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COMIDA
Com 180 expositores, 11º Boa Mesa contrapõe cozinhas regionais
Do rústico ao contemporâneo
CRISTIANE LEONEL
DA REPORTAGEM LOCAL
A autoria de um chef se faz, antes de tudo, por sua história pessoal. É com ela que sua cozinha
ganha um tempero próprio. Algo
tão óbvio quanto essencial para
fazer a cozinha brasileira de um
Alex Atala ser um tanto diferente,
por exemplo, daquela que Mara
Salles realiza. Esse traço da arte
gastronômica, mais do que sabido, é o conceito que rege a programação da 11ª edição do Boa Mesa,
que acontece entre os dias 28 de
setembro e 1º de outubro, das 13h
às 22h, no ITM Expo.
Seguindo esse conceito, a curadora das aulas e workshops do
evento, Betty Kövesi, concebeu
uma grade em que uma mesma
cozinha regional ganha diversos
tratamentos, de acordo com a leitura de cada chef. Enquanto Francesco Carli, do restaurante carioca
Cipriani, apresenta (no dia 1º, às
17h) pratos de uma cozinha italiana mais contemporânea, como o
camarão marinado com vinho do
Porto e gengibre, Hamilton Mellão, chef do Sao, segue uma linha
mais tradicional, "rústica", como
seu curso é intitulado (e realizado
no dia 1º, às 15h15), ensinando sobre clássicos como o Macheroni
com le Sarde, prato siciliano à base de sardinha fresca.
"Tenho muitos alunos aqui que
querem imitar a cozinha de um
grande chef", conta Betty, que é
dona da escola de gastronomia
Wilma Kövesi. "Mas é preciso conhecer, antes de tudo, a trajetória
do chef, que, no caso da Mara [Salles], é uma pesquisadora. Ela fica
um mês, por exemplo, numa fazenda em Goiás só para aprender
uma buchada de bode."
Joel Ruiz, ex-chef do restaurante
Toro, confirma outra afirmação
da curadora, a de que só é possível
ser contemporâneo após passar
pelo clássico. Ele começou seus
estudos pelas tradicionais regras
francesas, em Lyon, para então
migrar para outras cozinhas. E
inovar, como mostra o programa
de sua aula que acontecerá no último dia do Boa Mesa (às 18h45).
"A gastronomia é como o balé,
começa-se pelo clássico", confirma Ruiz. A cozinha que faz contraponto à de Ruiz no evento é a
de Clô Dimet, que, aliás, assinará
um cardápio espanhol mais clássico. A aula de Clô fecha a programação no dia 1º, às 20h30.
"A Espanha faz parte da minha
história porque minha família é
toda espanhola", conta Dimet,
que, uruguaia, também trabalhou
na Espanha por cinco anos, o que
reforça a tese de que é a experiência que faz a diferença na criação
culinária.
A curadora abre algumas exceções nesta proposta que prima
pela contraposição. É o caso da
cozinha peruana, representada
apenas pela banqueteira Marisa
Guiulfo. Não muito conhecida no
Brasil, ela é considerada por Kövesi o destaque desta edição, uma
vez que pouco se sabe por aqui da
cozinha andina. E a recíproca é
verdadeira, já que Guiulfo afirma
que "la feijoada brasileña" é o que
ela entende como grande delícia
gastronômica nacional.
Projetos especiais
À parte as aulas, o Boa Mesa
planeja espaço específico para o
que acompanha o ritual que é a
gastronomia, como vinhos, cachaças e charutos. Neste ano, há,
por exemplo, um projeto especial
batizado de Boa Taça, um grande
estande fechado, criado para degustações de vinhos, onde terão
acesso os visitantes que pagarem
R$ 40, além dos R$ 20 que dá direito à visitação do evento. Outro
estande especial é o Espaço da Cachaça, que será tematizado, com
canas e alambique, e onde a bebida também poderá ser provada.
No Lounge do Charuto, destaca-se uma degustação de fumo em
narguilé no dia 30, sábado, às 19h.
O acesso ao Espaço da Cachaça e
o Lounge do Charuto é livre.
Os "estandes especiais" fazem
parte da proposta de aprimorar a
organização do evento, uma vez
que o Boa Mesa passou a sofrer algumas críticas de visitantes e até
de alguns expositores nos últimos
anos. Paula Moraes, sócia da escola de gastronomia Atelier Gourmand, acredita que o evento se
"descaracterizou muito" nos últimos tempos.
"Neste ano, pela primeira vez,
decidimos não participar do
evento, porque na última edição
foi decepcionante. A feira, que era
de gastronomia, virou um evento
de culinária [...] Eu espero, sinceramente, que o Boa Mesa recupere seu glamour."
Trajetória
Criado em 1995, o Boa Mesa foi
um evento pioneiro em São Paulo, que tinha como objetivo trazer
novidades do mercado mundial
da gastronomia num momento
em que o setor ainda estava ganhando força no país. Houve uma
expansão considerável do evento,
a começar pelo número de expositores, que não passava dos 33 na
primeira edição e, neste ano, já
são 180. As empresas participantes são as mais diversas, desde
grandes indústrias como a Sadia
até as de menor porte como a
Nonna Pasqua Alimentos, produtora de molhos para massas.
A cronista Nina Horta, que presenciou a estréia do evento, afirma que não acompanha o Boa
Mesa desde a "época do Josimar"
(Josimar Melo, jornalista e crítico
da Folha, foi o idealizador do
evento e vendeu os direitos do
Boa Mesa para a J. Eventos, empresa do Pátria Banco de Negócios, em 2000). "Eu tenho muita
preguiça de ir num lugar muito
cheio. Fico muito perdida. Mas eu
não acho ruim que o evento seja
assim: o que os organizadores do
evento podem querer senão público?" Para quem não se incomoda com multidão, vale uma visita
ao Boa Mesa, que na última edição do evento registrou mais de
38 mil visitantes, e, nesta edição,
os organizadores esperam alcançar os 40 mil.
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