma verve garageira dos nova-iorquinos Strokes. Baterias aceleradas, guitarras sujas com viés punk, melodias irresistivelmente pop e, no caso do Libertines, um sotaque inglês delicioso do vocalista principal, Carl Barat.
Quando "Up the Bracket" foi lançado, com um punhado de belíssimas canções juvenis que homenageavam o punk 77, continha traços líricos até de bandas como Smiths e fazia correspondência com o novo rock, o Libertines virou realidade.
A semelhança com Clash ia longe. Mick Jones, ex-guitarrista da banda mais famosa do punk junto com os Sex Pistols, produziu o disco de estréia do Libertines e dizia não parar de se espantar com a semelhança entre a voz de Barat e a do ex-Clash Joe Strummer.
Quando a fama veio, vieram também os problemas de relacionamentos entre os inseparáveis Barat e Doherty. Depois de sumir durante a turnê britânica e deixar seus companheiros sozinhos em dia de show ou viagem, Doherty foi expulso da banda por Barat, no começo deste ano e às vésperas de o grupo encarar uma tour pela Europa. Potencial Sid Vicious da nova geração, Doherty estava afundado em drogas.
No meio do ano, mesmo sem Doherty, a banda aprontou nos EUA. Promoveu num show diante de 30 mil pessoas uma quebradeira de instrumentos e uma bagunça no backstage do festival californiano Coachella. A banda quase passou uma temporada forçada na América. Sem mencionar a quase-expulsão do auditório do programa do famoso entrevistador David Letterman.
Mais recentemente, enquanto a banda se virava com guitarrista novo, tocava no gigante Reading Festival e lançava (18/8) mais um espetacular single, a inédita "Don't Look Back into the Sun", Pete Doherty seguiu aprontando.
Foi preso em agosto por invasão a domicílio e roubo, depois de invadir a casa de Barat durante uma "viagem" e roubar computador, um videocassete, CD player e livros da casa do amigo.
Na Inglaterra muitos dizem que o tempo na prisão (foi condenado a seis meses) possa ter salvado sua vida de uma overdose, consequência da incursão às drogas.
Já que o futuro do Libertines é incerto, a Rough Trade, gravadora inglesa da banda, tratou de relançar neste mês no Reino Unido o disco de estréia do Libertines, com a banida faixa "What a Waster" e um DVD bônus com os vídeos de "Up the Bracket", "Time for Heroes" e "I Get Along", três das muitas músicas boas do CD.
Mas Barat diz que o Libertines vai ter longa vida. Pretende lançar um disco com músicas que não entraram na versão final de "Up the Bracket", um álbum com material novo. E espera o amigo Doherty sair da cadeia daqui a seis meses para reassumir o co-vocal e a co-guitarra do Libertines.
Por ora, isso é o que se tem do Libertines. Amanhã já pode não ser nada disso. Ou ser muito mais.


Up the Bracket
    
Artista: Libertines
Lançamento: Trama
Quanto: R$ 27,50



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