|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
O texto abaixo contém um Erramos, clique aqui para conferir a correção na versão eletrônica da Folha de S.Paulo.
Mindlin começa a esvaziar biblioteca
Até fim de 2009, 20 mil títulos da coleção Brasiliana do bibliófilo começam a ser levados para prédio em construção na USP
Raridades incluem primeiro livro em que o Brasil foi mencionado, em 1507; doação será revogada se o edifício não ficar pronto
SYLVIA COLOMBO
DA REPORTAGEM LOCAL
"A gente passa, os livros ficam", as palavras do bibliófilo
José Mindlin, 94, ecoam num
dos compartimentos da imensa
biblioteca que é sua casa, no
Campo Belo, em São Paulo. Biblioteca esta que, até o final de
2009, deve ter suas estantes
parcialmente esvaziadas. Nesta
data, está previsto o início do
transporte de cerca de 20 mil
títulos, equivalentes a quase 45
mil volumes, entre coleções e
folhetos, para o edifício da Brasiliana USP, no campus da universidade, em São Paulo.
A generosa doação de Mindlin, que incluirá obras sobre o
Brasil que o ex-empresário vem
colecionando desde os 13 anos
de idade, porém, ainda depende
de um compromisso firmado
com a instituição. Se a USP não
tiver concluído, até o fim do
ano que vem, a construção de
um edifício de 20 mil m2 em
condições de armazenar a coleção, a doação será revogada.
Por conta disso, a universidade corre contra o relógio para viabilizar o projeto. Até agora, já foram reunidos cerca de
R$ 26 milhões, em meio a doações diretas ou via leis de incentivo, além de um aporte da
própria USP. Participam empresas como a Petrobras, o grupo Votorantim, a Telefônica, a
CBMM (Companhia Brasileira
de Mineração e Metalurgia,
empresa do grupo Moreira Salles). De acordo com o coordenador do projeto, o professor
István Jancksó, faltam ainda
cerca de R$ 20 milhões a serem
arrecadados para garantir o resultado da empreitada.
O prédio que abrigará a Biblioteca Brasiliana Guita e José
Mindlin (BBM) já está sendo
levantado entre os edifícios da
Reitoria e os da Faculdade de
Filosofia, Letras e Ciências Humanas. O projeto foi desenvolvido pelos escritórios Eduardo
de Almeida e Rodrigo Mindlin
Loeb, com assessoria da FAU
(Faculdade de Arquitetura e
Urbanismo). Como referências
foram utilizadas a New York
Public Library e a Biblioteca
Nacional de Paris.
O edifício também servirá
como nova sede do IEB (Instituto de Estudos Avançados),
criado em 1962 pelo historiador Sérgio Buarque de Holanda, e que contém entre seus
mais de 140 mil títulos, obras
de Mário de Andrade e Graciliano Ramos e Guimarães Rosa,
entre outros.
Entre as raridades de Mindlin que irão para a USP estão
desde o primeiro livro em que o
Brasil foi mencionado numa
coletânea de viagens de Fracanzano da Montalbodo, de
1507, que noticia a viagem de
Cabral, obras de história, periódicos, trabalhos científicos e
didáticos, álbuns ilustrados,
gravuras e edições valiosas de
grandes obras da literatura nacional, muitas primeiras impressões e volumes autografados pelos próprios autores.
Uma vez pronto o prédio e
transportados os livros -o que
está previsto para acontecer
em meados de 2010- o acesso
a essas duas coleções será aberto e irrestrito. Mais sobre o que
já foi feito e que vem por aí pode ser conferido no site
www.brasiliana.usp.br.
Paralelamente, está em curso
um processo de digitalização de
obras raras, a Brasiliana Digital.
Um piloto desta idéia já está no
ar. Trata-se do dicionário "Vocabulario Portuguez & Latino",
do padre Raphael Bluteau, do
século 18, que pode ser consultado por meio do site do IEB
(www.ieb.usp.br).
Visita do ministro
Em visita à casa do bibliófilo,
na última sexta-feira, o ministro da Cultura, Juca Ferreira,
disse que o personagem e sua
história mereceriam um documentário. "O depoimento de
quem lê é muito importante
para suprir a carência de pais
leitores no país", disse.
Com relação ao tema, Ferreira também disse que sua gestão, iniciada oficialmente no
fim de julho, pretende zerar o
número de municípios brasileiros sem biblioteca (cerca de
600) e propor a recriação de
um órgão apenas para cuidar
do tema, como o extinto Instituto Nacional do Livro. O ministro diz que quer discutir o
assunto com o presidente Luiz
Inácio Lula da Silva no próximo
encontro entre ambos.
Texto Anterior: Luiz Felipe Pondé: O vírus fascista Próximo Texto: Emmy premia "Entourage", "Damages", "House" e "30 Rock" Índice
|