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PATRIMÔNIO HISTÓRICO
Espaço localizado em Salvador, Bahia, passa por reforma orçada em R$ 10 milhões
Santa Casa torna-se espaço artístico
CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
enviado especial a Salvador
No ano do quinto centenário da
fundação da primeira Santa Casa
de Misericórdia do mundo (em
Portugal) e do seu 450º aniversário, o edifício da Santa Casa de
Salvador começa a passar por um
completo processo de renovação.
Graças a ele, importantes obras
de arte, documentos, móveis, paramentos religiosos e prédios históricos serão restaurados e colocados à disposição do público.
O centro histórico da capital da
Bahia, que vem sendo revitalizado com êxito há anos, vai ganhar
com o projeto um portal de entrada compatível com as melhorias
realizadas no seu interior.
O local onde o primeiro prédio
da Santa Casa começou a ser
construído em 1549 marcava, segundo algumas versões, o início
da cidade de Salvador na época.
O Portal da Misericórdia, como
é chamado o projeto, é uma iniciativa da Santa Casa da Misericórdia da Bahia viabilizada graças
a um sistema de parcerias com
empresas privadas.
O custo está calculado em R$ 10
milhões. A Odebrecht S/A deu a
partida, tendo colocado R$ 500
mil e coordenado o trabalho de
captação de mais recursos.
Petrobrás, Copene, Aliança da
Bahia, Triken, Eletrobrás e Fundação Calouste Gulbenkian são
outras entidades já comprometidas com o Portal da Misericórdia.
Outras quatro empresas privadas e dois bancos estatais estão
com sua participação no projeto
praticamente acertada.
Como o processo de captação
começou em fevereiro deste ano,
logo após a desvalorização do
real, que criou ambiente de grande incerteza empresarial, os resultados, na opinião de Márcio Polidoro, diretor da Odebrecht, são
considerados excelentes.
O gestor do projeto será o Instituto de Hospitalidade, uma entidade de direito privado, sem fins
lucrativos, criada pela Odebrecht
para "promover a educação e a
cultura da hospitalidade para
aprimorar do setor de turismo".
O Instituto de Hospitalidade vai
se instalar nos andares superiores
dos prédios pertencentes à Santa
Casa e que ficam em frente a ela,
no outro lado da rua da Misericórdia. A parte térrea desses edifícios, que serão todos restaurados,
será ocupada por bares, restaurantes e casas de cultura.
Na própria Santa Casa, haverá
um museu, com exposição permanente do acervo, um arquivo, à
disposição de pesquisadores e do
público, e a igreja, aberta a todos
os que a quiserem visitar.
A Igreja da Misericórdia, atualmente deserta durante a maior
parte dos dias, é decorada com
azulejos da década de 1720, feitos
em Lisboa por Antônio de Abreu.
Entre as cenas religiosas retratadas nos azulejos está o que é considerado o único registro iconográfico existente na Bahia da Procissão dos Fogaréus, importante
cerimônia religiosa nos séculos 18
e 19, que se realizava na quinta-feira da Semana Santa.
A procissão era uma dramatização da procura de Jesus pelos judeus que o prenderam no Jardim
das Oliveiras. A participação das
pessoas era tão intensa que o governo da Bahia a proibiu em 1862
para evitar desordens.
Nas paredes laterais da capela-mor da igreja, há seis painéis de
autoria de José Joaquim da Rocha, considerado o principal expoente da Escola Baiana de Pintura, do final do século 18.
Quase todo o acervo artístico da
Santa Casa ficou parcialmente escondido durante décadas. Mas,
nos últimos anos, os administradores da instituição passaram a
permitir que fossem vistos.
Dois tocheiros de 1,85m, de madeira dourada, do século 18, por
exemplo, foram levados para uma
exposição sobre o barroco brasileiro no Petit Palais, em Paris. A
estátua de um vassalo foi para outra mostra, na Fiesp, em São Paulo. A ordem na Santa Casa baiana
agora é abrir-se.
A determinação também vale
para os documentos que desde o
século 17 foram ali acumulados.
São registros de escravos, certidões de nascimento e de óbito,
descrições e estatísticas sobre enfermidades, contas bancárias.
Tudo vai ser catalogado e digitalizado. A Participação da Fundação Calouste Gulbenkian no projeto (cerca de R$ 850 mil) tem como objetivo específico a organização dos 500 mil documentos.
O objetivo é que a parte principal do projeto (o Boulevar da Misericórdia e o Museu da Santa Casa) esteja pronta para inauguração até o final do ano que vem.
O Museu da Santa Casa será de
especial interesse para a apreciação da história da Bahia.
Uma escrivaninha usada por
Rui Barbosa, cadeira e mesa feitas
especialmente para a visita de
dom Pedro 2º ao local, retratos de
todos os provedores da Santa Casa são algumas das atrações.
Um dos princípios fundamentais do projeto Portal da Misericórdia é que ele seja auto-sustentável. O aluguel dos espaços a serem utilizados por comerciantes,
a cobrança de ingressos para atividades e visitas, pagamento pelo
uso de auditório e salões de eventos serão algumas das fontes de
renda com que o Portal contará.
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