São Paulo, sexta-feira, 22 de outubro de 2004

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SHOW

Ex-DJ convertido a jazzista, Bruno E faz apresentação hoje baseada no último disco, "Lovely Arthur", no Sesc Pompéia

Jazz pós-drum'n'bass chega aos palcos

RONALDO EVANGELISTA
FREE-LANCE PARA A FOLHA

Cercado de alguns dos melhores músicos da noite paulistana -como o trombonista Bocato e o saxofonista Márcio Negri-, o ex-DJ de drum'n'bass recentemente convertido a jazzista Bruno E estréia hoje no palco do SESC Pompéia show baseado em seu último lançamento, o álbum "Lovely Arthur", que a Trama acaba de soltar nas lojas. Segundo ele, a transição de drum'n'bass cruzado com ritmos brasileiros para um jazz moderno com influência de avant-garde e, até, pitadas de eletrônica, se deu naturalmente.
"O jazz sempre foi uma paixão minha, eu virei músico por causa disso. Mas a vida acabou me levando para outros rumos, entrei de cabeça na música eletrônica. Para se fazer jazz não basta experiência musical, tem que ter também uma certa experiência de vida. Depois que conheci Coltrane e Charles Mingus, nunca mais fui o mesmo, mas foi só depois que eu me casei, meu filho nasceu, fui morar um tempo em Londres e virei budista é que o jazz começou a acontecer na minha vida."
No disco, Bruno compôs todos os temas, que também estarão no show, e tocou um pouco de piano Rhodes e baixo elétrico, além de alguns sintetizadores e programações. No show, vai fazer sua estréia ao trompete, instrumento que vem aprendendo há dois anos. Cercado de outros seis músicos, promete um show diferente do disco e com mais improvisações, mas com a mesma "pegada". Totalmente acústica, a apresentação terá também a participação da sua mulher cantora, Patricia Marx, em uma canção.
Além de Coltrane e Mingus, ele cita nomes como Eumir Deodato, Gil Evans e Medeski, Martin & Wood entre as influências de sua nova fase, e se diz até "conservador" com certas coisas. "A música eletrônica pode ajudar o jazz, mas tem que tomar muito cuidado. É uma responsabilidade muito grande mexer em certos padrões. Já foi feita muita coisa harmonicamente dentro do jazz, e ele tem uma estrutura muito rica. Eu me preocupo muito com a organicidade do jazz, o que eu busquei foi o diálogo com a eletrônica, usando o movimento da vida de hoje, mas mantendo o que acho importante no estilo, como os timbres acústicos."
Quando perguntado se as experiências com o novo estilo indicam uma nova trilha ou se pretende voltar à música de laptop, ele diz que tem calma e quer ainda passar por muitas experiências antes de pensar em gravar mais, mas responde com segurança: "esse é o meu caminho". Depois, se empolga dizendo as possibilidades de um jazz moderno no Brasil. "Nós temos músicos muito bons aqui, que poderiam estar numa situação de muito mais representação global, como já foi, mas não conseguem por falta de estrutura. Eu acredito no jazz brasileiro, espero que meu disco possa de alguma maneira oferecer mais possibilidades para outros músicos que estão por aí."
"A grande questão para todo mundo hoje em dia é para onde vai o jazz. É claro que não vou responder isso. Meu intuito é tentar fazer uma ruptura", diz ele sobre o novo trabalho."Uma coisa que eu acho importante no meu disco é a atmosfera. O grande barato é quando a pessoa ouve e sente. O que importa é a sensibilidade, não interessa se o cara é conhecedor do jazz ou não", completa.


BRUNO E. Show do disco "Lovely Arthur. Onde: Sesc Pompéia (r. Clélia, 93, SP, tel. 3817-7700). Quando: hoje, às 21h. Quanto: de R$ 4 a R$ 12.


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