São Paulo, quinta-feira, 22 de setembro de 2011

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Giannotti diz que busca opção ao PSDB

Em debate na Folha para lançar novo livro, filósofo que participou do governo FHC rejeita rótulo de 'tucanoide'

Professor da USP defende espaço para profundidade e reflexão na imprensa por considerar que 'a filosofia não se facilita'

DE SÃO PAULO

Em debate anteontem à noite na Folha para o lançamento do seu livro "Notícias no Espelho" (Publifolha), o filósofo José Arthur Giannotti, que participou do governo Fernando Henrique Cardoso (1995-2002) e é identificado com o PSDB, revelou estar à procura de uma alternativa ao modelo tucano.
"Nos últimos tempos me têm tomado como tucanoide, e eu estou cada vez mais desesperadamente em busca de uma outra aposta possível. E, se vocês me derem alguma razoável, eu talvez possa segui-los", declarou.
Antes de autografar o livro, no auditório do jornal, o professor emérito da USP participou de uma conversa com o professor de filosofia da Unifesp Luciano Codato e o colunista da Folha Fernando de Barros e Silva. "Notícias no Espelho" reúne textos publicados por Giannotti na Folha entre 2000 e 2010.
Embora o filósofo considere que a parte sobre política é "a mais fraca" do livro -comparada às considerações sobre juízo estético e moral-, o tema foi um dos pontos altos do debate de anteontem.
Provocado por Barros e Silva a situar o papel do intelectual em relação aos governos (devem participar ou só fazer crítica? E qual crítica?), Giannotti relembrou sua saída, em 1997, da gestão do amigo FHC, na qual integrou o Conselho Nacional de Educação. "Quando vi que o [então ministro da Educação] Paulo Renato [Souza, 1945-2011] entrava para o jogo das universidades para aprovar a Lei de Diretrizes e Bases -aceitou que cinco centros e faculdades se transformassem em universidades, inclusive algumas sem nenhum critério-, pedi demissão de uma forma meio espalhafatosa."
O filósofo -que em 2001 escreveu artigo pelo qual foi acusado de defender o fisiologismo no governo FHC- recordou ainda ter participado da fundação do PT, integrando a ala universitária do partido, sem no entanto ter feito militância. "Porque acho que não é da prática da indefinição ter a militância e aceitar o jogo da maioria/minoria."
Giannoti, 81, defendeu o diálogo da filosofia com a imprensa. Segundo o professor, "a filosofia não pode ser divulgada", mas, ao mesmo tempo, "é necessário que ela tenha uma certa presença na vida pública".
Ele comentou que quis entrar na imprensa "para exercer a prática filosófica" e que jamais pensou em formular seus textos por parâmetros de um jornalista.
Contou que amigos se queixam de que ele escreve de modo difícil. "Faço o possível para escrever da maneira mais simples. Mas uma coisa não podia perder de vista: a filosofia não se facilita", disse.
"Ou ela é uma prática conceitual, e que portanto exige um certo trabalho do leitor, ou ela simplesmente se resolve numa coletânea de opiniões que não têm nenhuma importância."
Giannotti explicou que, por isso, é contrário ao ensino de filosofia no ensino médio. "Porque você vai simplesmente transmitir algumas informações que hoje qualquer estudante [acessa] com dois ou três cliques no computador, na Wikipedia."
(FABIO VICTOR)


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