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"Deixar a música foi fácil", diz cantora
Compositora afirma que foi pintora primeiro e que os atuais executivos de gravadoras gostam apenas de "golfe e pornô'
Retorno começou a ser
ensaiado há dois anos,
quando ela foi convidada
para compilar as músicas
que a influenciaram
DA ASSOCIATED PRESS, EM NOVA YORK
Joni Mitchell voltou ao foco
da atenção pública há um mês,
quando o selo Hear Music, da
Starbucks, tocou "Shine" em
6.500 cafés. Na mesma noite,
ela esteve na première em Manhattan do filme "The Fiddle
and the Drum", um balé antiguerra baseado em canções
que Joni criou com o coreógrafo Jean Grand-Maitre, do Alberta Ballet.
Em seguida, correu para o
vernissage de uma exposição de
seus trípticos, intitulada
"Green Flag Song". Focando os
temas "guerra, tortura, revolução", eles foram criados a partir
de imagens fantasmagóricas de
negativos em preto-e-branco
fotografadas de imagens do
History Channel e da CNN,
vindas de sua velha TV.
No dia seguinte, esfuziante,
reuniu-se com o pianista de
jazz Herbie Hancock, que compartilha sua crença no budismo
e na fusão de gêneros musicais,
para uma discussão livre durante um almoço com vários
escritores. Hancock acabara de
lançar "River: The Joni Letters", interpretando as canções
de Joni por meio de seu prisma
jazzístico com a ajuda de Norah
Jones, Corinne Bailey Rae, Tina Turner e a própria Joni Mitchell. O CD saiu recentemente
no Brasil, pela Universal.
A artista diz que não foi difícil
deixar a música de lado durante
boa parte dos últimos dez anos.
Ela tinha sua pintura, que podia fazer sem se preocupar com
os executivos de gravadoras.
"Hoje em dia, eles [executivos]
querem clones. Eles não gostam de música. Gostam de golfe
e pornô."
Dias de vovó
Seu álbum anterior com material novo, "Taming the Tiger", é de 1998. Depois dele, parou de compor canções e tocar
piano e violão. Cumpriu o resto
do contrato com a Warner com
os álbuns orquestrais "Both Sides Now" (2000) e "Travelogue" (2002), nos quais cantou
standards de jazz e algumas de
suas canções antigas, como
"Woodstock" e "A Case of You".
Então, afastou-se.
"Meus dias se resumiam a ser
vovó e a assistir a muita TV.
Pensava: "Será que isso vai ser o
resto de minha vida?".
Joni começou a repensar sua
decisão de desistir de fazer música em 2005, quando a Starbucks Entertainment a chamou para compilar um álbum com as gravações que mais a
haviam influenciado. Passou
seis meses revendo "tudo o que
já me emocionara muito". Desde a música erudita (Debussy)
até o jazz (Miles Davis e Billie
Holiday), passando pelo rock
(Chuck Berry) e o folk (Bob
Dylan).
"Fui pintora primeiro, mas
me deixei atocaiar pela música
-primeiramente como hobby,
para pagar pelo que eu fumava
quando cursava a escola de arte", diz, ligeiramente rouca, enquanto fuma um cigarro após
outro, hábito que desenvolveu
aos nove anos, depois de quase
morrer de paralisia infantil.
"No início, eu apenas cantava
canções folk, mas então ocorreu uma tragédia em minha vida. Tive uma filha e a entreguei
para adoção, e isso cava numa
mulher um buraco muito grande e que é difícil explicar. Eu
não tinha nenhum tostão, mas
três anos mais tarde, tinha uma
carreira e dinheiro", lembra
Mitchell, cujo primeiro álbum
saiu em 1968. "Mas não gostava
da fama. Compreendi o preço
dela quando ainda era jovem."
Seu maior sucesso comercial
aconteceu no início dos anos
1970, em álbuns como "Blue" e
"Court and Spark", mas achou
o som folk-pop demasiado restritivo para suas letras.
Então se voltou a harmonias
não-ortodoxas, jazz, world music e comentários sociais mais
contundentes, começando com
"The Hissing of Summer
Lawns", em 1975.
"Fiz cinco álbuns, quatro dos
quais elogiados, e depois, pelo
resto de minha carreira, as reações foram sempre desfavoráveis", conta a artista. "A idéia é
que você dura uma década: a artista dos anos 1960, a artista
dos anos 1970... Depois disso, a
indústria tenta eliminar você."
Desta vez, pelo menos, a indústria não conseguiu.
Tradução de
CLARA ALLAIN
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