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Robert Holl encerra ano do Mozarteum
Com o pianista David Lutz, baixo-barítono holandês interpreta "Dichterliebe", de Schumann, e canções de Rachmaninov e Tchaikovski
Holl, que já cantou alguns dos principais papéis operísticos de Wagner, mostra sua outra especialidade, o "lied", a canção romântica germânica
IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA
Ele já cantou, em Bayreuth,
alguns dos principais papéis
operísticos escritos por Wagner, mas, no Brasil, mostra sua
outra especialidade: o "lied",
termo que designa a canção romântica germânica. O baixo-barítono holandês Robert Holl,
60, encerra a temporada 2007
do Mozarteum Brasileiro, com
um dos mais refinados ciclos de
canções do romantismo: "Dichterliebe" ("O Amor do Poeta"),
de Robert Schumann (1810-1856), com textos de Heinrich
Heine (1797-1856).
"Heine foi um poeta que inspirou profundamente os compositores do século 19; Schubert e Brahms também musicaram seus versos", explica Holl,
com a autoridade de quem dá
aulas de "lied" na Universidade
de Música de Viena. "Dichterliebe conta a história da paixão
infeliz de um poeta que tenta
criar distância da mulher que
não corresponde ao seu amor."
Com acompanhamento do
pianista norte-americano David Lutz, o programa é complementado por canções de Rachmaninov e Tchaikovski, um repertório que acompanha Holl
desde a juventude.
Voz grave
"Tantos compositores russos
escreveram canções bonitas
para vozes graves, que eu acabei indo atrás disso desde estudante", conta. "E, depois, acabei me enamorando da literatura russa também."
Holl é um baixo-barítono,
termo criado no século 19 para
descrever o tipo de voz específico para alguns dos grandes papéis wagnerianos, como o Holandês ("O Navio Fantasma") e Wotan ("O Anel do Nibelungo"). O intérprete deve cantar
confortavelmente na região
mais aguda, de barítono, e, nos
graves, possuir a ressonância
própria de um baixo.
Ele foi aluno de um dos principais baixos-barítonos do século: o alemão Hans Hotter
(1909-2003), aclamado tanto
por sua desenvoltura em Wagner, como pela habilidade no
"lied". "Hotter conseguia exprimir o que quisesse cantando",
conta o ex-pupilo. "Depois de
quatro anos com ele, eu era outro cantor. Hotter abriu minha
voz, e fez com que eu conseguisse outras cores."
Cores que, para ele, são a chave da diferença entre a interpretação do "lied" e da ópera.
"A arte do canto é a mesma,
porque em Wagner também
existe grande unidade entre
poesia e música", explica. "Só
que, com orquestra, não é possível cantar de maneira tão suave, nem obter a variedade de
cores que a gente consegue ao
se apresentar com piano."
Em agosto deste ano, em
Bayreuth, ele atuou, como Gurnemanz, na reprise da polêmica produção de "Parsifal", de
Wagner, dirigida por Christoph
Schlingensief, que saturou o
palco com signos africanos.
"Havia momentos muito belos, embora eu deva confessar
que prefiro a produção anterior, dirigida por Wolfgang
Wagner, que me parece mais de
acordo com as intenções originais do compositor", diz.
ROBERT HOLL
Quando: hoje e amanhã, 21h
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio
Prestes, s/nš, tel. 0/xx/11/3223-3966)
Quanto: R$ 60 a R$ 150
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