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ROMANCE/"INIMIGOS ABSOLUTOS"
Le Carré inclui Iraque em intriga de espionagem
NEWTON CARLOS
ESPECIAL PARA A FOLHA
Restaram dois velhos espiões desempregados. Na
novela anterior, "O Jardineiro
Fiel" (ed. Record), cujo relançamento coincide com o sucesso do
filme homônimo dirigido pelo
brasileiro Fernando Meirelles,
John Le Carré explora perturbações na consciência liberal do
Ocidente. Os contornos de um
novo inimigo, não mais ideológico, não mais de Guerra Fria, já
aparecem no sacrifício de uma jovem disposta a enfrentar a "globalização corporativa", um gigante farmacêutico. Em "Amigos Absolutos", as maquinações se abastecem no caixa de poderoso grupo econômico, com predominância de petróleo e armamentos. A
invasão do Iraque é forte referência.
A dupla se encaixa como uma
luva numa operação a partir da
nova máxima de que "a guerra é a
extensão do poder corporativo
por outros meios". Os dois são
mais do que conhecidos dos serviços de inteligência dos ingleses,
americanos, alemães, russos etc.
Suas fichas cobrirão de veracidade qualquer montagem que conte, por exemplo, com a experiência da CIA. Não foram "comunistas" fabricados que deram cobertura ao golpe de 1954 na Guatemala? Eisenhower confessa em
suas memórias. O aprendizado se
consolidou no correr dos anos.
Fabricar "terroristas islâmicos"
seria mera questão de adaptação
aos novos tempos, aos quais se
adapta o próprio Le Carré.
Ted parece algo fora de prumo.
Participou da radicalização no
Reino Unido nos anos 70, emigrou para a Universidade Livre de
Berlim, conviveu com anarquistas e trotskistas e conheceu o alemão Sasha, agitador radical com
enorme capacidade de liderança.
A dupla já se desencantara com o
anarquismo quando Ted foi preso
e entregue às autoridades inglesas, que o fisgaram como agente
protegido em sua incursões no
leste pelo cargo de promotor cultural do Conselho Britânico. Sasha passou-se para a Alemanha
Oriental em busca do socialismo.
Encontrou "nazistas pintados de
vermelho". Desiludido, tornou-se
agente duplo.
Heidelberg, a capital "high-tech" da Alemanha, seria alvo de
um "atentado terrorista" frustrado, com um filão de recursos de
origem árabe "identificável" e o
objetivo de quebrar o eixo franco-alemão de oposição à invasão do
Iraque. Os fracassados Sasha e
Ted caíram na armadilha convencidos de que retomavam suas antigas lutas e não com bombas ou
cartilhas de luta armada. A morte
numa montagem de "operação
antiterrorista" é o ponto final. Le
Carré é opositor ferrenho da
guerra no Iraque. Diz que "terrorista é quem tem bombas e não
tem aviões", alusão aos bombardeios aéreos contra civis.
Nega que seja um radical, mas
se confessa em estado de cólera.
Considera farinhas do mesmo saco os fundamentalismos islâmico
e americano, declara obscena a
idéia de um "modo de vida universalmente exportável", pensa
que Blair não é "poodle", mas cão
de cego de Bush, sem ele talvez os
rumos fossem outros, e define
suas reações como "atitude clássica de um verdadeiro liberal inglês".
Newton Carlos é jornalista e analista de
questões internacionais
Amigos Absolutos
Autor: John Le Carré
Tradução: Roberto Muggiati
Editora: Record
Quanto: R$ 40,90 (420 págs.)
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