São Paulo, quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Livro reúne reflexões de José Saramago

Organizado por Fernando Gómez Aguilera, volume tem depoimentos dados pelo Nobel português à imprensa

Coletânea "As Palavras de Saramago" revela a intimidade e opiniões do escritor acerca da política e da literatura


MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE SÃO PAULO

Há quase 20 anos José Saramago intriga Fernando Gómez Aguilera. O escritor e ensaísta espanhol de 48 anos conheceu o Nobel português em 1993. A partir daí já dedicou ao autor, morto em junho, aos 87 anos, uma biografia ( "José Saramago: A Consistência dos Sonhos", 2007), uma exposição e críticas literárias.
Além disso, é membro do conselho curador da Fundação José Saramago. Não satisfeito, dedicou os últimos quatro anos a vasculhar centenas de reportagens, declarações e entrevistas concedidas por Saramago para jornais e revistas de vários países, entre a segunda metade da década de 1970 e março de 2009.
O resultado está na coletânea recém-lançada "As Palavras de Saramago", reunião de frases e pensamentos. "Saramago produziu uma obra literária de altíssima qualidade e se converteu em uma das escassas referências intelectuais com alcance universal em nossa época", disse Aguilera à Folha.
O livro está dividido em três partes. A primeira é dedicada à vida íntima. A segunda tem como tema a literatura. A última traz o Saramago "cidadão", crítico do capitalismo, da globalização econômica e das desigualdades. Agrupadas em ordem cronológica, as declarações formam uma espécie de biografia de Saramago. Logo no início o autor fala de Azinhaga, aldeia em que nasceu.
No capítulo "Autorretrato", define-se como triste e de poucos sorrisos. "Sou uma pessoa com dois defeitos graves: sou um melancólico e um sarcástico." "As frases apontam chaves complementares para entender o autor em seu conjunto e para conhecer melhor sua obra", afirma Aguilera.
O livro comprova a profunda relação entre o posicionamento político e a literatura para Saramago. "Aonde o escritor vai, vai o cidadão", dizia ele. Para Aguilera, porém, são injustas as críticas, feitas nos últimos anos, de que o lado político teria sobrepujado o aspecto literário do autor.
"Nos dez últimos anos, ele escreveu livros extraordinários. Desde "O Homem Duplicado" (2002) a "Caim" (2009). O grande escritor e o cidadão comprometido conviviam sem causar dano ao outro. Eram partes do humanista que combatia a irracionalidade e a crueldade."


PALAVRAS DE SARAMAGO

SELEÇÃO Fernando Gómez Aguilera
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 53 (480 pás.)




Texto Anterior: Raio-X: Brandon Flowers
Próximo Texto: Frase
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.