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Livro reúne reflexões de José Saramago
Organizado por Fernando Gómez Aguilera, volume tem depoimentos dados pelo Nobel português à imprensa
Coletânea "As Palavras
de Saramago" revela a
intimidade e opiniões
do escritor acerca da
política e da literatura
MARCO RODRIGO ALMEIDA
DE SÃO PAULO
Há quase 20 anos José Saramago intriga Fernando Gómez Aguilera.
O escritor e ensaísta espanhol de 48 anos conheceu o
Nobel português em 1993.
A partir daí já dedicou ao
autor, morto em junho, aos
87 anos, uma biografia ( "José Saramago: A Consistência
dos Sonhos", 2007), uma exposição e críticas literárias.
Além disso, é membro do
conselho curador da Fundação José Saramago.
Não satisfeito, dedicou os
últimos quatro anos a vasculhar centenas de reportagens, declarações e entrevistas concedidas por Saramago
para jornais e revistas de vários países, entre a segunda
metade da década de 1970 e
março de 2009.
O resultado está na coletânea recém-lançada "As Palavras de Saramago", reunião
de frases e pensamentos.
"Saramago produziu uma
obra literária de altíssima
qualidade e se converteu em
uma das escassas referências
intelectuais com alcance universal em nossa época", disse Aguilera à Folha.
O livro está dividido em
três partes. A primeira é dedicada à vida íntima. A segunda tem como tema a literatura. A última traz o Saramago
"cidadão", crítico do capitalismo, da globalização econômica e das desigualdades.
Agrupadas em ordem cronológica, as declarações formam uma espécie de biografia de Saramago.
Logo no início o autor fala
de Azinhaga, aldeia em que
nasceu.
No capítulo "Autorretrato", define-se como triste e de
poucos sorrisos. "Sou uma
pessoa com dois defeitos graves: sou um melancólico e
um sarcástico."
"As frases apontam chaves complementares para entender o autor em seu conjunto e para conhecer melhor
sua obra", afirma Aguilera.
O livro comprova a profunda relação entre o posicionamento político e a literatura
para Saramago. "Aonde o escritor vai, vai o cidadão", dizia ele. Para Aguilera, porém,
são injustas as críticas, feitas
nos últimos anos, de que o lado político teria sobrepujado
o aspecto literário do autor.
"Nos dez últimos anos, ele
escreveu livros extraordinários. Desde "O Homem Duplicado" (2002) a "Caim" (2009).
O grande escritor e o cidadão
comprometido conviviam
sem causar dano ao outro.
Eram partes do humanista
que combatia a irracionalidade e a crueldade."
PALAVRAS DE SARAMAGO
SELEÇÃO Fernando Gómez
Aguilera
EDITORA Companhia das Letras
QUANTO R$ 53 (480 pás.)
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