São Paulo, segunda-feira, 22 de outubro de 2007

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Robert Holl encerra ano do Mozarteum

Com o pianista David Lutz, baixo-barítono holandês interpreta "Dichterliebe", de Schumann, e canções de Rachmaninov e Tchaikovski

Holl, que já cantou alguns dos principais papéis operísticos de Wagner, mostra sua outra especialidade, o "lied", a canção romântica germânica

IRINEU FRANCO PERPETUO
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

Ele já cantou, em Bayreuth, alguns dos principais papéis operísticos escritos por Wagner, mas, no Brasil, mostra sua outra especialidade: o "lied", termo que designa a canção romântica germânica. O baixo-barítono holandês Robert Holl, 60, encerra a temporada 2007 do Mozarteum Brasileiro, com um dos mais refinados ciclos de canções do romantismo: "Dichterliebe" ("O Amor do Poeta"), de Robert Schumann (1810-1856), com textos de Heinrich Heine (1797-1856).
"Heine foi um poeta que inspirou profundamente os compositores do século 19; Schubert e Brahms também musicaram seus versos", explica Holl, com a autoridade de quem dá aulas de "lied" na Universidade de Música de Viena. "Dichterliebe conta a história da paixão infeliz de um poeta que tenta criar distância da mulher que não corresponde ao seu amor."
Com acompanhamento do pianista norte-americano David Lutz, o programa é complementado por canções de Rachmaninov e Tchaikovski, um repertório que acompanha Holl desde a juventude.

Voz grave
"Tantos compositores russos escreveram canções bonitas para vozes graves, que eu acabei indo atrás disso desde estudante", conta. "E, depois, acabei me enamorando da literatura russa também."
Holl é um baixo-barítono, termo criado no século 19 para descrever o tipo de voz específico para alguns dos grandes papéis wagnerianos, como o Holandês ("O Navio Fantasma") e Wotan ("O Anel do Nibelungo"). O intérprete deve cantar confortavelmente na região mais aguda, de barítono, e, nos graves, possuir a ressonância própria de um baixo.
Ele foi aluno de um dos principais baixos-barítonos do século: o alemão Hans Hotter (1909-2003), aclamado tanto por sua desenvoltura em Wagner, como pela habilidade no "lied". "Hotter conseguia exprimir o que quisesse cantando", conta o ex-pupilo. "Depois de quatro anos com ele, eu era outro cantor. Hotter abriu minha voz, e fez com que eu conseguisse outras cores." Cores que, para ele, são a chave da diferença entre a interpretação do "lied" e da ópera.
"A arte do canto é a mesma, porque em Wagner também existe grande unidade entre poesia e música", explica. "Só que, com orquestra, não é possível cantar de maneira tão suave, nem obter a variedade de cores que a gente consegue ao se apresentar com piano."
Em agosto deste ano, em Bayreuth, ele atuou, como Gurnemanz, na reprise da polêmica produção de "Parsifal", de Wagner, dirigida por Christoph Schlingensief, que saturou o palco com signos africanos.
"Havia momentos muito belos, embora eu deva confessar que prefiro a produção anterior, dirigida por Wolfgang Wagner, que me parece mais de acordo com as intenções originais do compositor", diz.


ROBERT HOLL
Quando:
hoje e amanhã, 21h
Onde: Sala São Paulo (pça. Júlio Prestes, s/nš, tel. 0/xx/11/3223-3966)
Quanto: R$ 60 a R$ 150


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